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sábado, 8 de agosto de 2020

Causos & Lendas do Nosso Futebol: Você se Lembra do Futebol de Travinha?

Foto: Divulgação

Em toda rua de antanho havia um terreno abandonado, também chamado de terreno baldio. Ali, naquele pequeno espaço físico os adolescentes utilizavam enxadas, carro de mão, ciscador, pá, facão, foice e outros instrumentos para limpar e aplanar o terreno. Em suas extremidades eram colocadas as pequenas traves feitas de barrotes, troncos de coqueiro, canos e caibro de madeira.
A bola era de borracha, dente de leite ou a saudosa bola de futebol de salão, comprada através de uma vaquinha na qual todos cooperavam. Não tinha goleiro nas partidas, todos atacavam e defendiam, porém sempre tinha um na retaguarda para impedir que a pelota conseguisse ultrapassar aquele desenho geométrico.
Os times eram decididos e escalados através do par ou ímpar, sendo os melhores atletas tirados no início e os demais sucessivamente. Normalmente cada equipe possuía quatro jogadores, um recuado, dois nas extremidades e um pelo meio.
Nada impedia, dependendo do tamanho do campinho, que as equipes jogassem com cinco ou seis ou até mesmo com três atletas. Ali, naquele espaço físico, você conseguia desenvolver vários fundamentos do futebol, aprimorando uma técnica refinada e necessária de domínio de bola em um espaço bastante resumido. Excelentes jogadores de futebol de campo e de salão iniciaram nas peladas do antigo futebol de travinha.
Modalidade essa que também era exercitada no pátio das escolas, em ruas com pouco trânsito, nas pracinhas e na beira da praia com a ajuda da maré baixa.  Sim, caríssimo leitor, com oito ou dez adolescentes se conseguia uma tarde inteira de divertimento com saúde e bastante ar puro. Jogávamos o ano inteiro, com sol ou com chuva.
Torneios eram organizados e jogados com acirrada disputa. Jogavam entre si o time da rua, o time da rua lá de cima, o time da rua de baixo e o time do bairro vizinho. Ao final o campeão, o vice e os artilheiros ganhavam medalhas compradas no Rei dos Esportes e todos tomavam refresco de Ki-suco de uva com delicioso pão doce na mercearia da esquina.
Infelizmente a especulação imobiliária acabou com esses espaços de lazer, diversão e esporte que muito contribuiu com a formação dos nossos jovens. O poder público, quase sempre distante da realidade das comunidades, não preservou esses espaços e encheu as nossas praças de pistas de skates, anfiteatros e outras alienígenas formas de divertimento, que não tenho nada contra, mas que poderiam caminhar lado a lado com os nossos campinhos ou quadras de futebol de salão.
Eu nunca fui técnico de futebol nem comentarista esportivo, todavia sempre observei que os treinadores profissionais diminuem os espaços do campo para executar os seus treinamentos com bola. Claro, óbvio! Quem domina a bola e consegue sair da marcação em um pequeno espaço físico, com certeza o fará com mais facilidade e eficiência em um espaço grande.  Já o contrário não surte o mesmo efeito benéfico. Como diria Nelson Rodrigues: “Isso é o óbvio ululante!”.
Pois bem! Dito isso, gostaria de parabenizar os desportistas que criaram a CBFT -, Confederação Brasileira de Futebol de Travinha. Entidade que organizará, difundirá e disciplinará essa modalidade em nosso território. A confederação, com o apoio das atuais dezesseis federações estaduais, pretende massificar, como no passado, esse celeiro que formou muitos craques em nossos bairros, colégios, clubes e periferia.
E para aumentar ainda mais a nossa alegria, esse movimento nacional começou com muita robustez na nossa querida Paraíba, através do incansável trabalho do desportista Valmir Junior Silva, que colheu bastante resultados ao ponto de hoje termos o paraibano Thámate Pinto como presidente recém eleito da CBFT.
Ao lado de desportistas como Valmir Júnior, Gilson Fernandes e outros abnegados profissionais do esporte, tenho certeza que o competente e experiente executivo Thámate Pinto irá realizar uma exitosa gestão, um trabalho digno em prol da raiz do nosso rico e histórico futebol brasileiro.
Quem sabe se em breve não voltaremos a ter diálogos como esse aqui: “Eu sou par! Eu sou ímpar!”, “Quatro é par”, “Ganhei!”, “Eu tiro Édson”, “Qual Édson?”, “Aquele pirralho escurinho ali, apelidado de Pelé!”. 

Serpa Di Lorenzo
Historiador, Membro da ACEP e APBCE
falserpa@oi.com.br

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