Jogadores da Macedônia do Norte comemoram vitória sobre a Itália (Foto: Reuters) |
Um país de 1,8 milhão de habitantes, com área menor que a do estado de Alagoas, terá nesta terça-feira a chance de garantir uma vaga na próxima Copa do Mundo.
A missão é difícil, pois a Macedônia do Norte enfrentará Portugal, do craque Cristiano Ronaldo, fora de casa, em jogo único. Porém, derrubar gigantes não é mais novidade para uma seleção cuja primeira partida oficial aconteceu há 28 anos, mas que, nos últimos 12 meses, derrotou Alemanha e Itália, sempre longe de casa.
Relação íntima com a Itália
De todas as grandes seleções da Europa, talvez a Itália fosse aquela mais propícia para que a Macedônia do Norte conseguisse surpreender e derrotar de forma épica. Afinal, a história do futebol no pequeno país dos Bálcãs, que fazia parte da antiga Iugoslávia, é profundamente relacionada com o calcio. A começar pelo carrasco da Azzura.
O autor do gol da vitória por 1 a 0 sobre a Itália na última quinta-feira fez carreira na Itália. Mais ainda: durante cinco anos, o atacante Trajkovski atuou no mesmíssimo estádio La Favorita, pelo Palermo. Ironias da bola.
- Isso é para a minha família e para toda a Macedônia - disse Trajkovski após a vitória histórica.
Foi na Itália também que o maior jogador da história da Macedônia do Norte fez carreira. Goran Pandev, de 38 anos, está atualmente no Parma, mas foi revelado pela Inter de Milão e passou por clubes como Lazio, Napoli e Genoa. Após 122 jogos e 38 gols pela seleção, aposentou-se na Eurocopa disputada em 2021.
Os sinais de evolução
O torneio continental, aliás, foi o primeiro sinal de evolução da Macedônia do Norte. A Euro foi a estreia da seleção em grandes torneios. A campanha não empolgou, com três derrotas no grupo com Holanda, Áustria e Ucrânia, mas a experiência foi importante.
Pouco antes da Eurocopa, em março de 2021, outro sinal havia sido dado. Mesmo jogando fora de casa, a Macedônia do Norte derrotou a Alemanha por 2 a 1, pelas eliminatórias da Copa. Pandev estava em campo e marcou um dos gols.
- Pandev é nosso jogador mais conhecido, mas este time tem mostrado que temos outros jogadores capazes também. O time mostrou sinais de evolução nos últimos anos com Pandev, e isso continuou mesmo depois de ele se aposentar - contou o jornalista Aleksandar Zlateski.
Ex-república da Iugoslávia
Apesar de jamais ter sido protagonista no futebol europeu, a Macedônia do Norte tem uma história rica. Como parte da Iugoslávia, colaborou com atletas importantes nas décadas passadas para uma seleção que sempre esteve entre as principais do Velho Continente.
Antes de Pandev, o maior jogador do país foi Darko Pancev, um centroavante que fez história pelo Estrela Vermelha, campeão europeu em 1991. Naquele mesmo ano, Pancev ganhou a Chuteira de Ouro da Europa, como maior artilheiro do continente.
A guerra de separação da Iugoslávia, deflagrada logo em seguida, impediu a continuidade da seleção iugoslava, que foi eliminada da Eurocopa de 1992 como punição, em processo similar ao que aconteceu com a Rússia na atualidade, após a invasão à Ucrânia.
Com o fim da Iugoslávia, surgiu a Macedônia do Norte. Não sem polêmica: o nome do país não era reconhecido pela Grécia, que alegava que a verdadeira Macedônia é a região no norte grego, lar histórico do antigo reino comandado por Alexandre, o Grande.
Por conta disso, a seleção iniciou sua carreira internacional sob o curioso nome de Antiga República Iugoslava da Macedônia. A disputa só foi em resolvida em 2018, quando um acordo com a Grécia fez com que o país passasse a se chamar Macedônia do Norte.
Rivais da região estão à frente
A seleção do país fez seu primeiro jogo em outubro de 1993, uma vitória por 4 a 1 sobre a Eslovênia, outro país recém-nascido dos escombros iugoslavos. Estrela maior do futebol local, Pancev ainda conseguiu disputar seis jogos pela Macedônia do Norte, entre 1993 e 1995.
Se o talento existe na Macedônia do Norte, a estrutura ainda está distante de permitir que a seleção consiga voos mais altos. Principalmente em comparação com seleções de outros países da antiga Iugoslávia, como Sérvia e Croácia, atual vice-campeã do mundo.
- As principais coisas são dinheiro, organização e infraestrutura. A Sérvia e, especialmente, a Croácia estão muito à frente de nós. Nossa liga doméstica é um desastre absoluto, a estrutura é mínima e há muito pouco dinheiro investido no futebol. Isso é um grande problema. A menos que isso mude, não teremos como manter nosso sucesso. A geração atual mostrou que é boa, mas conforme envelhece, será difícil sustentar estas performances no futuro - analisou Zlateski.
A atual geração segue uma tradição da anterior: está intimamente ligada à Itália. O principal nome é o meia Eljif Elmas, de 22 anos, que atua no Napoli. Outro destaque é o meia Enis Bardhi, que joga no Levante, da Espanha.
Apesar deste talento ofensivo, o grande trunfo da Macedônia do Norte vem sendo a defesa. Foi assim que o time conseguiu segurar uma Itália que, se finalizou mais de 30 vezes, em apenas cinco conseguiu de fato acertar o gol. A expectativa é de que, contra Portugal, nesta terça-feira, a estratégia se mantenha.
- A estratégia será similar: ser compacto defensivamente e dificultar que Portugal consiga passar pela marcação. Será importante não sofrer um gol no início do jogo. Defender bolas paradas é algo crucial. Portugal ainda é o grande favorito, mas temos que fazer Portugal trabalhar duro. Vejo um caminho para outra surpresa - completou Zlateski.
Portugal e Macedônia do Norte se enfrentam nesta terça-feira, às 15h45 (de Brasília), no estádio do Dragão, no Porto. Quem vencer estará classificado para a Copa do Mundo. Em caso de empates, haverá a disputa de prorrogação e, se necessário, pênaltis. O ge acompanhará a partida em Tempo Real.
Por Felipe Schmidt
GE Rio de Janeiro
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