Quadra de futsal (Foto: Unsplash) |
A Polícia Civil instaurou na sexta-feira da semana passada inquérito para investigar insultos verbais contra jogadoras de um time de futsal durante um torneio em Pelotas. A equipe feminina sub-13 do Esporte Clube Pelotas & Princesas do Sul, que atuava contra um time masculino da Escola JR Futsal, foi alvo de ofensas por parte da torcida nas arquibancadas.
O fato ocorreu em 3 de novembro, no Ginásio Paulista, durante a final do torneio organizado pela Liga Zona Sul de Futsal. A delegada Walquiria Meder, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Pelotas, confirmou que iniciou as apurações.
A equipe sub-13 da escola de futsal do Esporte Clube Pelotas & Princesas do Sul foi a única feminina que disputou a competição iniciada em maio e chegou à final de forma invicta. Após o início da partida, as jogadoras passaram a ser alvo de agressões verbais de alguns torcedores, pelo fato de serem meninas jogando contra meninos.
– A violência, em momento algum, partiu das crianças que jogavam contra nós e sim da torcida. Supostamente da torcida adversária – explicou Gabriela Salvador, coordenadora da equipe.
Apesar dos ataques verbais, as jogadoras continuaram na partida. A bola só parou quando torcedores atiraram água na quadra após uma cobrança de falta, mas a interrupção foi breve. Uma das meninas da equipe secou a quadra, e o jogo foi retomado. A partida terminou com a vitória por 2 a 1 da equipe masculina.
Segundo Gabriela, dos quatro árbitros envolvidos na partida, apenas um sugeriu que o jogo fosse interrompido. No entanto, após consultar os coordenadores, a decisão foi seguir com a partida. O ge entrou em contato com um dos árbitros, mas não obteve resposta até o momento.
– O árbitro, em vez de tomar uma atitude correta, ele simplesmente atravessa a quadra, pega o pano e entrega na mão da menina e manda ela secar a quadra. Isso também é uma atitude claramente machista – afirmou a coordenadora.
O episódio não foi registrado na súmula da partida, embora Gabriela tenha solicitado a correção do documento posteriormente.
Recentemente, entrou em vigor no Rio Grande do Sul a Lei Vini Jr., de autoria da deputada estadual Luciana Genro (PSOL), que estabelece um protocolo para interromper competições após episódios de racismo e homofobia.
A legislação batizada em referência ao jogador do Real Madrid e da Seleção determina que eventos esportivos devem ser interrompidos diante de atitudes discriminatórias, com medidas escalonadas, incluindo a possível interrupção definitiva do jogo caso os atos se repitam.
Repercussão na Câmara de Pelotas
O caso repercutiu nas redes sociais e motivou debates na Câmara Municipal de Pelotas, onde Gabriela e algumas atletas estiveram presentes para relatar o ocorrido. Uma jogadora de 12 anos comentou durante a sessão:
– Eu queria esquecer aquele dia. Mas eu nasci mulher e senti ao vivo a discriminação de ser mulher. Jogaram água na gente, nos chamaram de lixo, disseram que era para mim estar em casa lavando louça.
De acordo com a mãe da menina, foi difícil ter uma ideia da dimensão do ocorrido no momento da partida. Conforme seu relato, a filha ficou dias trancada no quarto depois de ouvir xingamentos.
– Foi bastante difícil lidar com essa situação, porque eu sou mulher e nós mulheres sabemos que diariamente a gente busca por espaço na sociedade. A minha filha ficou por dias trancada dentro do quarto. Ela não queria comer, ela não queria levantar. Ela não queria brincar com a irmã de um ano – disse a mãe.
Gabriela e sua equipe também conversaram com a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. A comissão ficou de acompanhar as investigações policiais e enviará ofícios à equipe de arbitragem do jogo, à empresa Brechane Arbitragem, responsável pela arbitragem na competição, à Liga Zona Sul de Futsal e à Guarda Municipal de Pelotas.
O advogado Miguel Siefert, do E.C. Pelotas, também acompanha o caso.
Nota conjunta da Brechane Arbitragem e da Liga Zona Sul de Futsal:
"Vale ressaltar que a Liga Zona Luz de Futsal e a Brechane Arbitragem não foram notificadas ou intimadas de qualquer tipo de acontecimento que porventura tenham ocorrido no dia e horário da referida partida. Estaremos à inteira disposição para prestar todos os esclarecimentos necessário às autoridades competentes, assim que venhamos a ser intimados ou notificados por parte dos mesmos. Mas será respondido apenas as autoridades competentes, se for o caso. Voltamos a ressaltar que até está data, de 2 de dezembro de 2024, não fomos notificados ou intimados para tal por qualquer órgão competente neste seguimento"
* Reportagem de Andressa Mendes
Por Redação do ge*
Porto Alegre
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