Foto: André Durão |
A estrondosa goleada por 7 a 1 e a consequente classificação do Flamengo diante do Tolima significou também um marco na história da Libertadores -- e não necessariamente positivo. Pela primeira vez, a fase de quartas de final será composta por times de apenas dois países. Até agora são cinco brasileiros (Corinthians, Palmeiras, Atlético, Flamengo e Athletico-PR) e dois argentinos (Talleres e Vélez Sarsfield). Amanhã, na cidade de La Plata, o confronto entre Estudiantes e Fortaleza define a última vaga.
O duopólio argentino-brasileiro, com a balança pendendo fortemente para o lado de cá da fronteira, é reflexo óbvio da disparidade financeira em relação ao restante do continente. A falta de equilíbrio já havia ficado evidente na composição das semifinais dos últimos anos (nos últimos cinco anos, o Barcelona de Guayaquil foi o único clube fora de Brasil e Argentina a se intrometer entre os quatro melhores, em 2017 e 2021) e agora manifesta-se ainda numa instância anterior. Mesmo países que conseguiam furar a bolha nos últimos anos ficaram pelo caminho, como Equador e Paraguai.
Esse predomínio de Brasil e Argentina entre os oito melhores do continente já havia ameaçado acontecer em 2018, e só não ocorreu porque na ocasião o Colo Colo eliminou o Corinthians nas oitavas de final. A conformação do futebol continental mudou velozmente nos últimos anos, na velocidade das caixas registradoras.
Para fins de ilustração, em 2016 nada menos que seis países estavam representados a essa altura do torneio continental: Brasil (Atlético-MG e São Paulo), Argentina (Rosário Central e Boca Juniors), Colômbia (Atlético Nacional), México (Pumas), Equador (Independiente del Valle) e Uruguai (Nacional). Não por acaso, também foi o ano que consagrou o último campeão fora de Brasil e Argentina -- o Atlético Nacional, que disputou uma final hoje impensável contra o Independiente del Valle.
São apenas seis anos, mas a diferença no campo faz parecer seis décadas. Recuperar o equilíbrio não é uma tarefa simples, e talvez nem interesse à Conmebol, que obviamente não vê com maus olhos os clubes ricos desfilando em seu principal torneio (ou produto), ainda que essa discrepância de representatividade em relação aos demais países possivelmente resulte na perda de interesse (e audiência) no restante do continente e na desvalorização da própria Libertadores.
Uma saída óbvia seria diminuir o número de vagas (que hoje é excessivo) de Brasil e Argentina, mas daí teria de combinar com os russos -- no caso os próprios brasileiros e argentinos, que por motivos óbvios não estão exatamente incomodados com o atual estado das coisas. Enquanto isso, o torneio que homenageia os libertadores segue uma lógica que exclui grande parte da América do Sul.
Por Douglas, ge.globo
Porto Alegre
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