Torcida do Irã chora e vibra em vitória que traz esperança de união ao país: "Todos somos Mahsa" - Esporte do Vale

Ultimas

Esporte do Vale

O Portal de Esportes do Vale do Sabugi

test banner

Post Top Ad

Responsive Ads Here

Ads

Responsive Ads Aqui 2

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Torcida do Irã chora e vibra em vitória que traz esperança de união ao país: "Todos somos Mahsa"

População do Irã vai às ruas de Teerã para vibrar com vitória contra o País de Gales (Foto: Atta Kenare/AFP)
O que significa uma vitória em Copa do Mundo? Para o Irã, que chegou apenas à sua terceira na história ao vencer o País de Gales nesta sexta-feira, é muito mais que três pontos. Do que a esperança de passar de fase pela primeira vez. É a possibilidade de união de um povo em meio à revolução. E é gratidão, especialmente das mulheres.
A catarse dos milhares de iranianos que foram ao Ahmad Bin Ali tem justificativa. Eles cantaram incessantemente o nome do país em todo o jogo e foram premiados aos 52 e 54 minutos do segundo tempo contra os galeses. Nas tribunas de imprensa, jornalistas vibravam e até choraram com o que viam.
O jornalista Amir Kiarash é nascido em Teerã, mas vive na Romênia desde 1992. Ele se mudou para o país europeu com a família quando tinha 18 anos. E, desde 1993, não retorna para evitar o serviço militar obrigatório por dois anos. Sua única forma de retornar ao Irã é torcer pela seleção. E ele chorou com o que viu no 2 a 0 contra o País de gales.
“Minhas lágrimas foram por isso. Estamos em uma situação que não podemos cantar o hino para apoiar a seleção. Porque esse hino representa esse regime, e somos contra esse regime”, disse Amir.
– Mas temos a nossa seleção. Sei que todos aqui amam a seleção. As pessoas com essa camisa mudam. Essa camisa é sagrada. Para mim, a seleção é uma das últimas coisas que me conectam ao meu país. Sempre que vejo esse time jogar, me sinto orgulhoso. Chorei muito. Normalmente eu seguro.
A festa nos arredores do Ahmad Bin Ali foi com muita dança, cantoria e uma alegria que há muito tempo os iranianos não sentem. Especialmente as mulheres. Elas se sentem gratas aos jogadores da seleção, que deram demonstrações públicas de apoio aos protestos no país.
– Eles nos apoiaram muito. Significou muito para nós, especialmente hoje e nesses dias. Porque nós estamos vivendo tempos difíceis. Essa vitória foi realmente um presente de Deus para nós. Especialmente para as mulheres – disse a torcedora Masuma, que nasceu no Catar, mas é de origem iraniana.
Uma torcedora iraniana que mora em Londres e acompanha o time no Catar adotou o mesmo discurso. Ela vislumbra um pequeno sopro de euforia para quem tem sofrido muito nos últimos meses.
– Quero ver os iranianos cheio de energia. Essa união novamente. Botar tudo para trás, o que está acontecendo no Irã, não importa qual bandeira você carrega, apenas aproveitar essa união. Ser apenas um Irã.
Quando a reportagem do ge perguntou pelo seu nome, ela não hesitou.
“Meu nome é Mahsa. Todos somos Mahsa”, disse ela, em referência à jovem morta pela polícia iraniana.
Volta olímpica e apoio após silêncio no hino na estreia
Extasiados pela vitória, o time iraniano se viu na necessidade de agradecer a todos os torcedores que foram ao Ahmad Bin Ali. Caminharam pelo gramado do estádio dando palmas para aqueles que permaneceram e reconhecidos até pelos galeses. Deram quase uma volta olímpica. O que seria justo, dado o tamanho do simbolismo do triunfo.
Uma das torcedoras presentes, contudo, ressaltou que os protestos continuarão na última rodada do Grupo B. Ela não quis se identificar, mas afirmou que resolveu apoiar a equipe nesta sexta-feira justamente por conta do silêncio dos jogadores no momento do hino nacional na primeira rodada, também em sinal de protesto.
- Nós apenas apoiamos os jogadores de futebol porque eles se recusaram a cantar o hino nacional no último jogo, então as pessoas mudaram de ideia para apoiá-los neste jogo. Mas ainda somos contra o governo e avançamos fortemente com nosso movimento.
Entenda o caso de Mahsa Amini
O Irã vive a maior onda de protestos no país desde 2009: milhares de pessoas estão nas ruas pelos direitos das mulheres iranianas. O estopim foi a prisão e morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos.
Masha foi detida capital Teerã após violar as regras iranianas sobre o uso de hijab, o lenço tipicamente islâmico que cobre a cabeça das mulheres. A polícia afirma que ela sofreu um infarto e não resistiu, porém, há denúncias que Masha teria sido atingida propositalmente na cabeça por um cassetete. Imagens da jovem desfalecendo na unidade policial foram divulgadas e revoltaram a população. A jovem ficou em coma, mas não resistiu.
O primeiro grande protesto aconteceu após o funeral de Masha, na cidade de Saqqez, no oeste do Irã. Nos protestos, as mulheres assumiram e ainda assumem grande protagonismo. Muitas andam com a cabeça descoberta, assim como Masha.
As manifestações, com o passar do tempo, tomaram proporções gigantescas. O que começou por uma demanda de justiça por Masha e o direito das mulheres agora atinge novas exigências por mais liberdade. Existe, inclusive, grupos de cidadãos que querem a deposição do estado iraniano. Entre os manifestantes, é possível ver inclusive diversas bandeiras do império iraniano, extinguido nos anos 1980 após a revolução islâmica.
Recentemente, o governo iraniano autorizou que manifestantes sejam condenados à pena de morte. A primeira pessoa a receber a punição não teve seu nome divulgado, mas no último dia 14 de novembro, foi punida por "perturbar a ordem e a paz da comunidade e cometer um crime contra a segurança nacional". As denúncias contra o manifestante também incluem "ser inimigo de Deus" e "destruição internacional". O atual governo iraniano é descendente da revolução islâmica de 1979.

Por Daniel Mundim 
GE Doha

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será publicado em breve após ser analisado pelo administrador

Publicar anúncio principal

Responsive Ads aqui