Bastidores de uma CBF em crise: após sucessivos escândalos, entenda articulação que vai eleger o novo presidente até 2026 - Esporte do Vale

Ultimas

Esporte do Vale

O Portal de Esportes do Vale do Sabugi

test banner

Post Top Ad

Responsive Ads Here

Ads

Responsive Ads Aqui 2

segunda-feira, 21 de março de 2022

Bastidores de uma CBF em crise: após sucessivos escândalos, entenda articulação que vai eleger o novo presidente até 2026

Após sucessivos escândalos, CBF elege novo presidente até 2026 (Foto: Lucas Figueiredo / CBF)
Ricardo Teixeira renunciou ao cargo de presidente da CBF em 2012 e foi substituído por José Maria Marin, que acabou preso em 2015 e sucedido por Marco Polo Del Nero, banido pela Fifa em 2018. Del Nero escolheu seu sucessor, Rogério Caboclo, que não terminou seu mandato por denúncias de assédio sexual e moral contra funcionários.
Essa sequência levou o presidente da Fifa, Gianni Infantino, a fazer o seguinte comentário em uma conversa recente com dirigentes brasileiros em Abu Dhabi, durante a disputa do último Mundial de Clubes:
– Falam muito bem do futebol brasileiro dentro de campo. Mas quando falam da CBF, as pessoas fecham o nariz.
Entre os que ouviram a frase, está Ednaldo Rodrigues, baiano, de 68 anos, que na próxima quarta-feira será eleito – por ser candidato único – para comandar a CBF por um período de quatro anos.
Com a chapa endossada por 26 das 27 federações estaduais e por 37 dos 40 clubes das Séries A e B, Ednaldo Rodrigues vai assumir a presidência com o desafio de tirar a CBF de uma longa crise.
Influência de Del Nero
Documentos e depoimentos obtidos pelo Esporte Espetacular ao longo dos últimos meses revelam que Marco Polo Del Nero, banido do futebol por 20 anos, continua participando de um grupo de WhatsApp com os presidentes das federações estaduais – e do qual Ednaldo Rodrigues também faz parte. Del Nero foi procurado pela reportagem, mas não quis comentar.
Em agosto do ano passado, Marco Polo também teve participação direta na escolha de Ednaldo como preside interino da CBF, posto que ele vai ocupar até quarta-feira, quando será eleito para um mandato de quatro anos.
No dia 2 de novembro de 2021, um documento foi registrado em cartório pelo agora ex-presidente Rogério Caboclo e por Antonio Carlos Nunes, um dos oito vices da CBF. Eles contestavam a maneira como Ednaldo foi escolhido para presidir interinamente a CBF. Um trecho do documento:
– A escolha ocorreu em reunião na casa do senhor Marco Polo Del Nero banido de atividades relacionadas do futebol, às vésperas da tomada do cargo de maneira ilegal por vossa senhoria, sendo que tal reunião foi convocada de forma ilegítima, intempestiva e para local onde jamais poderia ocorrer e produzir efeitos jurídicos. Portanto, não passou de um encontro secreto e espúrio que supostamente elegeu aquele que assumiria a presidência interina da CBF.
Ednaldo Rodrigues era um dos oito vice-presidentes na chapa de Rogério Caboclo, que venceu a última eleição na CBF e assumiu o poder em 2019. Outro dos vice-presidentes era Gustavo Feijó, que nos últimos meses se tornou o maior opositor de Rodrigues. Ele ainda tenta, na Justiça, impedir a realização da eleição na próxima quarta-feira.
Feijó afirma que a escolha de Ednaldo Rodrigues como presidente interino em agosto de 2021 foi tomada numa reunião no apartamento de Marco Polo Del Nero, na Barra de Tijuca, no Rio de Janeiro.
– Eu sei na realidade quem é o candidato do Marco Polo e como ele atua ainda nos bastidores da CBF, com provas. O presidente Ednaldo foi colocado lá numa reunião da qual eu participei, dentro da sua própria casa.
Ednaldo nega e apresenta outra versão.
A história é diferente. Foi uma reunião do Conselho de Administração, por todos os vices, que referendam a escolha do meu nome. Isso aconteceu aqui na sede da CBF – declarou.
Três semanas atrás, a CBF realizou uma Assembleia Geral para redefinir suas regras eleitorais, algo que foi acertado num TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) entre a confederação e o Ministério Público do Rio de Janeiro.
Dias antes dessa reunião, que seria decisiva para o processo eleitoral da entidade, Marco Polo Del Nero também deu demonstrações de sua influência.
Ele enviou a seguinte mensagem por WhatsApp para um presidente de federação estadual, que pediu para não ser identificado (AG, no texto abaixo, significa Assembleia Geral):
– Tenho dito a vcs que o maior interesse nosso é a AG para resolver o problema estatutário, sendo importante nessa AG do dia 7 pv ser mantido o peso de 3 votos em favor das federações. Esse é o tema que já repisei a vc e ao Ednaldo, que rapidamente convocou a AG para esse desiderato. Pra mim esse é o assunto principal. 
De acordo com o dicionário, "desiderato" significa "o que se deseja".
O dirigente de federação estadual responde:
– Obrigado presidente pela atenção de sempre. Estamos juntos.
No dia 7, o desejo de Del Nero foi atendido. A Assembleia Geral manteve o peso 3 para o voto de cada uma das federações, peso 2 para os clubes da Série A e peso 1 para os clubes da Série B. Assim, as federações conseguem decidir sozinhas as eleições, já que somam 81 votos, contra 60 dos clubes.
– Não tem veracidade. Tudo foi construído com as federações, com os clubes, de uma forma democrática. Inclusive na véspera da assembleia geral, um domingo, com todas as 27 federações, no auditório do hotel, conversamos bastante, mostramos todas as situações que poderiam acontecer.
Algumas semanas antes, no dia 21 de fevereiro, o carro usado por Ednaldo Rodrigues esteve no condomínio de Marco Polo Del Nero. Três dias depois, a CBF suspenderia Rogério Caboclo de maneira definitiva. Rodrigues não nega que tenha estado no local, mas afirma que o resultado dessa votação foi construído sem interferências externas.
Para se ter uma ideia de como anda tenso o clima na CBF, existe a suspeita de invasão às contas de e-mail da entidade. Peritos particulares contratados pela confederação encontraram sinais de que houve violação de e-mails, inclusive de Ednaldo Rodrigues. A CBF pediu à Polícia Civil do Rio para investigar o caso.
Aumento nos salários das federações
Desde que Ednaldo Rodrigues assumiu a presidência interina da CBF, em 25 de agosto de 2021, os presidentes das 27 federações – que têm o poder de decidir sozinhos uma eleição – ganharam sucessivos aumentos no salário que recebem da confederação.
Contracheques obtidos pela reportagem mostram que pelo menos dez presidentes tiveram seus salários aumentados de R$ 20 mil mensais para R$ 50 mil e depois para R$ 70 mil mensais. No fim ano passado, tiveram direito ao bônus que a CBF paga para seus funcionários e diretores. Assim, faturaram R$ 160 mil em outubro, R$ 195 mil em novembro e R$ 215 mil em dezembro. Ao longo do ano, faturaram R$ 860 mil brutos.
Havia outro grupo de presidentes, que começou o ano ganhando R$ 40 mil mensais. Eles também tiveram seus salários aumentados para R$ 70 mil. Ao fim do ano, também receberam bônus. Pelo menos um integrante deste grupo faturou R$ 952,5 mil brutos em 2021.
O presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Rubens Lopes, não recebeu esse pagamento entre janeiro e setembro. Porém, nos três últimos meses do ano, foi recompensado: R$ 300 mil em outubro, R$ 315 mil em novembro e R$ 175 mil em dezembro. Total de R$ 790 mil em 2021.
Rubinho, como é chamado, não recebia o valor porque esta é uma verba de representação da CBF. A justificativa para receberem é que os presidentes devem representar os interesses da CBF nos estados. Rubinho, no entanto, é do Rio, onde a confederação tem sede e já é representada.
Antigo aliado de Ricardo Teixeira, o presidente da FERJ faz parte da chapa de Ednaldo Rodrigues na eleição da próxima quarta-feira. Ele é um dos oito vice-presidentes – e é o mais velho, portanto o que está em primeiro na linha sucessória da confederação.
Procurado, Rubens Lopes afirmou que suas relações com a CBF "sempre foram institucionais, rigorosamente de acordo com o estatuto da entidade, com o respectivo Código de Ética e com amparo legal". Afirmou ainda que "todos os vice-presidentes da CBF e presidentes de federação, de forma equitativa, gozam das mesmas prerrogativas".
Gustavo Feijó, atual vice da entidade, acusa Ednaldo Rodrigues de aumentar o salário dos presidentes das federações com fins eleitoreiros.
– Se você passa a [presidente] interino, e sabe que vai ter eleição… E você dá a eles [eleitores] algum tipo de aumento, é porque algum interesse eleitoral pode existir.
Entre os dirigentes que tiveram seu salário multiplicado nos últimos meses estão Felipe Omena Feijó, presidente da Federação de Alagoas e filho de Gustavo Feijó. Felipe recebeu R$ 860 mil ao longo de 2021 – deste total, R$ 560 mil concentrados nos últimos três meses do ano.
Felipe Feijó, procurado pela reportagem, não quis comentar. Seu pai afirma que o filho vai devolver o dinheiro para a CBF.
– Olha, foi uma questão que foi até de muito debate entre mim e ele. Eu acredito que ele esteja com esses recursos para devolver à entidade. Porque ele naquele momento me explicou que não queria sair de X-9. Se ele devolvesse, iria prejudicar os 13 presidentes que não iriam ali concordar muito com isso.
Ednaldo Rodrigues nega que a manobra de aumentar o salário dos presidentes das federações tenha algum fim eleitoral. Ele afirma que, quando assumiu a entidade, havia diferenças de remuneração entre os presidentes – e agiu para extinguir as diferenças.
Diversidade e seleção mais perto
Ednaldo Rodrigues sabe que assume a CBF após uma sequência de escândalos. Diz que hoje o mundo inteiro vê a entidade de forma triste, “até repugnante”, e evoca a figura de Gianni Infantino tapando o nariz ao se referir à CBF. O futuro presidente afirma que pretende “construir uma página alegre no futebol brasileiro”.
O dirigente promete atacar a falta de diversidade em cargos de chefia na entidade. E afirma que, pela primeira vez na história, a CBF terá mulheres em sua diretoria.
Eu sou vítima de preconceito. Tenho orgulho do meu estado, da cidade onde nasci, Vitória da Conquista, e orgulho, acima de tudo, de ser um negro. Agora, um negro independente que tem suas convicções. Também é uma meta nossa modificar isso [falta de diversidade]. Modificar não só com diretoria, mas principalmente com colaboradores. Você pode ter certeza que o que nós pretendemos fazer é exatamente quebrar muitos paradigmas que reinavam até agora. Nós vamos ter também mulheres em nossa diretoria. 
O futuro presidente da CBF também reconhece que a seleção brasileira está distante do torcedor. E faz planos para resolver esse problema:
 – Existe realmente um afastamento muito grande da seleção brasileira para com o torcedor. Isso em grande parte por conta dos jogos que a CBF sempre... ela tem um contrato que deve vencer agora em 2022 que é exatamente os jogos do Brasil sempre serem fora do Brasil. E isso afastou muito o torcedor da Seleção. Portanto, vamos procurar fazer com que a seleção esteja mais com o seu torcedor. 

Por Gabriela Moreira, Leslie Leitão e Martín Fernandez
GE

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será publicado em breve após ser analisado pelo administrador

Publicar anúncio principal

Responsive Ads aqui