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terça-feira, 23 de maio de 2023

Federação anula expulsão de Vinicius Junior e fecha setor de estádio do Valencia

Vinicius Junior reclama de racismo por parte da torcida do Valencia (Foto: Getty Images)
O Comitê de Competição da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) puniu o Valencia com o fechamento de um setor do estádio Mestalla. A entidade disciplinar vai fechar a arquibancada "Mario Kempes", onde estavam os torcedores racistas apontados por Vinicius Junior, por cinco jogos. O órgão ainda tornou sem efeito o cartão vermelho contra o brasileiro.
O Comitê também multou o Valencia em 45 mil euros (R$ 241 mil). Cabe recurso da decisão, que deve ser apresentado nos próximos 10 dias. Em comunicado horas depois, o clube evidenciou seu "total desacordo e indignação pela injusta e exagerada sanção".
— O Valencia CF quer denunciar publicamente que a resolução apresenta provas que contradizem o que diz a Polícia Nacional e LaLiga. Além disso, essa sanção se baseia em provas que o clube não pôde ver e sem nos dar os trâmites da audiência.
A decisão pela sanção é a primeira após nove denúncias prévias de racismo contra Vinicius Junior nos últimos anos na Espanha. O relato da súmula, com o adendo dos insultos registrados no jogo, e a grande repercussão do caso levaram à punição.
Na decisão, o Comitê relata os fatos ocorridos no momento em que decidiu identificar os racistas na arquibancada. O documento descreve os xingamentos recebidos pelo atacante brasileiro.
— Vinicius apontou um dos torcedores na arquibancada Mario Kempes e disse: "me chamou de macaco", fazendo gestos com as mãos. Enquanto isso acontece, outros cânticos são proferidos, entre eles "Madridistas filhos da puta". Um torcedor grita "Puta negro, é um idiota", "Me cago em seus mortos, filho da puta", "Vinicius idiota", "Puta negro filho da puta", "Vinicius cachorro, filho da puta", "macaco, você é um puta macaco".
"O Comitê de Competição considerou que: os cânticos que incitem a violência e manifestem desprezo contra pessoas por sua origem racial constituem infrações muito graves, desde o ponto de vista jurídico, intoleráveis e condenáveis".
O documento divulgado pelo Comitê de Competição descreve outros momentos em que Vinicius foi insultado. Vídeos das redes sociais e exibidos pela imprensa espanhola mostram que o brasileiro recebeu ataques racistas antes da partida e em outros setores do estádio. No entanto, o órgão decidiu fechar apenas um setor do Mestalla.
Anulação da expulsão
Ao justificar a anulação do cartão vermelho de Vinicius Junior, o órgão criticou a postura do árbitro de vídeo Iglesias Villanueva, que foi retirado do Campeonato Espanhol.
"A decisão do VAR foi determinada pela omissão da totalidade do lance, o que viciou a raiz da decisão da arbitragem, e de uma parte importante", diz o Comitê.
A decisão deixa Vinicius Junior livre para atuar nas últimas três partidas do Real Madrid na temporada: contra Rayo Vallecano, nesta quarta, no Santiago Bernabéu, diante do Sevilla, no próximo sábado, fora de casa, e frente ao Athletic Bilbao, na última rodada, em Madri.
A 36ª rodada do Campeonato Espanhol teve início nesta terça com uma série de ações em campanhas contra o racismo. Em todas as partidas, jogadores das duas equipes se juntam e exibem uma faixa da nova campanha: “Racistas, fora do futebol”. A ação foi feita por LaLiga, em conjunto com o Conselho Superior de Esportes (CSD) e a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF).
Vinicius Junior foi vítima de mais uma manifestação racista na disputa de uma partida do Campeonato Espanhol no último domingo, diante do Valencia, no Estádio Mestalla. O brasileiro acusou parte dos torcedores anfitriões de chamá-lo de "macaco" aos 24 minutos do segundo tempo, quando o time da casa vencia o Real Madrid por 1 a 0.
Após permanecer parado por alguns minutos, depois da denúncia de Vinicius, o jogo foi retomado pelo árbitro Ricardo de Burgos. Na reta final do confronto, o atacante brasileiro acabou expulso depois de uma discussão com o goleiro Mamardashvili - que virou uma confusão generalizada, na qual Vini chegou a levar um mata-leão de Hugo Duro, e reagiu com o braço direito, que atingiu o atleta do Valencia.
Vinicius deixou o campo aplaudindo a decisão da arbitragem ironicamente, e, ao fim da partida, usou as redes sociais para se manifestar, indicando que a expulsão foi "um prêmio por sofrer racismo". E, mais uma vez, criticou a direção de LaLiga, afirmando que a entidade "acha normal os casos", usando o slogan da competição "Não é futebol, é LaLiga". Vini afirmou que "vai até o fim contra os racistas", deixando em aberto a chance de deixar o futebol espanhol.
Antes disso, o técnico Carlo Ancelotti, na entrevista logo depois do jogo, fez questão de se manifestar e condenar os insultos racistas contra Vinicius, destacando que "não queria falar de futebol" após os episódios no Mestalla. E chegou a dizer que "algo está muito errado nesta liga".
CBF e clubes brasileiros saem em defesa de Vini
Horas depois do incidente, o presidente de LaLiga, Javier Tebas, que já havia discutido com o brasileiro através das redes sociais recentemente, voltou a se posicionar com críticas contra o jogador. O dirigente afirmou que Vini "precisa se informar", acusando o atleta de não se apresentar quando solicitado.
Vinicius retrucou e afirmou que Tebas, em vez de criticar os racistas, foi às redes sociais para atacá-lo. E que não era amigo do dirigente para conversar sobre racismo, mas sim desejaria ver "ações e punições". No dia seguinte, o presidente de LaLiga voltou às redes sociais para rebater Vini Jr, dizendo que "nem a Espanha nem LaLiga são racistas", e que não permitiria que "a imagem da competição fosse manchada".
Também na manhã de segunda-feira, o Real Madrid se posicionou publicamente condenando o episódio de racismo contra Vinicius Junior no Mestalla. O clube afirmou que acionou a Procuradoria-Geral do Estado, denunciando crime de ódio e discriminação. O presidente Florentino Pérez também se encontrou com o jogador para tratar do tema, e, horas depois, uma nova nota oficial do Real criticou a Federação Espanhola e os árbitros.
O presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, demonstrou apoio público a Vinicius Junior e criticou duramente Javier Tebas, dizendo que o brasileiro deveria "ignorar o comportamento" do presidente de LaLiga.
O Valencia também veio a público para dizer que banirá os autores dos insultos racistas contra Vinicius. O Ministério do Esporte da Espanha, através da Comissão Permanente contra Violência, Racismo, Xenofobia e Intolerância - responsável por punir os atos racistas no esporte - iniciou a análise dos vídeos do incidente no Mestalla.
No Brasil, a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, veio a público para condenar os gritos racistas contra Vini Jr, dizendo estar em contato com autoridades da Espanha para tomar providências. O presidente Lula, em discurso no Japão, também manifestou solidariedade publicamente ao jogador do Real Madrid.
Vinicius Junior voltou a se manifestar no dia seguinte ao episódio em Valencia, divulgando um vídeo nas redes sociais no qual relembrou os casos em que foi vítima de racismo por parte de torcidas de clubes da Espanha. E voltou a pedir punições para os culpados, afirmando que "comunicados não funcionam mais".
Na terça-feira, em Valencia, três torcedores foram detidos, acusados de insultos racistas a Vini Jr no duelo do último domingo, mas logo liberados. Em Madri, a polícia espanhola prendeu quatro suspeitos de pendurarem um boneco vestido com a camisa de Vinicius Junior em uma ponte da capital, antes de clássico contra o Atlético, em janeiro.

Por Redação do ge 
Madri, Espanha

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