Jota Júnior no Maracanã, em 2018, prestigiando jogo do Flamengo (Foto: Acervo pessoal / Jota Júnior) |
O posicionamento da diretora de Responsabilidade Social do Flamengo, Ângela Machado — atacando os nordestinos por meio de um post nas redes sociais logo após o resultado das eleições presidenciais, no último domingo —, ainda está dando o que falar. E parece que não será esquecido tão fácil. O último desdobramento do caso foi protagonizado por um sócio-torcedor do clube, o advogado José Josevá Leite Júnior, que entrou com uma ação contra Ângela, denunciando-a por racismo.
Mais conhecido como Jota Júnior, o autor da denúncia é nordestino, mora em Monteiro, interior da Paraíba e é torcedor do Flamengo, inclusive fazendo parte do quadro de sócios do clube. Em conversa com a reportagem do ge, o advogado de 49 anos se mostrou indignado com o posicionamento de Ângela Machado, que é também esposa do presidente do Fla, Rodolfo Landim.
Na última segunda-feira, horas depois de consumado o resultado das eleições presidenciais que apontou Luiz Inácio Lula da Silva como novo presidente eleito no Brasil, Ângela Machado postou o seguinte texto em seu Instagram:
"Ganhamos onde se produz, perdemos onde se passa férias. Bora trabalhar porque se o gado morrer, o carrapato passa fome", dizia a publicação da diretora de Responsabilidade Social do Flamengo.
A frase se refere à vantagem que Lula obteve no Nordeste. Foram 69,34% dos votos na região, enquanto Jair Bolsonaro ganhou nas outras regiões. Jota Júnior entende que o comentário da dirigente rubro-negra denota preconceito contra os nordestinos e se enquadra em crime de racismo.
— O que mais me chocou foi essa postagem da esposa do presidente do Flamengo, onde ela ataca o povo nordestino. A mensagem dela no Instagram repercutiu nacionalmente e, no meu entendimento, ela cometeu crime de racismo. Porque racismo não é só contra cor, racismo também é termo pejorativo contra povo, contra raça. E, como advogado, acabei ingressando na Justiça, pedindo providências nesse sentido. Entrei com uma notícia-crime perante o Ministério Público, para que se apure, que se faça uma denúncia contra ela na Justiça, para que ela pague pelo possível crime que ela cometeu — pontuou.
Eu sou sócio do Flamengo, sou nordestino e sou advogado. Isso me feriu, como vêm me ferindo várias postagens nas redes sociais atacando os nordestinos. E a gente tem que ter um basta. Estou vendo poucas providências nesse sentido por parte da Justiça"
— Jota Júnior, paraibano torcedor do Flamengo.
Apontado há decadas como dono da maior torcida do Brasil, o Flamengo possui um grande número de adeptos para além das fronteiras do Rio de Janeiro e da região Sudeste. De acordo com uma pesquisa realizada pelo O Globo/Ipec, divulgada no último mês de julho, quase metade da torcida do Flamengo está no Nordeste. Na região, que é a segunda mais populosa do Brasil, com 57,6 milhões de pessoas, de acordo com o IBGE, o Rubro-Negro é mencionado por 25,2% dos torcedores como seu clube do coração, algo em torno de 14,5 milhões.
Os números são expressivos e, muito por isso, Jota Júnior afirmou que falas com viés preconceituoso como a de Ângela, mas que são reproduzidas à exaustão por torcedores e até dirigentes de muitos outros clubes do país, precisam de um basta. O desejo do advogado é que a Justiça tome as devidas providências o mais breve possível.
— Ela não respeitou a torcida do Flamengo, que, fora do Rio de Janeiro, tem sua maioria no Nordeste. E isso tem que ter um basta. Então foi essa a minha posição, como nordestino. Como torcedor do clube eu não gostei de uma posição que uma diretora do Flamengo tomou. Entrei na Justiça para que sirva de exemplo, para que outras pessoas das regiões Sul e Sudeste que estejam porventura nos atacando saibam que não pode ser assim. Que a Justiça coíba, que a Justiça tome as devidas providências — finalizou.
Por Pedro Pereira e Cadu Vieira
GE João Pessoa
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