Del Nero ao lado de Caboclo em foto de 2018, época em que eles eram aliados (Foto: Lucas Figueiredo/CBF) |
Afastado da presidência da CBF por causa de uma denúncia de assédio sexual e moral apresentada por funcionária da entidade, Rogério Caboclo partiu para o ataque. Em nota enviada ao ge, o dirigente afirmou que seu afastamento foi armado por Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF (entre 2015 e 2018) e padrinho político do próprio Caboclo. É a primeira vez que Del Nero é atacado publicamente pelo ex-pupilo.
– O presidente da CBF, Rogério Caboclo, vem recebendo o apoio cada vez maior de presidentes de federações e clubes para o seu retorno ao cargo, na medida em que fica claro o plano arquitetado por Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF, banido do futebol e investigado pela Justiça, que quer tirá-lo da Presidência para voltar a comandá-la através do seu maior aliado entre os vice-presidentes, até o final do atual mandato.
Procurado pela reportagem, Del Nero respondeu à nota de Caboclo.
– Só com mente perversa alguém pretende querer denegrir quem sempre lhe fez bem. Creio que ele deve procurar a quem lhe denunciou sobre o assédio e entender o caráter ilícito do fato, para tirar conclusões racionais - disse o ex-presidente da CBF.
Em abril de 2018, após acusações de corrupção, a Fifa anunciou o banimento de Del Nero de todas as atividades relacionadas ao futebol. Mas ele seguiu influente na CBF, conforme mostraram áudios de julho de 2018 divulgados pela ESPN em maio deste ano.
Na última quarta-feira, Caboclo recebeu em seu apartamento no Rio de Janeiro a visita de Antonio Carlos Nunes, que o substitui interinamente na presidência da CBF. O convite para a visita partiu da mulher de Rogério Caboclo, Queila Girelli, feito diretamente à mulher do interino, Rosa.
Coronel Nunes, como é chamado, foi advertido por dirigentes da confederação para não ir até a casa de Caboclo, mas dispensou os conselhos. O ge perguntou a Nunes, por meio da assessoria da CBF, qual foi o assunto tratado no encontro. A entidade informou que não comentaria.
Na última segunda-feira, Rogério Caboclo recebeu a visita de três presidentes de federações estaduais: Adélcio Magalhães (Pará), Robert Brown (Piauí) e Antônio Américo Lobato Gonçalves (Maranhão). Eles foram até lá para agradecer ao presidente afastado da CBF, que durante o mês de maio, quando já enfrentava uma crise interna na entidade, foi ao Pará e ao Piauí para prestigiar a final dos dois campeonatos estaduais de futebol.
Na conversa, Caboclo transmitiu a eles a versão de que não cometeu assédio contra a funcionária que o denunciou à Comissão de Ética da CBF e que o diálogo – cuja gravação foi exibida no dia 6 de junho no Fantástico – foi travado de maneira consensual.
Desde que foi comunicado do afastamento da presidência da CBF, Caboclo tenta conseguir o apoio de presidentes das federações estaduais. Isso porque são eles que decidem se esse afastamento temporário vai se transformar em destituição.
Após a conclusão da investigação da Comissão de Ética, a CBF planeja convocar uma Assembleia Geral Administrativa para votar a destituição de Rogério Caboclo. O estatuto determina que um presidente só pode ser destituído com a aprovação de 80% das federações.
Ou seja: Caboclo precisa ter o apoio de 6 das 27 federações estaduais para voltar ao poder. Por pressão dos patrocinadores e também para resolver impasses internos sobre o futuro, a CBF tem como prioridade garantir os 100% nessa votação. Do outro lado, o presidente afastado articula para conseguir apoio e voltar ao cargo.
A denúncia contra Caboclo
No último dia 4, uma funcionária da CBF protocolou denúncia de assédio sexual e moral contra Rogério Caboclo. O documento foi entregue à Comissão de Ética da CBF e à Diretoria de Governança e Conformidade.
Entre os fatos narrados por ela, estão constrangimentos sofridos por ela em viagens e reuniões com o presidente e na presença de diretores da CBF. Na denúncia, a funcionária detalha o dia em que o dirigente, após sucessivos comportamentos abusivos, perguntou se ela se "masturbava". Entre outros episódios, segundo a funcionária, Caboclo tentou forçá-la a comer um biscoito de cachorro, chamando-a de "cadela".
Dois dias depois da denúncia, em 6 de junho, Caboclo foi afastado da presidência da CBF por 30 dias, por determinação da Comissão de Ética do Futebol Brasileiro. Na ocasião, a entidade informou que o processo seguiria em sigilo. O presidente afastado nega as acusações.
- A defesa de Rogério Caboclo responde que ele nunca cometeu nenhum tipo de assédio. E vai provar isso na investigação da Comissão de Ética da CBF - disseram seus advogados em nota.
Globo Esporte
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