Ao público, a disputa de poder na CBF tem a troca de acusações entre o presidente afastado Rogério Caboclo e o dirigente banido pela Fifa Marco Polo Del Nero. Por trás da cortina, há mais a ser visto: ameaça de retaliação, uma intrincada disputa jurídica, um centro ainda indefinido e os clubes em busca de uma terceira via.
Afastado por uma denúncia de assédio sexual no início de junho, Caboclo teve sua suspensão renovada por mais 60 dias pela diretoria da CBF. Mas continua decidido a tentar voltar à presidência da entidade. Sua suspensão foi baseada na acusação de assédio de uma funcionária da CBF que tem áudios de conversas com ele, reveladas pela TV Globo. Depois disso, foi feita pela diretoria da própria CBF.
Juridicamente, Caboclo entrou com um recurso para anular seu afastamento alegando que este não tem previsão no Código de Ética da CBF. De fato, consta dos códigos de ética da Conmebol e da Fifa a previsão de suspender o presidente, mas não na confederação. Já a diretoria da CBF usa o artigo 143 do estatuto para afasta-lo, o texto fala que, em casos de urgência, esta tem a prerrogativa de afastar qualquer um que desrespeitar o estatuto da Fifa. Sua aplicação é controversa.
A defesa de Caboclo ainda não apresentou uma defesa da acusação específica feita pela funcionária da CBF - ele nega assédio. Não havia prazo definido para isso acontecer, nem acabou a investigação feita pela Comissão de Ética da entidade. Ou seja, o processo não está pronto para ser julgado no órgão que é presidido pelo ex-desembargador Carlos Renato. Pelas regas, Caboclo tem argumentos, mas, politicamente, é bem mais frágil.
Em paralelo, há uma disputa política pelos votos das federações. Caboclo já falou em tom ameaçador com presidentes das entidades. Diz que vai voltar ao comando e quem não estiver com ele vai sofrer retaliações. Quem ouviu entendeu como uma medida de desespero.
Entre patrocinadores, principal fonte de renda da CBF, Caboclo tem ampla rejeição após a denúncia de assédio. Houve pressão para seu afastamento. A Fifa também monitora o caso. Sua volta poderia causar perdas financeiras e isolar politicamente a CBF.
A disputa de Caboclo com Del Nero, que é banido pela Fifa por corrupção em investigação nos EUA, é porque o ex-presidente da CBF também articula com federações e com diretores da entidade. A opção preferida de Del Nero é viabilizar a permanência do Coronel Nunes, vice e atual presidente interino, que é mais facilmente controlável. Mas essa alternativa parece inviável por não ser aceita pelos outros vices da confederação. Del Nero atua dos bastidores já que é proibido de entrar no prédio da CBF.
Os vices mais atuantes na transição são Castellar Neto, Fernando Sarney, Gustavo Feijó e Ednaldo Rodrigues. É deste grupo que provavelmente sairia um outro candidato para ser o presidente de mandato tampão na CBF até 2022. Castellar também é visto próximo de Del Nero, enquanto os outros três atuam conjuntamente e longe do ex-presidente.
Os clubes da Série A, que fundaram uma Liga para organizar o Brasileiro, entendem ser importante a participação nesta eleição. Há uma rejeição tanto a aliados de Del Nero quanto de Caboclo. Por isso, poderia sair do grupo dos outros vices um candidato que teria seu apoio. Já houve sondagens aos atuais dirigentes da CBF sobre como seria a aceitação da liga e dos pleitos do clube (maior peso na votação na entidade).
É mais provável que os vices da CBF aceitem a Liga do que dar mais poder de voto aos clubes. Por aí, poderia ser costurado um acordo para ter o apoio de voto de 40 clubes em conjunto. Isso geraria 60 votos pelo peso na eleição. As federações contam com 81.
A confederação vive um xadrez em que as peças se movimentam, mas ainda não há um cenário de quem vencerá a disputa.
Por Rodrigo Mattos
UOL Esporte
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