Ministério Público vê ilegalidades em jogo-treino na Paraíba e vai pedir que a Polícia apure os fatos(Foto: Ramon Smith / Perilima) |
Depois de 115 sem futebol na Paraíba, por conta da pandemia do novo coronavírus, a bola voltou a rolar no estado nesse sábado, para um jogo-treino entre Treze e Perilima. A partida - de caráter não oficial - foi realizada no Estádio Presidente Vargas, em Campina Grande. Mas, para o Ministério Público da Paraíba (MPPB), a realização desse jogo - mesmo que não oficial - fere um decreto da Prefeitura Municipal, que ainda proíbe eventos esportivos na cidade. O procurador de Justiça Valberto Lira chamou de irresponsáveis os dirigentes dos dois clubes e prometeu ir à Polícia Civil para que sejam apuradas não apenas as responsabilidades das diretorias, mas também do secretário de Saúde de Campina, Filipe Araújo Reul, que foi quem assinou memorando autorizado o jogo-treino.
Valberto Lira se pronunciou pouco depois da realização do jogo-treino no Presidente Vargas, vencido pelo Treze por 3 a 0. O procurador do Ministério Público tratou como lamentável o fato de dois clubes profissionais terem se enfrentado - mesmo que em partida amistosa - quando, segundo ele, o MP tem posse de um decreto da Prefeitura de Campina Grande ainda proibindo esse tipo de evento.
- Infelizmente, somos surpreendidos mais uma vez com a irresponsabilidade dos dirigentes em realizarem um jogo desse. E, o que é pior, fomos também surpreendidos com um memorando do secretário de Saúde do município de Campina Grande autorizando a realização de um jogo quando nós temos aqui um decreto do próprio prefeito (Romero Rodrigues) regulamentando, dizendo da proibição da realização dos jogos, liberando apenas treinos - argumentou Valberto.
Vale lembrar que os treinos dos clubes profissionais em Campina Grande estão autorizados desde o dia 24 de junho. Isso depois de o Governo do Estado ter liberado as atividades a partir de 15 de junho, mas deixado a cargo das prefeituras as suas respectivas liberações locais. Os eventos esportivos, no entanto, só devem ser autorizados a partir desta segunda-feira, como parte do processo de flexibilização em meio ao enfrentamento à pandemia.
O fato é que parece haver uma controvérsia sobre quais tipos de práticas esportivas dos clubes profissionais já estão liberadas e quais seguem proibidas. Os treinos estão autorizados. Os jogos oficiais ainda não. Mas e os jogos-treinos e os amistosos? Como ficam?
O secretário de Esportes de Campina Grande, Asfora Neto, por exemplo, entende que, se os treinos estão liberados na cidade, os jogos-treinos também estão.
- No meu entendimento, se estão liberados os treinos, então não faz diferença se será entre os membros de um mesmo time ou se será contra outro time. De toda forma, poderá haver contato físico. O que não pode no momento é ter torcida, imprensa, nada que gere aglomeração de pessoas - opinou o secretário de esporte em entrevista ao GloboEsporte.com na última quinta-feira.
Esse parece ter sido também o entendimento do secretário de Saúde, Filipe Reul, que emitiu memorando autorizando a realização do jogo-treino entre Treze e Perilima. Filipe assinou o documento dando o aval para que a partida desse sábado fosse realizada e o encaminhou à secretaria de Esportes. Tanto Asfora Neto quanto Filipe Reul entendem o duelo no PV como um tipo de treino e não de evento esportivo ou partida oficial.
- O Treze Futebol Clube fez o protocolo, questionando a Secretaria de Saúde de Campina Grande sobre a possibilidade desse evento, e a Vigilância em Saúde já despachou, autorizando a realização - comentou Filipe Reul também na última quinta-feira.
Valberto Lira, no entanto, não interpreta esse jogo entre Treze e Perilima da mesma maneira que o secretário de Saúde e o de Esportes de Campina Grande. Para o procurador do Ministério Público, a partir do momento em que o evento reúne dois clubes distintos, já configura uma partida, o que, segundo ele, ainda está proibido em Campina Grande.
- Treinos, pelo que se entende do futebol, são apenas entre jogadores do mesmo clube. Quando existe uma disputa com outro clube, logicamente caracteriza uma disputa de um jogo. E, segundo o decreto que temos em poder do Ministério Público, em Campina Grande não poderia haver jogo - esclareceu.
- É lamentável sob todos os aspectos - completou Valberto Lira.
MP vai levar o caso à Polícia
O Ministério Público da Paraíba (MPPB), de posse das imagens do jogo-treino entre Treze e Perilima - que, inclusive, teve transmissão da TV13, canal oficial do Galo no YouTube -, decidiu levar o caso à Polícia Civil. Segundo o procurador Valberto Lira, a intenção é que os dirigentes dos dois clubes e também o secretário de Saúde de Campina Grande, Filipe Reul, sejam responsabilizados pelo que o MP trata como infração a um decreto da Prefeitura Municipal.
- Na segunda-feira, estaremos encaminhando à delegacia de Polícia Civil competente um ofício pedindo a apuração das responsabilidades, tanto do secretário, que, por memorando, contrariou um decreto do prefeito de Campina Grande, como dos clubes que realizaram esse jogo. É inadmissível que Campina Grande queira se notabilizar (e nós sabemos que não, mas pelo menos alguns dirigentes de clubes e agora um administrador) pelo senso de irresponsabilidade, quando todos estão sabendo da situação nossa.
Valberto, inclusive, lembrou que na última quinta-feira participou de reunião com a Federação Paraibana de Futebol (FPF) para tratar de medidas que precisam ser seguidas neste momento de retomada do futebol na Paraíba. Ele não deixou claro se chegou a dialogar com os clubes sobre o assunto, mas reiterou que o Treze, a Perilima e o secretário de Saúde de Campina Grande precisam ser responsabilizados.
- É lamentável. Mas ao Ministério Público não cabe outra alternativa. Acordamos na quinta-feira o que deveria ser cumprido, e hoje (sábado) somos surpreendidos com uma situação dessa. Quem infringiu um decreto, quem autorizou através de um memorando um jogo em desacordo com um decreto, logicamente terá que ser responsabilizado, como também serão responsabilizados os dirigentes dos clubes.
O GloboEsporte.com entrou em contato com as três partes citadas por Valberto. O Treze, através da sua assessoria de imprensa, disse que não vai se manifestar sobre o assunto. O presidente da Perilima, Jailton Oliveira, explicou que vai analisar o caso antes de emitir um posicionamento. E o secretário de Saúde de Campina Grande, Filipe Reul, informou que não havia sido notificado ainda sobre quaisquer irregularidades, mas que emitiria uma nota sobre o tema.
E o protocolo? Foi seguido?
Valberto Lira também argumentou que o protocolo apresentado pela Federação Paraibana de Futebol (FPF) foi desrespeitado no jogo-treino entre Treze e Perilima, nesse sábado, no Presidente Vargas, em Campina Grande. Ele, no entanto, falou de forma abrangente, sem dar detalhes sobre que medidas teriam sido descumpridas.
- As imagens são totalmente contrárias ao que o protocolo apresentado pela Federação normatiza - resumiu Valberto.
O GloboEsporte.com ainda não teve acesso à versão final do protocolo elaborado pela FPF, com base no protocolo da CBF, e alterado com a participação dos clubes que disputam a 1ª divisão do Campeonato Paraibano. Segundo o diretor executivo da Federação, Otamar Almeida, esse protocolo só vai ser apresentado à imprensa quando o Governo do Estado confirmar que o cronograma estabelecido para a sequência de jogos do estadual já pode ser posto em prática, o que só deve acontecer nesta segunda-feira.
Várias medidas de segurança foram adotadas por Treze e Perilima nesse jogo-treino, mas pelo menos uma delas, que consta no protocolo da CBF, não foi respeitada: na comemoração dos gols, os jogadores do Galo se abraçaram.
Como já vem acontecendo em outros estados brasileiros onde o futebol já foi reiniciado, os jogadores, mesmo orientados a comemorar individualmente os gols, evitando abraços e contatos físicos mais efusivos, seguem festejando em grupo, inclusive com abraços coletivos. No jogo-treino no PV não foi diferente. Nos gols marcados por Alexandre Santana, Guilherme e Douglas Lima, os atletas do Treze se abraçaram.
No mais, o protocolo parece ter sido seguido (lembrando que a FPF ainda não disponibilizou a versão final do seu protocolo): não houve presença de torcida nas arquibancadas, nem de profissionais da imprensa (a não ser os da TV13, que transmitiu o jogo).
Fora de campo, os treinadores quase sempre estavam usando máscaras, e os jogadores reservas também, a não ser quando estavam no aquecimento. No momento das paradas técnicas, cada jogador do Treze, onde a câmera da TV13 dava predileção às imagens, estava com a sua garrafa, de uso individual, diferentemente das habituais trocas e rodízios constantes do objeto. Membros da comissão técnica, incluindo o treinador Moacir Júnior, estavam sempre equipados com a máscara na hora de passar as instruções aos atletas.
Quanto aos exames para detectar se as pessoas estão ou não com a Covid-19, Treze e Perilima não confirmaram se os envolvidos no jogo-treino de ontem passaram por uma nova testagem pouco antes de irem ao estádio. O que se sabe, até então, é que todos foram examinados em massa pouco antes de retomarem seus treinamentos (que foram reiniciados no dia 29 de junho nos dois clubes); alguns jogadores, que se reapresentaram depois desse dia, foram examinados à parte. Mas o secretário de Saúde de Campina Grande disse que não.
- Desde o retorno dos treinos que a gente vem fazendo testagem nos times aqui de Campina Grande. Na última quinta-feira, fizemos testes em novos jogadores de Treze e Campinense também. Ontem (sábado) não. Mas os jogadores ainda estão dentro da janela de 14 dias da primeira testagem - explicou Filipe Reul.
O Campeonato Paraibano tem reinício marcado para a próxima quinta-feira, com Botafogo-PB e Campinense se enfrentando em João Pessoa. A FPF, inclusive, já divulgou detalhes desse jogo e de todos da rodada #9. O Ministério Público promete fiscalizar se essas partidas vão acontecer dentro dos limites de segurança que foram previamente estabelecidos.
Por Cadu Vieira
Globoesporte.com
João Pessoa
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