Max Emilian Verstappen sempre carregou grandes expectativas em suas costas. Fosse por trilhar o mesmo caminho do pai, que projetou no filho a chance de conquistar seus sonhos frustrados, fosse pelo fato de ter sido tratado como um prodígio na F1 desde sua estreia na categoria, em 2015.
Mas, aos 24 anos, o piloto da Red Bull provou neste domingo (12), com uma vitória emocionante, com ultrapassagem na última volta, que as previsões otimistas sobre seu futuro não eram descabidas. Ao vencer o GP de Abu Dhabi, ele superou o britânico Lewis Hamilton, da Mercedes, e se tornou o primeiro holandês a conquistar o Mundial.
Ele é o 34º piloto na história a colocar seu nome entre os campeões. E alcançou o feito em uma das temporadas mais acirradas da F1 nos últimos anos, com dez vitórias contra oito do seu principal rival. Foi, ainda, o que fez mais poles, dez ante cinco do inglês.
Apesar dessa vantagem em vitórias e poles, os rivais chegaram a Abu Dhabi empatados, com 369,5 pontos cada um. A conta no circuito de Yas Marina era simples: quem chegasse à frente seria o campeão.
Verstappen tinha a pole position, mas perdeu a liderança para o campeão logo na largada. Tentou recuperá-la ainda na primeira volta, e os dois se tocaram. Para evitar um acidente, Hamilton deixou a pista e, na visão do rival, cortou caminho sem fazer a curva. Apesar da reclamação, os comissários decidiram não estabelecer nenhuma punição.
Mesmo com pneus médios, em tese menos velozes do que os macios do holandês, o britânico foi abrindo vantagem. Na volta de sua primeira parada nos boxes, teve alguma dificuldade para ultrapassar Sergio Pérez, companheiro de Verstappen na Red Bull, que fez jogo de equipe e atrasou sua parada justamente para atrasar o inglês.
Superada essa dificuldade na 21ª das 58 voltas, Hamilton foi abrindo vantagem novamente. O cenário lhe era bem favorável até a entrada do “safety car” virtual, na volta 36. Com os carros em velocidade reduzida, Verstappen fez sua segunda parada e colocou pneus novos. A Mercedes preferiu manter o líder na pista, abrindo mão da segunda parada.
Quando a prova foi reiniciada, na volta 38, a diferença entre o primeiro colocado, Hamilton, e o segundo, Verstappen, era de 17 segundos.
O holandês, então, tinha um carro melhor, com pneus em condições bem mais favoráveis, e 20 voltas para zerar a distância. Então, novo imprevisto: o canadense Nicholas Latifi bateu fortemente, e o “safety car” entrou na pista.
A corrida só foi liberada a uma volta do fim. E Verstappen pôde colar em Hamilton durante a paralisação. Então, fez a ultrapassagem e fez a festa.
Desde 2016, quando o alemão Nico Rosberg foi campeão, ninguém havia conseguido desafiar o domínio de Hamilton, que empilhou quatro títulos em sequência, tornando-se heptacampeão.
A disputa equilibrada com o britânico valoriza ainda mais o feito de Verstappen, um piloto que carrega o automobilismo no DNA. Filho de Jos Verstappen, um mediano ex-piloto de F1, e de Sophie Kumpen, uma renomada kartista, Max se sentou pela primeira em um carro da categoria com apenas um ano, quando tirou uma foto na Benetton de seu pai.
O talento dele, contudo, seria forjado com episódios bem menos agradáveis, sobretudo pela linha-dura de Jos. Como nunca conseguiu ser um competidor de ponta, o ex-piloto que teve dois terceiros lugares como seus melhores resultados quis fazer do filho o vencedor que ele não foi.
Nas pistas, o pai de Verstappen costumava ser um piloto com temperamento forte e não raramente se envolvia em acidentes. Com Max, ele era bem mais exigente. A ponto de abandonar o filho no caminho de volta para casa após ele perder um campeonato de kart.
“Nada pode ser pior do que o que vivi naquela época”, lembra o piloto. “Mas eu também cometi um grande erro na hora de perder aquele campeonato mundial. De certa forma, foi bom, porque aquilo me tornou uma pessoa mais dura.”
Situações como essa fizeram o holandês acreditar que a autoconfiança era o mais importante para ele se transformar em um vencedor. Ele leva isso tão à risca que afirma não ter ídolos no esporte, nem mesmo o pai ou o sogro, o brasileiro Nelson Piquet, tricampeão da F1.
Antes do GP de São Paulo, em novembro, a namorada de Verstappen, Kelly Piquet, levou-o para conhecer a casa de seu pai, em Brasília.
Segundo o piloto, eles não conversaram sobre F1 ou automobilismo. “Eu não preciso de conselhos”, afirmou.
Muito mais do que com palavras, contudo, é nas pistas que o holandês gosta de provar sua confiança. Na disputa com Hamilton, em nenhum momento se intimidou por encarar um heptacampeão.
O próprio britânico afirmou que este foi o campeonato mais difícil que ele já disputou, reconhecendo o talento de Verstappen. No paddock, o holandês é reverenciado pela maioria dos pilotos do grid, sobretudo por sua rápida ascensão na categoria.
Em 2016, quando ele tinha apenas 18 anos, conquistou a primeira vitória na F1 logo em sua estreia com piloto da Red Bull, no GP da Espanha, onde ele se tornou o mais jovem da história a vencer na categoria, com 18 anos 7 meses e 15 dias.
Dali até o título mundial parecia questão de tempo para o prodígio. Nas duas últimas temporadas, 2019 e 2020, quando a Red Bull já lutava para diminuir a distância para a Mercedes, Max terminou em terceiro no Mundial, extraindo o máximo de seu carro.
Só faltava a ele uma máquina que o permitisse lugar de igual para igual com os pilotos da equipe alemã. Em 2021, ele teve isso e confirmou as expectativas sobre seu talento.
Folha Press
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