João Rodolfo entende que não é momento de se pensar o retorno do futebol no Brasil — Foto: Acervo pessoal / João Rodolfo |
O futebol paraibano está suspenso há dois meses e meio, mais precisamente desde o dia 19 de março. De lá para cá, a situação no estado está cada vez mais complicada: o novo coronavírus avança pelos municípios e castiga principalmente João Pessoa, a capital. Em meio aos prejuízos provocados pelo avanço da pandemia - que já matou 438 pessoas em solo paraibano até essa quinta-feira, segundo informações da Secretaria de Saúde do Estado (SES) -, clubes e Federação projetam a retomada das atividades para o próximo dia 15 com os jogos do estadual sendo retomados já em julho. Só que um médico que está na linha de frente do combate à Covid-19 entende que é muito precoce cogitar a volta do futebol neste momento. Inclusive, segundo João Rodolfo Moura, um retorno, com segurança, do campeonato estadual só deve acontecer em outubro ou novembro.
João reconhece que essa previsão de retomar o futebol só daqui a três ou quatro meses é muito perigosa para a saúde financeira dos clubes e também para os profissionais que fazem parte dessa categoria. O médico, que atua numa Unidade Básica de Saúde de João Pessoa, espera que a curva de contágio comece a diminuir a partir de julho ou agosto. Se isso acontecer, ele considera que os clubes possam voltar a conversar sobre o retorno, algo que, segundo ele, só poderia acontecer com segurança em outubro ou novembro.
– O retorno, neste ano, vai depender muito do que vai acontecer nestes próximos meses. Se a curva começar a decrescer a partir de julho ou agosto, que é a melhor hipótese no momento, talvez em outubro ou novembro a gente consiga o retorno do futebol paraibano. Mas, sendo mais realista, acharia mais seguro o retorno no ano que vem – esclarece o médico.
O pensamento do profissional de saúde é pelo menos 75 dias mais precavido e cauteloso que os da Federação Paraibana de Futebol (FPF), que reuniu cinco dos 10 clubes da 1ª divisão na última quarta-feira e admitiu a possibilidade de que os treinos sejam retomados já no próximo dia 15, com a continuação e a finalização do Campeonato Paraibano acontecendo entre os dias 5 e 26 de julho, pelo menos dois meses antes do que o médico João Rodolfo considera seguro.
A ideia da FPF é que o protocolo de segurança elaborado pela CBF - e que já foi apresentado aos clubes - seja avaliado pelos departamentos médicos de cada agremiação, passe por melhoramentos, se assim os clubes entenderem que é necessário, e seja definitivamente aprovado para ser posto em prática nesta retomada. Uma reunião com os médicos de todos os clubes, inclusive, está marcada para esta sexta-feira. No entanto, a ideia de voltar às atividades já no próximo dia 15 depende também de como estiver o enfrentamento do Estado ao avanço da Covid-19.
Vale ressaltar que, no Brasil, é possível que a curva decresça em alguns estados antes de outros, resultando na volta do futebol em alguns centros, enquanto outros vão precisar ser mais pacientes.
No entanto, cabe entender que, mesmo na Alemanha, referência no combate ao novo coronavírus e que já retomou o campeonato nacional, é possível que os casos aumentem com a volta do futebol. Inclusive, alguns jogadores devem se contaminar nas próximas semanas, mesmo com os protocolos de segurança. Afinal, a Covid-19 é muito contagiosa e o futebol é coletivo, de contato.
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Por causa desse contato, é inviável promover um retorno acelerado do futebol no Brasil, terceiro país no mundo com mais casos confirmados da doença: são 615.870 mil até essa quinta-feira, com 34.039 mortes registradas.
Além disso, o médico destaca que dificilmente todos os times paraibanos vão conseguir realizar testes nos jogadores, na comissão técnica, nos dirigentes e nos familiares que possuem contato com eles. Vale ressaltar que alguns grandes clubes do Brasil - como o Flamengo, por exemplo - realizaram esse tipo de procedimento, um investimento alto.
– Eu sei das dificuldades dos clubes, dos jogadores. Mas eu não sei se a gente teria uma estrutura tão boa quanto a de centros maiores do país. Porque, quando as coisas melhorarem, os clubes terão que testar jogadores, dirigentes, os demais membros das equipes e também os familiares. Eu acho muito difícil que consiga comportar tanta gente. Apesar das testagens, o Brasil está sofrendo no dia a dia com o avanço da doença. Considero inviável o retorno do futebol no país como um todo, seja em qualquer estado. Como disse, eu entendo as dificuldades dos clubes, mas o que está em pauta, no momento, é salvar o maior número de vidas. E aglomerar pessoas é muito prejudicial – avalia João Rodolfo.
Por fim, o médico foi questionado sobre o desejo de alguns dirigentes paraibanos, como Walter Cavalcanti Júnior, presidente do Treze, que prefere que o retorno do futebol seja com a presença de público. Sobre isso, o médico descarta qualquer possibilidade; segundo João Rodolfo, mesmo que a bola volte a rolar em segurança, esse tipo de aglomeração vai demorar para acontecer novamente.
– Futebol com público não vai rolar de jeito nenhum. Se, na Alemanha, que controlou bem a doença, voltou sem a presença do torcedor, imagine aqui no Brasil. Não tem nenhuma condição de isso acontecer – concluiu.
Vale destacar que, em caso de volta do futebol, com os treinamentos, os clubes se tornam responsáveis pelos seus contratados. Ou seja, a responsabilidade é totalmente das agremiações em caso de contaminação pela Covid-19. Isso, é claro, se as atividades voltarem nos centros de treinamento.
O novo coronavírus é uma doença séria, muito contagiosa e fatal. Por isso, Atlético-PB, Botafogo-PB, Campinense, Treze e companhia seguem tendo diálogos com a Federação, que pretende estreitar os laços com os órgãos de saúde para que todos cheguem a um denominador comum. Por enquanto, o mais importante é manter os seus profissionais saudáveis.
Por Cisco Nobre
Globoesporte.com
João Pessoa
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