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quarta-feira, 3 de abril de 2024

Garantida na Série D de 2025, Lusa tenta virar "Real Portuguesa" e busca parceira para reconstruir Canindé

 
Estádio do Canindé, em São Paulo (Foto: Volpe Imagens/Divulgação Portuguesa)
Reconstrução. Esta é a palavra mais adequada para definir aquilo que pode ser o futuro da Portuguesa, um dos clubes mais tradicionais do futebol brasileiro e atualmente sob os holofotes com uma campanha que levou o time às quartas de final do Campeonato Paulista após um hiato de 13 anos e a conquista da vaga na Série D do Brasileirão de 2025.
Nesta entrevista exclusiva ao ge concedida no início de março, o presidente Antonio Carlos Castanheira detalhou os planos para o futuro do clube, expôs dificuldades para manter as contas e se disse otimista na missão de recolocar a Rubro-verde no lugar que lhe pertence.
– Não operamos em déficit. Pagamos em dia, mas pagamos muitos juros. Tem muito do passado. Se tirássemos todo esse legado do passado, a Portuguesa daria um bom superávit hoje. Há futuro para nós.
Mais sobre a Lusa:
Mesmo eliminada nas quartas de final do Paulistão diante do Santos, na Vila Belmiro, a Lusa vê motivos para comemorar suas recentes conquistas em campo. Fora das quatro linhas foca em dois projetos audaciosos para recuperar o prestígio de décadas passadas, se livrar do altíssimo endividamento e, sobretudo, se manter viva a médio e longo prazo
O primeiro é a cessão do terreno de 102 mil metros quadrados do Canindé para a construção de um novo clube social e uma moderna arena multiuso com capacidade para 40 mil pessoas.
– Cederemos o terreno clube por 60 ou 70 anos e, depois, o imobiliário continuaria sob a posse da Portuguesa. Quero deixar bem claro aos abelhudos de plantão que gostam de dizer que eu quero vender a Portuguesa que não é uma venda. É o uso por um tempo determinado do espaço. Esse dinheiro será utilizado para pagar a dívida. É isso. É só assim que poderemos salvar a Portuguesa.
O segundo é a transformação em SAF (Sociedade Anônima do Futebol), que receberia o nome de Real Sociedade Portuguesa de Desportos.
– Há uma negociação forte, muito bem encaminhada. Há uma clara intenção de uma SAF.
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As finanças da Lusa
Há 11 anos, a Portuguesa era uma das 20 equipes da Série A do Campeonato Brasileiro. Em dezembro de 2013, foi punida com a perda de quatro pontos pela escalação irregular do meia Heverton, na última rodada daquela temporada.
Com a decisão do STJD, a Lusa caiu da 12ª para a 17ª posição e terminou rebaixada. O Flamengo, também punido no STJD por escalação irregular, terminou em 16º, e o Fluminense, em 15º. Daí em diante, o clube colecionou outras quedas e aumentou significativamente seu endividamento.
Atualmente, a dívida da Portuguesa ultrapassa os R$ 500 milhões. Boa parte do valor reside apenas em renegociações por dívidas fiscais, trabalhistas e cíveis. De acordo com o balanço referente ao ano de 2022 - o mais recente publicado - o clube devia R$ 449 milhões apenas em acordos já homologados na Justiça.
– É difícil falar em um valor (da dívida) porque as atualizações são diárias. Quando cheguei aqui, o valor era de quase R$ 600 milhões. Fiz um acordo em 2020 com a Justiça de 286 ações trabalhistas e, até o momento, quitamos 202. O restante estamos pagando – argumenta Castanheira.
Por muito pouco, inclusive, a Portuguesa não perdeu o terreno do Canindé em anos passados. Em mais de uma oportunidade uma fatia de 42 mil m² dos mais de 102 mil m² do local foi a leilão, porém não houve compradores. Hoje, segundo Castanheira, a situação é um pouco menos grave.
– Como o clube não pagava suas dívidas, o terreno do Canindé ia a leilão. Se isso acontecesse, perderíamos a única coisa que nos restava. Eu não dei o imóvel como garantia das dívidas, o imóvel sempre foi a garantia das dívidas. Nós o perderíamos pela inadimplência. Eu entrei aqui e, como prioridade número um, fui resolver isso. Renegociei e, de forma legal, garanti a manutenção do imóvel sob posse da Portuguesa. Estamos pagando em dia nossos acordos – garante o presidente.
Segundo a LCC Auditores Independentes, responsável pelo balanço de 2022, o futuro é incerto. No relatório, os auditores explicam que os números "indicam a existência de incerteza relacionada à capacidade de continuidade operacional da Associação Portuguesa de Desportos".
"Todos nós ainda somos poucos..."
Os seguidos rebaixamentos, a debandada de patrocinadores, o cenário menos atrativo aos atletas, e a aparição nas páginas policiais aceleraram a crise financeira. Sem recursos, as gestões passadas cortaram custos e praticamente abandonaram o clube social. A consequência direta foi a debandada dos associados.
Castanheira relata que encontrou um cenário “devastador” em 2019, quando assumiu a presidência da Portuguesa pela primeira vez.
– Tinham quatro buracos com lodo, que antigamente eram piscinas. Um breu danado, mato comendo solto, tudo quebrado. A grama do estádio do Canindé estava desenhada para jogar futebol americano. Acabaram com a grama, o estádio estava sem manutenção há 16 anos, roubaram ar-condicionado, cama... Estava tudo largado aqui.
Hoje, o que resta é o estádio do Canindé, o prédio da administração e dois ginásios poliesportivos – um deles locado para a Igreja Renascer. Os outros espaços estão alugados ou foram pavimentados – como é o caso do complexo aquático – para comportarem os mais diversos tipos de festivais musicais e eventos universitários.
– A nossa bilheteria é fraca, os jogos dão prejuízo. Praticamente não temos mais sócios patrimoniais. A Portuguesa hoje tem 232 sócios pagantes. O clube já teve 90 mil sócios nas décadas de 1970 e 1980, hoje temos 232. É uma renda que não existe mais. Não posso contar com bilheteria, não posso contar com sócio patrimonial e com o nosso sócio-torcedor não conseguimos passar de mil pagantes.
Arena Canindé para o Wesley Safadão
Embora a transformação do clube social em de local para eventos tenha gerado receita, a mudança não é suficiente para resolver os problemas financeiros da Portuguesa. Hoje, os salários estão em dia, as parcelas das renegociações das dívidas também, porém os juros consomem qualquer possibilidade de investimento futuro.
Diante de mais um cenário devastador, a atual diretoria da Lusa trabalha para viabilizar o projeto de transformação do Canindé em uma moderna arena multiuso para 40 mil pessoas.
– Seria uma arena multiuso com capacidade para 30 mil ou 40 mil pessoas. A arena, pensando em dias de jogos, teria capacidade para 30 mil pessoas. O espaço para shows seria em torno de 40 mil.
Como um todo, a proposta é encontrar uma construtora interessada em derrubar o estádio, construir a arena e, simultaneamente, criar um novo clube social com a volta das piscinas. Ao fim do contrato, a Lusa retomaria a posse do terreno e seria a responsável pela administração da estrutura.
– Aqui é show mesmo, aqui é Wesley Safadão, botar todo mundo para jambrar na Portuguesa. O show do Phil Collins, do Paul McCartney vai para o Allianz Parque, aqui é o Wesley Safadão – brinca Castanheira, que garante ter pelo menos duas empresas interessadas no projeto de longo prazo.
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A Real Sociedade Portuguesa de Desportos
Para fechar a conta, Castanheira espera finalizar o projeto da SAF até o fim de sua gestão – em dezembro de 2025. Os valores, no entanto, são mantidos em sigilo.
O investidor assumiria o milionário passivo do clube e ainda aportaria uma quantia em dinheiro, que seria utilizada em investimento no futebol profissional e categorias de base. Hoje, a Lusa opera apenas com o sub-20, não oferecendo formação aos atletas das categorias inferiores (sub-17, sub-15, sub-13, sub-11, futsal...).
– O projeto se chama Real Sociedade Portuguesa de Desportos. Eu passaria o bastão e seria o CEO por um determinado tempo. O Conselho Administrativo seria profissional, o Conselho de Orientação Fiscal também seria profissional e haverá uma auditoria externa.
– Tenho todas essas pessoas, está tudo alinhado com os investidores e, inclusive, já operamos dessa forma. Teríamos uma parte técnica no CT com o futebol de base, futebol profissional e comissão técnica. Teríamos escolinhas de futebol espalhadas para captarmos novos talentos. Esse será o nosso produto – elenca o dirigente, visivelmente empolgado com a possibilidade de venda.
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Embora Castanheira diga que o investidor esteja próximo, sua identidade não é revelada. A data da venda também é uma incógnita. A princípio, o presidente aguardará a definição das vagas da Copa do Brasil 2025 para tomar uma decisão, já que a possível classificação ao torneio nacional alavancaria o valor de mercado da Lusa.
– Veja bem, a Portuguesa tinha um valor de mercado estando na Série A2 do Campeonato Paulista, hoje na Série A1. Quando começamos a falar sobre esse assunto (com os investidores), a Portuguesa estava avaliada em um determinado valor.
– O fato de termos subido de divisão e nossas contas estarem auditadas, faz com que esse valor aumente consideravelmente. Hoje, somos a 30ª marca mais valiosa do futebol brasileiro e nem vamos jogar o Brasileirão em 2024. Vou esperar mais um pouco, estrategicamente, para nos valorizarmos – finaliza o cartola.
Portuguesa se classifica pro mata-mata do paulistão após 13 anos
Leia outros trechos da entrevista com o presidente da Portuguesa:
O que representa em termos institucionais o retorno para a Série D do Brasileirão em 2025?
– Tudo. Os êxitos aconteceram. Infelizmente, caímos para o Caxias (na Série D de 2021), nos pênaltis, aqui no Canindé. Nessa segunda oportunidade na minha gestão não vamos deixar escapar. A Portuguesa vai montar o time para subir. Nós temos que subir.
Qual foi o custo da folha salarial do Campeonato Paulista?
– Custa R$ 1,2 milhão. Nesse valor tem comissão e elenco. Não é só o salário do jogador. Se você não tem o pessoal da logística, o jogador não entra em campo. Esse valor já é muito superior ao do ano passado.
E qual seria o planejamento para a folha salarial do ano que vem?
– É prematuro falar sobre isso. Antes de jogar a Série D do Brasileirão, temos que jogar o Paulistão de novo. Vamos trabalhar para construir uma situação financeira que nos ajude a fazer um Paulistão melhor do que o deste ano, temos que sofrer menos, brigar sempre para ficarmos na zona de classificação. O nosso objetivo para o ano que vem é, de novo, classificar para o mata-mata do Paulista.
No segundo semestre de 2024, a Portuguesa tem apenas a Copa Paulista no calendário. Qual o planejamento para a sequência desse ano?
– Estou pensando em ter pelo menos quatro ou cinco jogadores parrudos, experientes, para dar sustento aos 20 ou 25 que virão da base para jogar a Copa Paulista. O objetivo é contratar menos em quantidade e mais em qualidade. Espero trazer quatro ou cinco jogadores para resolver o nosso problema em 2025, mas com a base que está sendo formada.
A Copa Paulista serão então um laboratório para o Paulistão de 2025?
– Depende. Se tivermos a vaga da Copa do Brasil, talvez eu coloque o sub-20 para jogar. Mas, se eu não tiver essa vaga, vou sério para a Copa Paulista. Não posso me dar ao luxo de não brigar por essa vaga.
O Pintado permanecerá no clube?
– Não, o Pintado tem nível de time de Série A e Série B. Não dá para ter o Pintado na Copa Paulista. Mas já acertei que ele volta para o Paulistão de 2025, isso está acertado entre nós. Infelizmente, não tenho calendário para manter ele aqui no segundo semestre. É difícil, ele também pode não voltar, vai que acontece igual ao Thiago Carpini (ex-Água Santa, hoje no São Paulo) no ano passado. Tudo pode acontecer.
Qual a realidade do clube hoje?
– Eu, com muita fé, acreditei na Portuguesa. Hoje, você entra, está tudo organizado. Pavimentei esse espaço para que pudéssemos receber shows, tudo isso em meio à pandemia. A Portuguesa perdeu duas festas juninas, que é uma importante fonte de renda para o clube, e não mandamos ninguém embora. Poderia ter feito isso, estava amparado pela lei, mas não o fizemos.
– Fomos fazendo acordos e, com o núcleo que de negócios que criamos, usamos as padarias, hotéis, motéis, bares e restaurantes, supermercados para o nosso lado. Esse aqui (apontando para o produto de um determinado patrocinador) já colocamos em mais de 100 padarias, fui trazendo todos para perto da Portuguesa.
– Tenho empresas ligadas a estes comércios, monto uma rede de benefícios a eles. Conheço todos os portugueses de São Paulo (risos). Todos os donos de padaria que torcem para a Portuguesa eu conheço. Me aproveitei dessa situação, do meu networking para trazer isso ao clube. Hoje, geramos de R$ 11 milhões a R$ 12 milhões por ano de patrocínio.
A Portuguesa hoje aluga o estádio do Canindé?
– Temos evitado para preservar o gramado novo que colocamos. Temos um gramado bom, iluminação nova e estamos reformando as cadeiras numeradas. No jogo contra o Palmeiras, tivemos metade daquele setor liberado. O campo está preservado.
A receita da Portuguesa vem, portanto, basicamente dessas duas fontes?
– A Portuguesa tem o dinheiro do núcleo de negócios que eu criei, das festas que são feitas aqui e dos aluguéis de outros espaços que temos.
Quais são esses aluguéis?
– Temos a igreja e a churrascaria. O núcleo de negócios representa 50% da nossa arrecadação, as festas são 40% e o resto vem dos aluguéis.
Qual o futuro da Portuguesa?
– A base, o projeto de modernização e a SAF. A Portuguesa hoje é um time de Série A1 do Paulista, recuperamos nossa vaga no Brasileirão e estamos trabalhando pela SAF.

Por Vitória Goes* e Yago Rudá 
ge São Paulo
*Colaborou sob supervisão de Diego Ribeiro

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