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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Vasco completa um ano sob gestão de Salgado com poucas promessas cumpridas e fracassos no futebol

Jorge Salgado, presidente do Vasco, na sua cerimônia de posse (Foto: Jorge Perci/ Vasco)
A gestão de Jorge Salgado completa um ano nesta terça-feira - a posse ocorreu em 22 de janeiro, mas o Vasco considera a contagem a partir da rerratificação do presidente três dias depois, no dia 25. Os primeiros 12 meses do clube sob o comando de Salgado foram marcados por poucas promessas cumpridas e fracassos no futebol.
Como a temporada 2020 terminou em fevereiro de 2021, o Vasco que caiu para a Série B já tinha Jorge Salgado como presidente. O dirigente tomou posse no dia 22 de janeiro, quando o Brasileiro estava na rodada 32. No entanto, Salgado tomou decisões no departamento de futebol desde o fim de dezembro, em acordo com o então presidente Alexandre Campello, como as contratações do técnico Vanderlei Luxemburgo e do diretor Alexandre Pássaro. Salgado e Campello, portanto, foram os presidentes do quarto rebaixamento do clube.
Por sua vez, Salgado foi o responsável por reformular o departamento de futebol para 2021 e montar o time na tentativa de voltar para a Série A, o que acabou não acontecendo.
No futebol, após prometer um time "forte e vencedor", Salgado teve como principal intervenção a contratação de Alexandre Pássaro para o cargo de diretor executivo em 2021. Pássaro teve boa convivência e deixou o clube no fim do ano elogiado por jogadores e funcionários, mas foi bastante criticado por algumas escolhas à frente da pasta, sobretudo na formação do elenco.
Além disso, Jorge Salgado prometeu em sua campanha reestruturar o endividamento do Vasco e colocar o Vasco entre as cinco maiores receitas do Brasil. De fato, de acordo com números divulgados pela própria gestão, houve redução na dívida e a diretoria conseguiu centralizar a execução dos débitos trabalhistas nesse período. Também houve avanço nas discussões da SAF, considerada pelo presidente a principal solução para erguer as receitas a curto prazo, embora o tema não tenha sido abordado em sua campanha.
Por outro lado, o futebol feminino vive uma crise com atrasos salariais e debandada de jogadoras. A diretoria ainda não conseguiu retirar a Certidão Negativa de Débitos, essencial para as leis de incentivo que impulsionam os esportes olímpicos. E as reformas de São Januário e do estatuto do clube pouco caminharam nos últimos meses.
O ge listou as principais promessas de campanha de Jorge Salgado no Vasco e verificou o que já foi feito e o que o presidente ainda vai precisar fazer nos dois anos de gestão que restam.
Estar entre as cinco maiores receitas do Brasil
O Vasco ainda não divulgou o balanço financeiro referente a 2021 - os clubes tem até o quarto mês seguinte ao término do exercício para fazê-lo, ou seja, até abril. Em 2020, ano do último balancete fornecido pelo clube, ainda sob a gestão de Alexandre Campello, o Cruz-Maltino fechou a temporada com receita total de R$ 192 milhões.
O clube vai divulgar nesta terça-feira um relatório com os números obtidos no primeiro ano da gestão. O ge teve acesso a alguns trechos. A VascoTV, por exemplo, gerou R$ 2 milhões de receita provenientes das assinaturas de pay-per-view do Campeonato Carioca e de cotas de patrocínio em 2021, o que significa um superávit de R$ 700 mil, de acordo com o Vasco.
O relatório também aponta uma redução da folha de pagamentos em mais de R$ 40 milhões por ano - em contrapartida, o clube responde a um processo trabalhista coletivo pela demissão de 186 funcionários em março do ano passado, no terceiro mês de gestão de Salgado.
Aprimorar o patrimônio: reforma de São Januário, melhoria das demais sedes...
O projeto de reforma do estádio de São Januário praticamente não avançou nesse período. Em julho do ano passado, a empresa que atuava na captação de recursos deixou de ser investidora do clube, e o prazo de início das obras precisou ser adiado. A promessa de entregar a arena pronta no dia 21 de agosto de 2023, no aniversário de 125 anos do Vasco, corre o risco de não ser cumprida.
Procurado pela reportagem, o clube respondeu que considera concluída "a parte mais importante da reforma de São Januário".
"A recuperação estrutural das marquises e a recuperação de estruturas das arquibancadas. Reformas indispensáveis para garantir a segurança do público no estádio. Ainda em São Januário, o vestiário do futebol profissional também passou por reformas, assim como o estúdio da VascoTV", disse o clube.
O Vasco também prestou esclarecimentos à reportagem sobre procedimentos em outras sedes e patrimônios do clube:
"A reforma do Calabouço foi concluída e a sede já está reaberta aos sócios. Já foram iniciadas as reformas estruturais dos escritórios de São Januário e da sede náutica da Lagoa. Além disso, o CT Moacyr Barbosa recebeu investimentos estruturais e de operação, incluindo a reforma dos dois campos de futebol, novos espaços administrativos, lavanderia e nova área operacional para a VascoTV. E o CT Base Forte em Duque de Caxias recebeu importantes investimentos para sua ampliação, contemplando a construção de quadro novos campos de futebol e áreas de apoio".
Reestruturar o endividamento
Com o discurso de austeridade, esse talvez seja o ponto em que a gestão mais avançou. De acordo com o relatório que será divulgado nesta terça, por exemplo, o Vasco reduziu sua dívida total de R$ 833 milhões para R$ 723 milhões nesse primeiro ano, o que representa uma redução de 13,2%. A promessa é de entregar o clube ao final do triênio com dívida inferior a R$ 400 milhões.
Além disso, o clube conseguiu obter na Justiça o direito de centralizar a execução de R$ 93,5 milhões em dívidas trabalhistas. Foi o primeiro clube no Brasil a conquistar esse direito desde a implementação da PL do clube-empresa.
CND e leis de incentivo
No trecho em que falava em recuperar a tradição do Vasco nos esportes olímpicos, Jorge Salgado prometeu que devolveria ao clube sua Certidão Negativa de Débitos (CND), o que permitira o acesso a recursos por meio de leis de incentivo, por exemplo.
No entanto, o Vasco virou o ano ainda sem sua CND - a última venceu em setembro de 2017. Sem ela, por exemplo, o clube não consegue destravar uma parcela de R$ 6 milhões de patrocínio da Caixa que está retida há quase cinco anos.
Futebol forte e vencedor
No que diz respeito a resultados, a performance da gestão deixou muito a desejar. O Vasco terminou o Campeonato Carioca em quinto lugar na classificação geral e sequer conseguiu avançar à fase final. Na Copa do Brasil, foi eliminado pelo São Paulo nas oitavas de final. E terminou a Série B do Brasileirão em décimo lugar, já sem chances de acesso faltando duas rodadas para o fim.
Salgado prometeu em sua campanha uma reestruturação no departamento de futebol. De fato, foi criado o Comitê Consultivo do Futebol, mas na prática a pasta segue sendo comandada por um homem só: Alexandre Pássaro em 2021 e Carlos Brazil em 2022. O Vasco continua sem um vice-presidente de Futebol.
Com relação a esse assunto, o Vasco respondeu o seguinte:
"A profissionalização completa do Departamento de Futebol Profissional, incluindo contratações dos profissionais técnicos e de administração, bem como a otimização e troca de fornecedores do Centro de Treinamento, gerou um benefício financeiro de quase R$10.5MM em 2021.
No fim de 2021, o clube apresentou seu novo organograma do futebol profissional. Além do Comitê Consultivo do Futebol, liderado pelo presidente Jorge Salgado ao lado de Claudio Cardoso, Flavio Lopes, Marcel Kaskus e Pedro Seixas, a gerência geral de futebol foi entregue a Carlos Brazil, com o coordenador técnico Eduardo Húngaro e o técnico Zé Ricardo, além de uma equipe gabaritada de análise de desempenho e scout".
Ainda falando de futebol, Salgado também prometeu "forte compromisso com o crescimento do futebol feminino". Em julho do ano passado, o clube anunciou uma parceria com a Ambev que permitiria a autossuficiência da modalidade. No entanto, o que se vê atualmente são salários atrasados e uma debandada de jogadoras.
Futebol feminino do Vasco convive com falta de salário e uniforme
Reforma do estatuto
Jorge Salgado prometeu durante a campanha que a reforma do estatuto "redemocratizará o Club de Regatas Vasco da Gama e institucionalizará processos modernos de Governança". Imaginou-se que o Conselho priorizaria a pauta a partir da posse do presidente, mas o caso quase não avançou no último ano.
Procurado, o Vasco respondeu o seguinte:
"A reforma do Estatuto está sendo conduzida pelo Conselho Deliberativo do Clube. Foi criada, no âmbito do CD, uma comissão de reforma de estatuto que está concluindo seus trabalhos para que o texto seja encaminhado para a apreciação dos conselheiros. A Diretoria Administrativa tem colaborado com os trabalhos da comissão".
Plano rígido de integridade
Um dos primeiros atos da gestão de Salgado foi a criação da Diretoria de Integridade, que tem como comandante o engenheiro Luís Aragão. O Vasco garante que as práticas modernas da pasta, que tem como objetivos a transparência na relação com funcionários e com os recursos financeiros, tem funcionado normalmente.
"A Unidade de Integridade e Compliance do Vasco atua em três eixos: Auditoria Interna, Conformidade e LGPD.
Ao longo de 2021, foram elaborados 16 pareceres envolvendo matérias relacionadas à Diretoria Administrativa. Nestes pareceres, a Integridade forneceu subsídios técnicos aos gestores para orientá-los a tomar decisões conscientes e tecnicamente fundamentadas, a fim de gerar ganho operacional e, por consequência, financeiro", esclareceu o clube à reportagem.
Um caso que despertou a atenção foi a contratação do laboratório do laboratório Villela Pedras, único credenciado pelo clube para realizar o teste de Covid-19 para o jogo contra o Cruzeiro. A empresa tem no seu corpo clínico o radiologista Rafael Cobo, vice-presidente médico. A Diretoria de Integridade não viu conflito de interesse, na ocasião. A Diretoria de Integridade também não viu conflito de interesse no fato de o clube usar uma sala administrativa de Carlos Roberto Osório, seu primeiro vice presidente.
Simplificar a vida do sócio
Uma das promessas de campanha foi criar um aplicativo "oferecendo todos os conteúdos, produtos e serviços do Vasco em um único lugar" e, dessa maneira, facilitar a vida do sócio. Isso ainda não aconteceu. Torcedores, por exemplo, relataram dificuldades em conseguir se associar de forma online. Além disso, associados contaram terem sido impedidos de visitar São Januário
Por outro lado, clube enumerou à reportagem as ações tomadas no sentido de melhorar a situação associativa. Confira:
"A relação do clube com os sócios foi facilitada através dos novos canais de atendimento e da disponibilização de serviços online da secretaria. A implementação do help desk possibilitou 29.976 atendimentos aos associados, com uma média de satisfação de 83,70% dos vascaínos.
Além disso, a internalização da central de relacionamento do Clube também possibilitou a manutenção da taxa de abandono das chamadas inferior a 15%. O processo facilitou ainda o contato com o associado para retenção ou retorno de sócios inativos.
Um ponto alto de 2021 foi a implementação, com aprovação junto ao Conselho Deliberativo, da adesão ao sócio estatutário 100% online. Em comparação com 2020, onde o Clube atraiu 23 novos sócios ao seu quadro, a adesão online abriu as portas para 932 novos vascaínos, um aumento de quase 4000%. A transferência de títulos inativos cresceu 341%, e a reativação do plano de sócios para inadimplentes gerou um retorno de mais de 200 pessoas à São Januário".

Por Tébaro Schmidt 
GE Rio de Janeiro

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