Zagueiro Luan Leite está disputando o 10º Campeonato Carioca (Foto: Divulgação/Volta Redonda) |
Início de 2008: O jovem recém-formado no ensino médio Luan Assis Costa Leite, com 20 anos, se matricula para iniciar faculdade de Educação Física no Centro Universitário de Volta Redonda, no sul do Estado do Rio de Janeiro, depois de um período de desânimo para seguir o seu sonho de se tornar jogador de futebol.
Quase 13 anos depois. Final de 2020: O zagueiro Luan Leite, aos 32 anos, se forma em Educação Física após vestir a camisa de diversos clubes do país, disputar a Liga Europa, superar lesão que o afastou dos gramados por 1 ano e 11 meses, e se tornar referência no Volta Redonda Futebol Clube, time pelo qual passou quase a totalidade de sua carreira até aqui.
Luan estreou na temporada 2021 na última quarta-feira (3), contra o Madureira, no empate por 2 a 2, jogando em casa, no Estádio Raulino de Oliveira. E é neste sábado (6) que o Voltaço desafia o primeiro time grande no Campeonato Carioca, quando recebe o Vasco, de novo em seu campo, às 21h — com transmissão exclusiva da Record TV na televisão aberta para o Rio de Janeiro e outras 26 praças, com jogos sempre às terças-feiras, 21h30, e aos sábados, às 21h.
O time do Volta Redonda inicia a temporada recheado de “meninos de qualidade e com muita gana de vencer”, como define Luan. O zagueiro, que está em seu 10º Campeonato Carioca, é um dos poucos experientes do elenco que tenta ao menos manter a mesma campanha que o clube obteve no Campeonato Carioca do ano passado, quando foi terceiro colocado na classificação geral, atrás apenas de Flamengo e Fluminense.
O estadual do Voltaço de 2020 foi marcante, o segundo melhor da história do clube. O campeonato também contou com um dos momentos mais significativos da vida do zagueiro Luan, que voltou a jogar futebol depois de quase dois anos parado devido a uma lesão no tendão de Aquiles. Aliás, é bem significativo a mesma competição deixar diferentes marcas positivas no clube e no atleta, porque é quase impossível contar a trajetória de Luan sem mencionar com grande destaque a história do Volta Redonda, ou vice-versa.
Luan voltou a disputar uma partida oficial em um jogo contra o Boavista, pela sexta rodada do Carioca, no dia 8 de fevereiro do ano passado. Nesse jogo, o Volta Redonda perdeu de 2 a 1, e foi uma das quatro derrotas que a equipe teve no campeonato (as outras foram contra Madureira e duas vezes pelo Flamengo).
Depois que voltou da contusão, Luan participou da campanha do Voltaço que chegou à semifinal da Taça Guanabara, sendo eliminado após ficar no 1 a 1 com o Boavista, que tinha a vantagem do empate, e que caiu para o Flamengo também na semifinal da Taça Rio, após deixar o Vasco pelo caminho duas vezes. Na sequência da temporada, disputou a Série C do Campeonato Brasileiro.
Hoje Luan é quem comanda a defesa do Esquadrão de Aço, e quem diz isso é seu próprio companheiro posição, Gabriel Pereira, que hoje também é titular do time, e esteve ao lado do xerife pela primeira vez na Série C do ano passado.
"Ele é um líder dentro e fora de campo. Um atleta que tem toda uma história no clube, formado na base como eu, e acho que não tem ninguém como ele que possa me ajudar a subir na carreira, por já ter vivido o que estou vivendo hoje aqui no Volta Redonda", conta Gabriel.
Antes do Voltaço
Mas até se tornar referência na zaga do Voltaço, Luan rodou muito em busca do seu sonho, e teve frustrações, quase desistência e conquistas.
Lá no início dos anos 2000, entre os períodos que passava estudando e ajudando seu pai no bar que tinha onde moravam, no município de Valença, a cerca de 150 km da capital fluminense, o menino gostava jogar bola.
O futebol esteve presente em sua vida desde sempre. “Comecei a jogar bola com sete anos de idade, porque tive um tio que foi profissional, inclusive jogou no Volta Redonda, e ele já tinha uma escolinha em Valença, então desde muito novo eu ia para o campo com ele, e comecei a jogar por lá”, lembra.
O tio a quem Luan se refere é Luiz Antônio de Assis, o Wil, meia-esquerda do Voltaço no final dos anos 1980, e que tem uma escolinha de futebol em Valença, o Sport Clube Benfica.
Ainda criança, na escolinha de Wil, Luan já chamava atenção e, pela primeira vez, cruzou o caminho do técnico Neto Colucci, que atualmente é seu treinador no profissional do clube. Neto lembra que há mais de duas décadas, quando treinava os garotos do Colégio Santos Anjos, do município fluminense de Vassouras, e foi enfrentar o Benfica de Valença. "Naquele momento eu já percebi o talento dele e pedi para buscar para jogar comigo no sub-13."
Mais tarde, o tio Wil também foi responsável pelo início da carreira de Luan no Volta Redonda, jogando pelo sub-20 do clube, em 2007. Mas dois anos antes disso, o sonho do zagueiro começava a caminhar com passos mais firmes quando ele deixou a família em Valença para viver a mais de 900 km de distância, e jogar na categoria juvenil do Joinville, no norte de Santa Catarina.
Na cidade catarinense, Luan morava em um alojamento embaixo da arquibancada do estádio, e estudava o segundo ano do ensino médio por lá mesmo. “Eu nunca abandonei os estudos, e sempre conciliei com a minha paixão”. E a vida era só isso. Sem a família, sem os amigos que sempre estiveram lado a lado. Era apenas o foco no objetivo, compartilhando espaço com outras dezenas de garotos que tinham o mesmo sonho.
De volta a Valença
Em 2006 tudo ficou mais pesado. Mesmo depois de ser aprovado em um teste que fez para jogar no Fluminense, ele estava desanimado e a vontade de estar ao lado da família e amigos era grande demais. Luan voltou para Valença, focou em terminar o ensino médio, e viu distanciar — ainda que momentaneamente — o desejo de jogar profissionalmente.
Aí volta o tio Wil para história. No começo de 2007 o ex-jogador leva o sobrinho para fazer um teste no Volta Redonda. Luan arregaça, joga muito, é aprovado e fica novamente animado e esperançoso. Aos 18 anos, passa a fazer parte do time sub-20 do Voltaço, e a história começa a ser escrita.
Luan fazia dupla de zaga com Dedé, atleta que tem passagem inclusive pela Seleção Brasileira. Os parceiros eram fortes, difícil de passar por eles. Tanto que subiram juntos e começaram a integrar o elenco profissional do Volta Redonda. “Jogamos algumas partidas no profissional, e até hoje a gente mantém a amizade, eu fico muito feliz por tudo que ele conquistou”.
Depois do Volta Redonda, Dedé foi contratado pelo Vasco e, posteriormente, foi para o Cruzeiro. Já Luan manteve contrato com Voltaço ininterruptamente até 2016. No entanto, como o time do interior do Rio de Janeiro disputava apenas o estadual no começo do ano, precisava emprestar seus jogadores com contratos mais longos para equipes que tinham o calendário mais cheio. Foi nessa que o zagueiro passou a vestir a camisa de outros clubes.
Em 2010, Luan foi emprestado ao Goytacaz, onde conseguiu fazer a melhor campanha da equipe na Copa Rio, sendo terceiro colocado da competição que reúne os clubes do Estado do Rio de Janeiro que estão fora da primeira divisão do estadual e não disputam nenhum campeonato nacional.
Nos dois anos seguintes, vestiu a camisa do Barra Mansa, também em torneios fluminenses, até chegar sua oportunidade de disputar pela primeira vez o Campeonato Brasileiro. Com o fim do Campeonato Carioca, foi emprestado para o Tombense, de Minas Gerais, que havia sido campeão da Série D e pela primeira vez em sua história disputaria a Série C.
O Tombense fez um campeonato razoável, cumpriu o objetivo de se mantar na terceira divisão nacional, mas não passou da primeira fase. O empréstimo de Luan acabou e ele voltou para o Volta Redonda, para iniciar a temporada 2016. E é uma temporada memorável para o Voltaço e para Luan, mesmo com uma bifurcação no caminho.
Título e Europa
O Campeonato Carioca começa e Luan está na zaga do time que entra para história do Volta Redonda, ao conquistar pela primeira (e única) vez a Taça Rio. Com o fim do estadual, Luan rescinde o contrato com o Voltaço e acaba o vínculo com o clube após quase uma década de sua chegada.
Vida que segue para ambos. No mesmo ano, o Volta Redonda conquista o maior título da sua história, sendo campeão invicto do Campeonato Brasileiro Série D, em 1º de outubro de 2016, após golear por 4 a 0 o CSA, no estádio Raulino de Oliveira. E essa caminhada, que culminou no título que se transformou em uma estrela no escudo do clube, começou em 12 de junho de 2016, em uma vitória por 4 a 0 contra o Goianésia.
Menos de três semanas depois do início da trajetória histórica do Voltaço, Luan escreve uma história importante em sua vida. O zagueiro havia rescindido contrato com o time fluminense após receber uma proposta para se mudar para Moldávia, país do leste europeu que tem a população sete vezes menor do que a do Estado do Rio de Janeiro, e em 30 de junho de 2016 ele entrou em campo como titular do Zimbru, para disputar uma partida da Liga Europa — a segunda competição mais importante do futebol europeu — contra o Chikhura Sachkhere, da Geórgia.
Nessa primeira partida, o Zimbru perdeu de 1 a 0, jogando em Moldávia. Mas no jogo de volta, na Geórgia, o time de Luan ganhou de 3 a 2 e graças aos gols marcados fora de casa passou para a segunda fase pré-eliminatórias.
O segundo adversário foi o Ankaraspor, da Turquia. Na primeira partida, O Zimbru empatou em casa por 2 a 2, e foi para o jogo fora com o resultado em aberto. Mas não teve jeito, no confronto de volta os turcos meteram 5 a 0 e acabaram com o sonho da equipe de Luan seguir na competição. Depois disso, o caminho do zagueiro brasileiro em Modávia foi chegando ao fim.
“Foram cerca de sete meses no Zimbru. Cheguei no início da temporada e no meio o clube acabou trocando de presidente, mudaram muitas coisas e eu acabei optando por rescindir o contrato e voltar para o Brasil. Foi uma experiência bacana, conhecer outro país, outra cultura, conhecer de perto um pouco do futebol europeu e disputar as fases eliminatórias da Liga Europa foi incrível”, lembra o zagueiro. Essa foi a primeira vez que ele saiu do Brasil, e graças ao futebol.
A marca negativa
De volta à sua terra e suas cores. Luan retornou em 2017, novamente contratado pelo Voltaço para disputar o Campeonato Carioca e o Campeonato Brasileiro Série C.
No estadual, o Volta Redonda perdeu nos pênaltis para o Nova Iguaçu a final da Taça Guanabara e depois, na semifinal da Taça Rio, para o Boavista (os dois eram a disputa do quadrangular extra, que não contava com a presença dos quatro grandes).
Na Série C, a equipe de Luan passou da primeira fase, ficando na quarta colocação em um grupo com 10 times e que teve como um dos eliminados o Bragantino (hoje no Brasileirão Série A). Mas acabou caindo nas quartas de final, a um passo de se classificar para Série B, após uma derrota de 1 a 0 e um empate em 1 a 1 contra o Sampaio Correia.
Já 2018 começou diferente. O zagueiro não iria vestir as cores do Voltaço para disputar o estadual, e sim da Portuguesa-RJ. E foi justamente esse o pior ano da sua carreira.
“Fizemos uma campanha histórica no Campeonato Carioca, porém, depois do estadual tive uma lesão no tendão de Aquiles e acabei precisando operar. No início, a recuperação estava prevista para cinco meses, mas eu acabei ficando um ano e meio parado. Foi o período mais marcante negativamente para minha carreira. Fiquei dois anos na Portuguesa, sendo que um e meio foi recuperando de lesão”, conta Luan.
Parece que é uma sina, e o zagueiro retorna ao Volta Redonda para terminar de se recuperar da lesão e novamente disputar uma temporada pela equipe que o formou.
Pouco mais de um mês depois da volta de Luan aos gramados, o futebol no país precisou ser paralisado por causa da pandemia do coronavírus. Quando a bola voltou a rolar, Luan terminou o estadual e ficou em 13º na Série C com o Voltaço, começando a atual escrita, com Neto Colucci no comando técnico do time.
Luan ganhou a bracadeira de capitão, e Neto acredita que o zagueiro pode comandar o time para alcançar chegar pelo menos na semifinal do estadual, passar três fases da Copa do Brasil e conquistar o acesso à Série B do Brasileiro, que são os objetivos do clube. Além disso, "como veio da base e passou o mesmo caminho que esses meninos que daqui estão passando hoje, ele tem um carinho especial em tentar fazer com que todos sigam o mesmo caminho que dele, e fazer uma passagem de bastão".
E em um 2021 que certamente não será nada comum no mundo (muito além do futebol), a frase de Luan para começar a temporada pode ser padrão: “A equipe está muito bem treinada pelo professor Neto, o período preparatório foi muito positivo e temos expectativas boas para o campeonato estadual, esperamos fazer uma grande campanha.”
Do R7
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