Kimia Yousefi e Farzad Mansouri levaram a bandeira do Afeganistão na cerimônia de abertura de Tóquio 2020 (Foto: Getty Images) |
Dois meses depois, a retomada do Talibã ao poder no Afeganistão segue provocando impactos no esporte local. Diante do aumento da crise humanitária e sob intenso clima de apreensão após o domínio do grupo fundamentalista armado, mais de 700 pessoas da comunidade esportiva, em sua maioria mulheres, ainda estão retidas no país. A informação foi revelada nesta terça-feira pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), que prometeu tomar novas medidas para auxiliar a população.
Recentemente, o COI informou que conseguiu retirar com segurança 300 pessoas ligadas ao esporte local, incluindo cinco atletas dos Jogos Olímpicos de Tóquio e outros dois em preparação para as Olimpíadas de Inverno, a serem disputadas na China, no próximo ano. O país, inclusive, chegou a ficar fora das Paralimpíadas após o fechamento dos voos comerciais. Presidente e secretário-geral do Comitê Olímpico Nacional do Afeganistão, e membros de federações nacionais também foram ajudados a deixar o território afegão.
No último domingo, durante a Assembleia Geral da Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais (ANOC - na sigla em inglês), o presidente do COI, Thomas Bach, convocou os comitês para ajudar na evacuação de membros da comunidade esportiva afegã, além de contribuir para uma ação conjunta com governos para facilitar na garantia de vistos humanitários.
Nesta terça-feira, o COI afirmou estar ciente de que várias das pessoas retidas no Afeganistão estão prejudicadas pela falta de alimentos e roupas. Thomas Bach disse ainda que irá "estabelecer um fundo humanitário" com o Comitê Olímpico do Catar, oferecendo assistência no transporte e distribuição de ajuda para a população afegã. Mulheres e meninas que praticam atividades esportivas e pessoas que as apoiam e promovem o acesso ao esporte feminino são consideradas as mais ameaçadas pelas regras impostas pelo Talibã.
Futuro do esporte feminino
A apreensão sobre qual será o destino do esporte feminino precede a retomada do Talibã ao poder. Isso porque, durante o primeiro domínio do grupo armado no país, entre 1996 e 2001, as mulheres foram as mais prejudicadas e cerceadas em seus direitos, não apenas no cenário esportivo, onde são proibidas de participar.
Na última semana, uma publicação de Samira Asghari, afegã que é integrante do COI, alertou para as restrições do Talibã na educação das mulheres no país.
- As portas das escolas estão fechadas para as mulheres afegãs! Crise humanitária severa no Afeganistão - disse.
Juntamente com Samira Asghari, o COI declarou que trabalha com os Comitês Olímpicos Nacionais, Federações Internacionais e o Comitê Organizador Paris 2024, bem como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, organizações não governamentais e organizações esportivas para ajudar nas evacuações. Foi essa ação conjunta que permitiu, por exemplo, que atletas como a velocista Kamia Yousufi, porta-bandeira do Afeganistão nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, e de Tóquio, este ano, retornasse ao Irã, onde reside atualmente.
Mobilização internacional
Se por um lado 300 pessoas ligadas ao esporte já conseguiram deixar o país com segurança, outras 700 ainda permanecem no país. Órgãos como a FIFA também se incumbiram de ajudar na retirada desses integrantes. No início deste mês, a entidade atuou em parceria com o governo do Catar para evacuar quase 100 membros do futebol do Afeganistão, entre atletas e familiares, além de jogadoras da seleção júnior de futebol feminino nacional.
O diretor de Relações e Solidariedade Olímpica do COI, James Macleod, afirmou em um relatório à ANOC que os esforços para evacuar membros da comunidade esportiva do Afeganistão mostraram "o extraordinário espírito de solidariedade demonstrado pela comunidade olímpica", e prometeu que a entidade buscaria evacuar o maior número possível de pessoas temendo por sua segurança, ao mesmo tempo em que apoiava as carreiras esportivas de quem permanecesse no país, incluindo bolsas de estudo e subsídios àqueles que se preparam para os Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim.
Apesar da declaração, o chefe de Missão do Afeganistão nas Paralimpíadas de Tóquio, Arian Sadiqi, expressou temor por 12 atletas que ainda não conseguiram deixar o país.
- Se essas meninas não conseguirem ajuda logo, podem cair nas mãos do Talibã e serem mortas - alertou Sadiqi, que também criticou a falta de apoio do Comitê Paralímpico Asiático, do COI e do Comitê Paralímpico Internacional na evacuação dos atletas.
Por Redação do GE
São Paulo, SP
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