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Sim, estamos em plena pandemia ainda. O Brasil, por exemplo, ainda não vacinou nem metade de sua população, e olha que já estamos quase no final do ano. Mas a vida tenta prosseguir, em meio ao medo do vírus corona. Nos esportes, principalmente, se tenta passar a ideia de que está tudo normal, apesar dos estádios vazios em alguns países, como o Brasil. Estão ai a Copa América e a Eurocopa para atestarem o que afirmei acima. E está vindo a Olimpíada de Tóquio para confirmar. Programada para iniciar no dia 23 de julho, a Olimpíada seria realizada ano passado, mas foi transferida para esse ano por conta da pandemia.
Um dos esportes onde o Brasil busca seu primeiro ouro é o futebol feminino, estreando logo contra a poderosa China. E nesse esporte, a nossa grande referência continua sendo a jogadora Marta, que já foi eleita por seis vezes a melhor do mundo no futebol feminino. Mas quem é Marta? Como alguém saído do Nordeste, pratica um esporte solenemente ignorado no Brasil e é eleita seis vezes a melhor do mundo? Bom, quem quer descobrir isso é só conferir o livro “Marta, a menina que descobriu o futebol”, de Daiana Targino, com ilustrações de Williana Fernandes, publicado neste 2021 pela editora Arribaçã.
Daiana partiu da poesia para narrar a saga de Marta. Desde quando esta jogava bola nos campinhos de Dois Riachos, em Alagoas. Como diz a poesia de Daiana, Marta já carregava o sonho de ter lugar no futebol, sem preconceito, desde pequena. Não é novidade para ninguém que no Brasil o futebol feminino enfrenta dificuldades, não só com a falta de investimento, estrutura e visibilidade, mas também pelo preconceito que as jogadoras sofrem por conta do machismo. A voz corrente no Brasil é de que futebol é coisa pra homem e nesse machismo anacrônico vão relegando a participação da mulher nesse esporte a um quinto plano. E isso não só em relação a investimentos. Sabe aquele olhar cheio de preconceito? É assim que muitos machões reagem ao saberem que determinada mulher pratica o futebol.
Com Marta não foi diferente, como bem narra Daiana Targino em seu livro:
“Sua vida não foi fácil,
desde menina sofreu
com os olhares desviados
pela arte que escolheu
vinham-lhe maus passamentos
mas nunca esmoreceu”.
Bonita a forma como Daiana Targino encontrou para contar a trajetória de Marta. Foi através da poesia que Daiana nos revelou uma história tão bonita Está tudo poeticamente no livro. Desde o apoio da mãe, decisivo para Marta decidir investir nessa carreira, até os dribles que teve que dá nos colegas de infância, em campos de peladas, e também o que teve que fazer para driblar o preconceito:
“Eles botavam barreira
para Marta não entrar
Jogar no campo ou na quadra
com a bola, nem pensar
Mas nada disso impediu
de sair para treinar”
Os primeiros treinadores, a chegada ao Rio de Janeiro para jogar no Vasco, o início na seleção brasileira, o estrelato em outros países e a escolha de melhor do mundo várias vezes. Tudo isso está poeticamente narrado em “Marta, a menina que descobriu o futebol”, tão bem ilustrado por Williana Fernandes. Daiana Targino é uma jovem escritora e poeta de Brejo do Cruz, no sertão paraibano. Formada em Letras, também gosta de futebol e é contadora de histórias. Seu livro não é apenas uma homenagem a atleta Marta. É, antes, um libelo contra o preconceito ao futebol feminino e em outros esportes tradicionalmente machistas. Fiquemos, então, com mais alguns versos do livro, que tão bem definem essa luta:
“Nossa Estrela virou símbolo,
mostrando-nos com clareza,
que meninas e meninos,
sem provocar estranheza
Com talento e vocação
podem jogar, com certeza”
Por Linaldo Guedes
linaldo.guedes@gmail.com
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