Bruno Praxedes, comprado por R$ 35,9 milhões, foi a contratação mais cara da história do Bragantino (Foto: Ari Ferreira/Red Bull Bragantino) |
Esses dois casos, semelhantes a outros protagonizados pela equipe de Bragança Paulista-SP, ilustram o que virou uma marca do Bragantino desde que passou a ser gerenciado pela empresa austríaca, em abril de 2019: o investimento em jovens atletas.
De 2019 pra cá, o Massa Bruta já gastou quase R$ 150 milhões para contratar revelações, com idades até 23 anos, somente de grandes clubes do futebol brasileiro (veja lista abaixo). O clube ainda desembolsou mais dinheiro para trazer jovens do Brasil e do exterior.
O coordenador técnico do Bragantino, Sandro Orlandelli, destaca que o objetivo é, daqui alguns anos, usar mais na equipe principal atletas revelados no próprio clube. Porém, como o projeto da empresa com o Massa Bruta é recente, existe a necessidade no momento de ir ao mercado para montar o time.
O Bragantino disputa o Campeonato Brasileiro e a Copa Sul-Americana com um elenco com média de idade de 23 anos. No Brasileirão, o Massa Bruta é o líder, com 14 pontos. Na Sul-Americana, está nas oitavas de final. Nesta segunda-feira, 28, a equipe encara o Atlético-GO, às 20h, pela sétima rodada do nacional.
O ge mostra abaixo o que leva o Bragantino a investir somente em jovens atletas, como é feita a busca por promessas e como funciona o trabalho com esses jogadores.
Contratações
O Massa Bruta não divulga os valores das negociações, mas o ge apurou que o clube já gastou R$ 146,6 milhões somente para contratar jovens dos grandes clubes brasileiros com até 23 anos. Veja a lista:
Bruno Praxedes (Internacional): R$ 35,9 milhões;
Artur (Palmeiras): R$ 25 milhões;
Cleiton (Atlético-MG): R$ 23 milhões;
Alerrandro (Atlético-MG): R$ 14 milhões;
Thonny Anderson (Grêmio): R$ 13 milhões;
Vitinho (Palmeiras): R$ 9,8 milhões;
Gabriel Novaes (São Paulo): R$ 6 milhões;
Jadsom (Cruzeiro): R$ 5,4 milhões;
Natan (Flamengo): R$ 5 milhões (se fizer 20 jogos pelo Bragantino, clube terá que comprá-lo e pagar mais R$ 22 milhões);
Weverton (Cruzeiro): R$ 5 milhões
Claudinho (Corinthians/Ponte Preta): R$ 2,5 milhões (R$ 1,5 milhão para o Corinthians e R$ 1 milhão para Ponte Preta);
Weverson (São Paulo): R$ 2 milhões.
O valor pode aumentar ainda neste ano. O zagueiro Natan, por exemplo, foi contratado por empréstimo junto ao Flamengo. O Bragantino pagou R$ 5 milhões para emprestá-lo até 5 de janeiro de 2022. No contrato, há uma cláusula que obriga o Massa Bruta a comprá-lo por R$ 22 milhões caso ele faça 20 jogos. Até agora, já participou de 12 partidas.
Além disso, existem atletas que estão emprestados ao clube até o fim do ano e que podem ser contratados em definitivo perto do fim do empréstimo. Um deles é o atacante Helinho, que pertence ao São Paulo e está emprestado até 31 de dezembro. O atleta tem sido titular do Bragantino e é provável que o clube queira comprá-lo.
Por que só jovens são contratados?
A postura do Bragantino em contratar somente jovens atletas levanta várias hipóteses. Uma muito citada é a questão financeira, de ganhar dinheiro com a revenda. Esse aspecto comercial, de fato, existe. Mas o coordenador técnico do Massa Bruta, Sandro Orlandelli, diz que não é isso o que move as contratações do clube.
– O motivo do perfil (das contratações) está relacionado com a nossa filosofia de jogo, que tem uma característica agressiva e técnica. Dentro desse sentido, nós enxergamos a possibilidade de finalizar o desenvolvimento de um jogador jovem de acordo com a forma que enxergamos, de atingir o nível de agressividade e técnica que esperamos. É mais trabalhoso, porém, conseguimos ser menos errôneos – destacou.
– Junto a isso, nós também contribuímos com uma conta simples, de receita e despesa. Jogadores de potencial têm um menor valor do que um produto final. Esse valor vai sendo desenvolvido, a gente consegue chegar num equilíbrio que nos dê resultado positivo e venha dar resultado economicamente também. O importante é deixar claro que não estamos preocupados em vender (jogadores), já que não fazemos nada que nos desequilibre financeiramente – acrescentou.
Essa filosofia é aplicada em todas as equipes que a Red Bull controla. Além do Bragantino, a empresa gerencia o RB Leipzig, da Alemanha, e o New York Red Bulls, dos Estados Unidos. O RB Salzburg, da Áustria, tem a marca de energéticos como patrocinadora, mas não é gerido por ela. Nessas equipes, a média de idade também é baixa.
Como é a busca por promessas
Quando o Bragantino vai ao mercado, a idade é um critério para a seleção, mas não o único. São eles:
Ter por volta de 20 anos, mas preferencialmente não passar dos 23;
Ter perfil físico compatível com a filosofia de jogo, com intensidade;
Ser um jogador que consiga resolver na parte técnica;
Ser um atleta que tenha entendimento tático do jogo;
Mentalmente, ser um jogador com desejo de vencer.
– O Brasil é riquíssimo em matéria-prima. Falo por experiência própria que somos privilegiados. Não temos nada específico em querer atletas principalmente de um determinado clube no Brasil. A riqueza do Brasil é muito grande. Abrimos a busca para todo o país. Temos um departamento bem organizado, a ambição de ter um monitoramento bem otimizado no Brasil, como na América do Sul. Pontualmente, tem jogadores interessantes fora também – comentou Sandro Orlandelli.
Os jovens atletas contratados pelo Bragantino fora do Brasil foram os zagueiros Cesar Haydar (Colômbia) e Léo Realpe (Equador), o meia-atacante Tomás Cuello (Argentina) e o atacante Jan Hurtado (Venezuela).
A comissão técnica do Bragantino também é jovem. O técnico Maurício Barbieri tem 39 anos, e os auxiliares Claudio Maldonado e Marcinho têm 41 e 40, respectivamente. A busca por ter uma comissão técnica jovem também se deve, além da competência dos profissionais, à abertura para novos aprendizados.
Como é o trabalho com os jovens
A Red Bull tem um conceito de jogo bem definido para as equipes gerenciadas pelas empresas. Os times trocam informações técnicas, mas cada um possui liberdade para fazer as adequações para a própria realidade, de acordo com o que tem em mãos.
Com esse material em mãos para ser lapidado, o Bragantino aposta na união de diferentes departamentos para avaliá-los e desenvolvê-los. São inúmeros relatórios dos jogadores. O clube trabalha com dados científicos de desempenho e atua também no aspecto emocional do jogador.
Orlandelli diz que o clube tem se preocupado, cada vez mais, em humanizar os departamentos para trabalhar com todos os atletas e os profissionais do clube. Cita, por exemplo, a importância do aprimoramento da comunicação com os jovens.
Todo o trabalho, de acordo com o coordenador, é potencializar as característica de cada atleta.
– Não temos um perfil definido (de atleta que pretendem formar). Temos uma ideia por posição, mas cada jogador tem uma particularidade. O jogador se desenvolve comparando com ele mesmo. Não comparamos um com o outro – disse.
O coordenador afirma que não há um tempo exato para definir se o jogador conseguiu ou não se encaixar na filosofia do clube. Essa avaliação, segundo ele, é feita por critérios técnicos e há diversos fatores para alguns se adaptarem mais rápido do que outros.
– Não fazemos nada, nenhuma decisão é tomada por impulso, pela emoção. Por exemplo: perdeu um jogo, foi mal, está fora. Isso nunca. Somos pautado em documentos, análises – frisou.
Atletas mais velhos
O elenco do Bragantino tem alguns atletas mais velhos. Na casa dos 30 anos, são quatro: o goleiro Julio César (36), o lateral-esquerdo Edimar (35), o lateral-direito Aderlan (33) e o atacante Ytalo (33).
Julio César, Aderlan e Ytalo estavam no RB Brasil quando a parceria com o Bragantino foi firmada e migraram para o elenco do Massa Bruta. Edimar chegou para a disputa da Série B de 2019. Apesar de estarem fora do perfil do clube, Orlandelli destaca a importância deles para o elenco.
– Esses jogadores já estavam no clube, e eles têm uma característica fundamental, se identificam com o nossos trabalho. Aliado a uma experiência que é incomparável com um mais novo. Como temos uma atmosfera positiva, esse dia a dia é fundamental. Eles estão colaborando muito. Temos o privilégio de tê-los conosco – comentou.
Na última quarta-feira, 23, o centroavante Ytalo marcou três gols contra o Palmeiras. O jogador é o artilheiro da equipe na temporada, com dez gols, e divide a artilharia do Brasileirão, com quatro gols.
Balanço das contratações
Orlandelli faz um balanço positivo das escolhas feitas para a montagem do elenco.
– Até o momento, fizemos boas escolhas. Os resultados mostram isso. Lógico que tivemos alguns equívocos. Às vezes, não é a escolha, às vezes é a adaptação. Estamos sempre investindo muito no departamento mental. Às vezes, não se adaptam à intensidade do treino por exemplo. Às vezes, ele não está aberto mentalmente para essa filosofia. Então, estamos investindo bastante no departamento mental para auxiliar nisso também. Mas tivemos boas escolhas até o momento – comentou.
O caso mais emblemático de atleta que não se adaptou ao estilo do clube foi o meia Thonny Anderson. O Bragantino pagou R$ 13 milhões ao Grêmio para contratá-lo em 2020, mas o atleta não rendeu o esperado. Ficou um período afastado por lesão, mas quando estava apto, não teve o rendimento que se imaginava. Agora, está emprestado ao Bahia.
– Quem vive no futebol, não discute o aspecto técnico dele. Indiscutivelmente, talentosíssimo. A questão às vezes do estilo de jogo, talvez pode ser um choque. Mas ele ainda pertence a nós, está emprestado. Por ser jovem, não tenho dúvida que é um profissional talentosíssimo – disse.
Categorias de base
As categorias de base do Red Bull Brasil passaram a ser do Bragantino desde que a parceria foi firmada. Começa no sub-15 e vai até o sub-23, que disputa o Campeonato Brasileiro de Aspirantes. A ideia do clube era já ter as categorias sub-11 e sub-13 também, mas a pandemia adiou os planos. Em 2019, ainda como RB Brasil, a equipe foi vice-campeã paulista sub-20.
O clube antes tinha o projeto Under My Wing, para meninos com menos de 15 anos que eram selecionados. Eles participavam de alguns campeonatos, mas não disputavam o Paulista.
A implantação da filosofia de jogo, que está em processo de finalização na equipe profissional, começou a ser implantada na base. Atualmente, alguns jovens que estavam na equipe sub-23 treinam com o profissional e já foram até relacionados para jogos. Porém, não são muito utilizados nas partidas.
Sandro Orlandelli destaca que o objetivo é que, no futuro, o clube busque atletas nas próprias categorias de base, mas há etapas a serem cumpridas nesse processo.
– Para chegar no principal, tem que chegar no nível de expertise de umas dez, 13 mil horas de treinamento. Junto a isso, tem a minutagem de jogos que tem que ter. Tem que ser paulatinamente. Ele deve ter tempo de ter a experiência, tenha a oportunidade de errar. Temos que saber o momento de colocar um jovem. Tudo isso é calculado para que a gente consiga colocar jovens – comentou.
Antigamente, havia intercâmbio entre de jogadores da base com as outras equipes controladas pela empresa para troca de experiências. Essa prática, porém, não ocorre mais. Além do desenvolvimento físico, técnico e tático do jogador, há um trabalho para a formação. Por exemplo, os jogadores da base têm aulas de educação financeira.
– A gente tem duas linhas de trabalho. Lado cientifico e lado humano. Lado humano, entendemos que nem todos os jogadores vão ter o mesmo tipo de sucesso. Temos níveis diferentes de formação social por diferentes motivos no país. Parte da gente ajudar a dar uma consciência econômica para não serem pegos de surpresa. Quando muda esse contrato, que cria uma vantagem até mesmo para cuidar da própria família. Se ele não estiver preparado, ou ter uma ideia, isso vai afetar diretamente. Pode afetar como atleta, mas o cidadão também – disse.
Por Danilo Sardinha
GE Bragança Paulista, SP
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