Política, talento e doping: a história do Haiti na Copa de 1974 - Esporte do Vale

Ultimas

Esporte do Vale

O Portal de Esportes do Vale do Sabugi

test banner

Post Top Ad

Responsive Ads Here

Ads

Responsive Ads Aqui 2

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Política, talento e doping: a história do Haiti na Copa de 1974

Imagem: Bundesarchiv Bild, via Wikipedia
Durante os quase 30 anos do regime da família Duvalier à frente do Haiti, de 1957 a 1986, o futebol teve papel importante na construção de uma imagem positiva. Em especial, a seleção local.
Foi um período bastante emblemático, a começar pela estética. Nesta época, os Duvalier trocaram as cores nacionais do Haiti, do vermelho e azul para o vermelho e preto. Os uniformes da seleção, é claro, acompanharam a troca.
No futebol, o responsável pelas novidades no Haiti era um homem à beira do gramado: o técnico Antoine Tassy. Ex-jogador da seleção local na década de 1950, Tassy assumiu o time em 1965, após passagens discretas pelas seleções da Jamaica e do próprio Haiti. Chegou a deixar o cargo em poucos meses, mas voltou em 1966. E aí deu início à era de ouro que levaria o Haiti a uma Copa do Mundo em 1974.
Antoine Tassy foi o principal responsável por uma geração de jogadores que mostrou talento em campo, como o zagueiro Ernst Jean-Joseph, os meio-campistas Jean-Claude Désir e Philippe Vorbe e os atacantes Emmanuel Sanon e Guy Saint-Vil. Em 1969, com ele, os haitianos eliminaram os Estados Unidos e se classificaram para a disputa a Copa das Nações da Concacaf, a atual Copa Ouro, mas perderam a vaga por um motivo inusitado: tentaram inscrever os jogadores depois do prazo.
Ainda assim, aquela geração colecionou bons resultados. Nas eliminatórias da Concacaf para a Copa de 1970, o Haiti passou por Guatemala e Trinidad & Tobago na primeira fase, eliminou os EUA na segunda fase (em jogos que valeram pelas eliminatórias da Copa das Nações da Concacaf de 1969) e só caiu na terceira fase, no duelo com El Salvador que definiria a classificação. Cada time venceu um jogo na fase final, e El Salvador avançou graças a uma vitória por 1 a 0 na prorrogação do terceiro jogo em outubro de 1969.
Nos anos seguintes, o Haiti se tornou a grande potência das Américas Central e do Norte. Na Copa das Nações da Concacaf, foi vice-campeão em 1971 e campeão em 1973. O torneio de 1973, por sinal, foi disputado no próprio Haiti e valeu vaga na Copa do Mundo de 1974.
Assim, nas eliminatórias para a Copa de 1974, os haitianos não deram chance para a concorrência: passaram primeiro por Porto Rico com uma vitória por 12 a 0 no placar agregado de dois jogos, depois lideraram o hexagonal que dava ao campeão a vaga no Mundial a ser disputado na Alemanha Ocidental.
Curiosamente, a campanha da classificação foi conduzida pelo técnico italiano Ettore Trevisan, graças a um acordo entre os governos de Itália e Haiti. Passada a classificação, Antoine Tassy voltou ao cargo.
Na Copa do Mundo, o Haiti ficou no Grupo 4, ao lado de Argentina, Itália e Polônia. E mesmo perdendo os três jogos, chegou mostrando a que veio. Na estreia, abriu o placar diante da Itália com um gol de Emmanuel Sanon no primeiro minuto do segundo tempo. Depois, os italianos viraram para 3 a 1 com gols de Gianni Rivera, Romeo Benetti e Pietro Anastasi.
Folha de S. Paulo, 11 de junho de 1974 (Imagem: Reprodução)
Aquele jogo em 15 de junho foi marcado por questões extracampo importantes. Primeiro: no mesmo dia, com o apoio de uma organização antifascista italiana, era inaugurada em Roma uma exposição com detalhes sobre os horrores do regime dos Duvalier no Haiti. Segundo: Ernst Jean-Joseph foi flagrado em um exame antidoping.
O zagueiro alegou ter recebido remédios para asma, mas o médico da equipe negou. Posteriormente, Jean-Joseph admitiu ter usado estimulantes à base de femetrazina e acabou suspenso. Foi o primeiro jogador da história das Copas do Mundo suspenso por doping.
O caso fez explodir a crise na seleção haitiana. O vice-presidente da Federação Haitiana de Futebol, Acedius St. Louis, era um militar muito próximo do então presidente do país, Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc. Furioso, St. Louis determinou que Ernst Jean-Joseph fosse levado para fora da concentração da equipe, espancado e detido em um hotel. Posteriormente, foi embarcado em um voo de volta ao Haiti.
Mas a história não acabou aí. Ernst Jean-Joseph conseguiu fazer com que a história chegasse à imprensa graças à ajuda de Kurt Renner, uma espécie de representante diplomático do comitê organizador da Copa do Mundo junto à seleção do Haiti. Surpreendentemente, os dirigentes então decidiram afastar Renner das funções.
Nos jogos seguintes, o Haiti foi presa fácil: perdeu por 7 a 0 para a Polônia e por 4 a 1 para a Argentina. Antoine Tassy chegou a ter a demissão noticiada ainda na Alemanha – entre os motivos, pelo caso de doping de Ernst Jean-Joseph e por não ter atendido a um telefonema de Baby Doc depois de ter ido se deitar no hotel da delegação. No entanto, permaneceu na função até 1976, sendo substituído por Sepp Piontek.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será publicado em breve após ser analisado pelo administrador

Publicar anúncio principal

Responsive Ads aqui