CBF destinou dinheiro para os clubes da Série A1 e A2 do Brasileirão Feminino — Foto: GloboEsporte.com |
A pandemia do novo coronavírus escancarou ainda mais o amadorismo do futebol feminino no Brasil. Os R$ 3,7 milhões cedidos pela Confederação Brasileira de Futebol, na primeira quinzena de abril, aos 52 times das Séries A1 e A2 do Campeonato Brasileiro não foram suficientes para amenizar os problemas das atletas, nem evitaram o desamparo durante a paralisação dos campeonatos.
Ao distribuir a verba, a CBF não impôs condições nem exigiu contrapartidas aos clubes. Foram doados R$ 120 mil para cada um dos 16 times de elite do futebol feminino nacional e R$ 50 mil para cada um dos 36 times da segunda divisão.
O resultado: inúmeros problemas no repasse do dinheiro às atletas em diversos clubes. A reportagem do GloboEsporte.com apurou a situação de clubes por todo o país e traça abaixo um panorama da situação.
Dispensas, calotes e problemas
No Grupo F da Série A2 do Brasileiro, o Brasil de Farroupilha (Serc Brasil) recebeu R$ 50 mil, mas, de acordo com atleta ouvida pela reportagem, nada foi repassado para elas, que já não recebem salário para jogar pelo clube no torneio. Normalmente, recebem apenas ajuda de custo para os deslocamentos. Como no amadorismo, todas têm outros trabalhos para se sustentarem.
Elenir Luiz Bonetto, presidente do Brasil-FA, diz que o elenco atual conta com 37 atletas, nenhuma com registro profissional, e que o projeto tem pouco mais de três anos. Segundo ele, as atletas do Serc Brasil recebem ajuda de custo de acordo com as diretrizes internas e não por partida. Os treinamentos são noturnos, já que quase todas têm outros trabalhos paralelos durante o dia.
A CBF cobre as despesas dos times nos jogos do Brasileiro, pagando até R$ 10 mil (como reembolso) para cada clube nos jogos como mandante e R$ 5 mil nas partidas disputadas como visitante.
Sobre o dinheiro, Elenir disse que não é um "prêmio", mas algo para ajudar a custear as despesas. Ele diz que o clube não divulga diretrizes financeiras, mas tem trabalhado por melhorias e para dar suporte às atletas. E que o dinheiro servirá para "estancar o déficit do departamento feminino, e está sendo canalizado nele". "Também podemos assegurar que todas as diretrizes e determinações passadas pela CBF com relação a isso estão sendo seguidas à risca", completou.
O Juventude Timonense, do Maranhão, também passa por problemas semelhantes. A reportagem teve acesso a uma mensagem enviada pelo presidente Jorge Simplício às jogadoras em um grupo de WhatsApp, na qual ele comunica o fim das atividades do futebol no clube. E completa dizendo que o time seria remontado quando a paralisação por causa da pandemia acabasse. Antes, já havia dispensado sete atletas. Segundo ele, todas por indisciplina.
Procurado pela reportagem, Simplício alegou que a mensagem foi enviada apenas para as jogadores que foram mandadas embora. Ele diz que ainda mantém 18 atletas no time, embora tenha um grupo com menos jogadoras. Dez da lista de 18 enviada por ele foram registradas no BID da CBF entre os dias 10 e 12 de março deste ano, dias antes da pausa. O presidente afirma que a última ajuda de custo paga foi em abril e que o próximo pagamento será feito em maio. Além de distribuição de cestas.
– O clube está dando assistência para as atletas. Quem permanece no clube vai receber com ou sem pandemia. Mas quem pisar na bola aqui e não produzir direito, como em qualquer empresa, será demitida – disse, em contato com a reportagem.
Já no Auto Esporte, da Paraíba, quatro jogadoras foram desligadas no dia 5 de maio. Duas delas, Ysrayane Nogueira Alves e Emilly Pedrosa Bastos, foram ouvidas pela reportagem. Ambas asseguram que a demissão foi represália do presidente Helamã Nascimento pelos questionamentos sobre o destino dos R$ 50 mil doados pela CBF.
De acordo com as jogadoras (além da dupla, uma que ainda se mantém no elenco colaborou em condição de anonimato), foi prometido um pagamento de R$ 900 para os três meses, mas apenas parte do valor (R$ 400) foi depositado. Com um grupo de 31 atletas, o gasto, assim, não ultrapassaria R$ 12,4 mil. O comprovante de Emilly indica um depósito neste valor em 6 de maio, um dia depois do desligamento ser publicado no BID da CBF. Ela aguarda o restante do dinheiro.
– O clube nunca deu nada para nós. Chegou esse recurso da CBF, Helamã nem se importou de pegar o cheque para nos pagar e nós sempre cobrando ele. Leandro também sempre cobrou. Presidente botou ele para fora por isso. Fomos desvalorizadas, desrespeitadas. Estão à frente do feminino agora porque está entrando dinheiro. Queriam pagar R$ 300. Eu falei no grupo da diretoria, todas concordaram, que era pouco. Fui cobrar um direito nosso. Se esse dinheiro foi para o feminino, era para nós meninas. Ele disse que não teríamos direito de dar nossa opinião – acusou Ysrayane.
Também desligado no período pela direção do Auto Esporte, o auxiliar-técnico Léo Baiano afirmou que houve problemas no diálogo para a divisão do valor. Léo disse que custeou alimentação e outras despesas das jogadoras em 2019 junto com o técnico Guilherme Paiva sem auxílio do clube.
As quatro jogadoras dispensadas pelo Auto Esporte-PB em 5 de maio — Foto: CBF/Reprodução |
Helamã foi procurado pelo GloboEsporte.com no dia 9 de maio, por WhatsApp, e pediu para que as perguntas fossem enviadas por e-mail. Até a publicação desta reportagem, o e-mail não foi respondido. No início deste mês, quando as primeiras denúncias de atletas foram feitas, ele afirmou que "o dinheiro vai ser usado para fazer frente aos custos, o que inclui ajuda de custos, salários e para manter a estrutura pensando na volta do Brasileirão". No último dia 6, disse que a relação com o time feminino é "saudável".
Caso semelhante aconteceu na União Desportiva Alagoana (UDA), de Alagoas. As atletas foram avisadas de que receberiam R$ 250 cada uma "se quisessem, se não quisessem, seria nada". Com a repercussão negativa da falta de transparência dos clubes em repassarem o dinheiro da CBF às atletas, o presidente aumentou o valor do depósito para R$ 350. E mandou mensagem para uma das atletas que reclamaram, dizendo que "(...) se você achar que você pode receber mais do que isso procure seus direitos" (sic).
– Muitas atletas não sabiam que a CBF tinha liberado dinheiro para os clubes pagarem as atletas. Só vim saber quando o presidente pediu o número da minha conta pra depositar R$ 250 (em abril). Ele perguntou se era justo e eu falei que não. Agora em maio, depositou R$ 350. Hoje, há apenas nove meninas no alojamento. Ele só diz que o restante do dinheiro vai ser usado para despesas do clube, mas o clube só tem time feminino – afirma a meia-atacante da UDA Karen Gabriely.
Procurado, o presidente do clube, Adeilson Palmeira, afirmou que "o dinheiro da CBF chegou numa boa hora para ajudar financeiramente o clube, as atletas e a comissão técnica com ajuda de custo". E que espera continuar representando bem o clube e o estado de Alagoas.
As primeiras denúncias partiram de atletas do Santos Dumont, de Sergipe. Representante do grupo, a meia Lígia Montalvão registrou reclamação no Conselho de Ética da CBF porque o clube havia avisado que repassaria para as atletas cerca de R$ 15 mil dos R$ 50 mil que a entidade havia enviado, alegando que o restante seria usado para outras despesas.
– A CBF fez um cálculo que os R$ 50 mil para os times da Série A2 cobririam dois meses da folha. Mas não deixou claro que era para pagar as atletas. Ficou muito vaga a explicação que veio no recibo. Então, os clubes se aproveitaram disso. Aí nos times menores, os amadores, que sempre teve gente despreparada no comando, acontece isso – diz Lígia.
Segundo ela, o presidente do Santos Dumont, Jogival Melo Passos, nunca tratou diretamente com as atletas. E quem bancava o pagamento das atletas e os custos com acomodações, transporte, alimentação e outras despesas do time era o empresário Célio França. O empresário diz que não quer o dinheiro da CBF, mas também fez a denúncia no Comitê de Ética para as atletas receberem o valor integral.
Depois que as reclamações se tornaram públicas, o presidente do Santos Dumont aumentou para R$ 1.000 o valor para cada atleta e comissão técnica, distribuindo R$ 30 mil no total. As atletas continuaram insatisfeitas, questionando o que seria feito dos R$ 20 mil restantes.
O advogado do clube, Genisson Silva, enviou ao GloboEsporte.com ata de reunião do dia 29 de abril, posterior às reclamações das atletas. O documento, assinado pelo presidente Jogival, explica a distribuição dos R$ 30 mil para atletas e comissão técnica até o dia 6 de maio e diz que os R$ 20 mil serão usados para bancar despesas dos quatro jogos restantes que serão disputados quando o Brasileiro for retomado.
E diz ainda que o empresário Celio França foi "responsável por um patrocínio, por acompanhar a equipe, mas que não faz parte da diretoria".
– Toda operação financeira do clube é via banco, com comprovação. E lembro que não existe contrato de atleta profissional, em razão de a atividade ser tipificada como esporte amador. O clube foi surpreendido com algumas notícias porque ainda estava em fase de levantamento das despesas que já existiam e precisam ser pagas. Despesas da competição ainda virão e, com a pandemia, os poucos patrocínios foram cancelados. A prática do clube é usar as ajudas e contribuições de forma responsável – disse o advogado.
Documento do Santos Dumont, assinado pelo presidente Jogival Melo Passos — Foto: Reprodução |
Ameaças e medo
A maioria das atletas não quer se identificar porque teme ser dispensada e, além de não receber pagamento, ter de sair do alojamento do clube. Várias delas são de outros estados. Foi o que aconteceu com a volante Samara Dias, do Atlético-GO. Ela foi dispensada depois de cobrar o pagamento que havia sido combinado em março, quando contratada pelo clube.
– Quando conversei com a coordenadora do Atlético, foi acordado um valor de R$ 500 de ajuda de custo, premiação por vitória e empate, e alojamento. Mas não recebi nada de ajuda de custo e muito menos salário, desde o dia 3 de março, quando cheguei no Atlético Goianiense, somente alojamento e alimentação. Deram R$ 100 de ajuda para a passagem de volta (a Brasília), quando liberaram por conta da pandemia – diz Samara.
– Durante o mês que fiquei no clube, a todo tempo falavam que não tinham dinheiro. Quando soube desse repasse da CBF, questionei o treinador e a coordenadora, e fui informada de que o valor que receberam da CBF era para cobrir gastos que tiveram com o feminino. E que não iam repassar nada para as atletas. Depois desse questionamento que eu fiz, fui dispensada da equipe, hoje não faço mais parte do elenco.
A coordenadora do departamento de futebol feminino do Atlético-GO, Isabela Borges, afirmou ao GloboEsporte.com que o time feminino foi montado às pressas porque era uma exigência da CBF. E admitiu que as atletas não recebem salário ou ajuda de custo, apenas alojamento e alimentação. Mas que parte da verba seria "revertida para ajuda às atletas".
– O repasse da CBF foi enviado sim, chegou no final da semana passada ao clube (fim de abril). O valor será totalmente revertido ao destino previsto pela CBF, o departamento feminino.
– Todos os contratos assinados pelas atletas são de vínculo não profissional, sem salário ou ajuda de custo, pois o Atlético foi o último time feminino a entrar na competição por exigência da CBF, e estamos iniciando um projeto que é novo para o clube. Mas com a pandemia do Covid-19 e a atual situação do mundo, parte da verba já foi revertida para ajuda às atletas. E o mês de maio outra parte também será para este custeio – disse a dirigente.
Sobre a dispensa de Samara e outras atletas, a coordenadora afirmou que os motivos foram "pandemia do covid-19, distância, baixo rendimento técnico, etc".
Dinheiro para outro rumo
O Sport, de Recife, cujo time masculino está na Série A do Campeonato Brasileiro, usou apenas R$ 10 mil para gastos com o elenco feminino, que disputa a segunda divisão do Nacional. O clube pernambucano alegou às jogadoras que os outros R$ 40 mil que recebeu da CBF seriam usados para despesas de lavanderia, escritório e pagamento de outros funcionários.
Uma das jogadoras do elenco ouvida pela reportagem contou que, quando atletas questionaram a razão de usar o dinheiro destinado ao feminino para outros setores, um membro da direção disse que "as incomodadas deveriam pedir as contas". A direção afirmou que a frase foi usada em um momento de tumulto no grupo. Sobre os pagamentos, as atletas alegam que foram pagos os meses de abril e março, com fevereiro ainda em aberto e maio incerto.
Desta forma, o clube pagou duas "folhas" de ajuda de custo em duas semanas (no fim de abril), cada uma no valor máximo de R$ 300 para as atletas. De acordo com André Andrade, da diretoria, a cúpula foi "honesta" com as atletas ao dar satisfações e as insatisfeitas são um grupo "de seis a oito atletas". Andrade também afirmou que procurou Romeu Castro, supervisor de futebol feminino da CBF, para ser orientado sobre como usar a verba, e ouviu que deveria custear duas folhas salariais – ou ajudas de custo no clube. Assim, não precisaria destinar todo o dinheiro ao elenco feminino.
André ainda afirmou que o dinheiro foi usado para "comprar coisas para modalidade jogar, pessoal da cozinha, auxiliares, pessoal que trabalha com documentação e comissão técnica. Esse dinheiro foi destinado ao departamento feminino. Orientação era pagar duas folhas de salário ou ajuda de custo e até farmácia, medicamentos, se alguém ficar doente e pegar coronavírus. E pagamos os funcionários que trabalham dentro da modalidade. Foi isso que fizemos". Assim, segundo ele, não houve descumprimento e nem desvio da finalidade do dinheiro.
No Botafogo, que também tem o time masculino na Série A do Brasileiro e o feminino na segunda divisão, o roteiro é semelhante. Uma das atletas diz que os salários já estavam atrasados antes de o Brasileiro ser interrompido. O clube havia pagado 23% do salário de fevereiro e completou o que faltava quando a CBF liberou a verba. Os meses de março e abril continuam em aberto. A diretoria do Botafogo admite os atrasos.
CBF tenta contornar
A CBF se surpreendeu com as reclamações das atletas divulgadas em redes sociais e na imprensa. O primeiro registro foi em abril, na conta "Diário Feminino", no Instagram. A entidade, então, passou a ligar para os clubes, exigindo que o dinheiro fosse usado para bancar dois meses de pagamentos às atletas, como dizia o texto divulgado no site da entidade no dia 6 de abril: "Entidade repassará às equipes que disputam as Séries C e D (do futebol masculino) valores equivalentes à média de duas folhas salariais dos atletas de cada competição. O mesmo apoio será dado aos participantes das Séries A1 e A2 do Campeonato Brasileiro Feminino."
Gustavo Teixeira, do Audax, de São Paulo, que disputa a primeira divisão do Brasileiro Feminino, admitiu ter sido um dos dirigentes que receberam a chamada. O clube tem folha salarial mensal de R$ 25 mil e recebeu R$ 120 mil.
– Antes de a imprensa publicar as matérias, em nenhum momento a CBF disse que era pra pagar as meninas. O recibo que eles mandaram pra gente assinar não diz nada disso. Depois das reportagens, da confusão toda, o Romeu da CBF me ligou e disse que era para as meninas. Aí, deixei claro que ia pagar, mas quando acabar o que vou fazer? Além do mais, o clube também tem time masculino, ao todo tem uma despesa mensal de uns R$ 500 mil. Usamos o dinheiro que a CBF tinha mandado para essas despesas. Agora, vamos tirar do nosso bolso, do patrimônio da família, e colocar pra pagar as meninas – diz Teixeira.
Recibo do Audax — Foto: Reprodução |
Romeu Castro também foi procurado pela nossa reportagem. Enviamos 11 perguntas sobre o assunto, mas a assessoria de imprensa respondeu apenas com o texto abaixo:
"Os clubes das séries A1 e A2 do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino receberam da CBF auxílio financeiro emergencial para cumprirem suas obrigações relacionadas à modalidade, especialmente para assegurar o pagamento e manutenção das atletas. O auxílio foi calculado pela média dos salários registrados das atletas para as competições que disputam. Porém, a entidade não tem ingerência na administração interna dos clubes", respondeu a CBF.
Sobre as demais questões, segue apuração da reportagem do GloboEsporte.com:
1) GloboEsporte.com: A CBF efetuou todos os depósitos para os 52 clubes das séries A1 e A2 do Brasileiro feminino em abril?
Todos os clubes receberam a quantia informada em nota publicada no site da entidade.
2) O recibo foi o mesmo para todos os clubes?
Não exatamente igual, mas os recibos foram simplificados, sem detalhar como os clubes usaram ou usariam o dinheiro.
3) A CBF acha que pode ter havido falta de comunicação e esclarecimentos aos clubes?
A reportagem apurou que a entidade considera que houve problema apenas com uma minoria dos clubes e que está resolvendo caso a caso.
4) O diretor-geral da CBF, Walter Feldman, afirma que a cobrança para que os clubes repassem o dinheiro para as atletas está muito grande. Como isso está sendo feito?
Desde que as primeiras reclamações de atletas foram publicadas em redes sociais e na imprensa, funcionários da CBF têm ligado para os clubes para que entrem em acordo com as atletas.
5) A CBF tem levantamento de quantos clubes ainda não repassaram a verba para as atletas como determinado?
A entidade não tem esse levantamento. E considera que está resolvendo internamente os problemas com alguns clubes.
6) A CBF recebeu alguma denúncia anônima nos canais de ética e atendimento do site da entidade?
Pelo menos uma denúncia foi feita, por atletas do Santos Dumont, de Sergipe. A CBF não informa sobre outros clubes, só diz que o canal está aberto para isso.
7) Algum clube já avisou à CBF que não vai conseguir disputar a competição neste ano? O clube que pedir desligamento em 2020, será punido com rebaixamento em 2021?
A reportagem apurou que a CBF não tratou desse assunto ainda com os clubes.
8) Algumas jogadoras estão sem receber por não terem contrato com o clube. Essa pandemia evidenciou a necessidade de profissionalização e fiscalização nos clubes para que não exista esse tipo de abandono?
A CBF disponibiliza canal na internet para receber reclamações de atletas, clubes ou federações, na página http://portaldegovernanca.cbf.com.br/orgaos-estatutários. Na página do canal de ética, trecho do texto de abertura diz que "Este espaço está aberto ao público que de alguma forma está envolvido com o futebol, desde torcedores, espectadores a fornecedores, colaboradores de entidades esportivas e atletas." A entidade não fala a respeito do amadorismo do futebol feminino no Brasil.
9) A Federação Paulista projeta isenção de punição para clubes que não conseguirem disputar o Campeonato Paulista. O mesmo pode acontecer em relação ao Brasileiro (A1 e A2)?
A reportagem apurou que a CBF prefere não discutir esse assunto neste momento.
10) Se a pandemia persistir e o futebol seguir paralisado, é possível que exista um novo lote de ajuda aos clubes femininos?
A reportagem apurou que a CBF estuda o caso. A verba liberada pela entidade no início de abril era para auxílio de dois meses, abril e maio.
11) Há alguma reunião prevista para tratar dos procedimentos e possível retorno aos treinos dos times? Como tem sido o contato com as federação para falar exclusivamente de futebol feminino?
A reportagem apurou que a CBF não tem reunião prevista com os times femininos.
Oásis na modalidade
Nem tudo é problema. Alguns clubes profissionalizaram o departamento feminino de futebol e registraram as atletas, casos de Bahia, Fortaleza e Ceará, por exemplo. Pelo menos nessas equipes, a reportagem não encontrou quem denuncie falta ou atraso de pagamento, apesar da liberação da verba da CBF. Quem conta uma dessas histórias é Edna Maria, zagueira e volante do Ceará.
Ela mora na Casa das Atletas, estrutura montada pelo clube, com outras 17 jogadoras. A casa tem cinco quartos, com quatro camas cada um, sala, cozinha, banheiros e quintal para lavanderia. As 25 atletas do time feminino têm registro em carteira.
– Tem até cachorro aqui na casa, o nome dele é Belami. Também vem uma cozinheira, Alessandra, chega às 6h e sai à tarde. Temos bom respaldo do clube, com todas as alimentações completas. Nunca tinha visto uma estrutura dessa. A única coisa que mudou com a paralisação do futebol e a quarentena é que a gente está sem treinar, mas não houve corte de salário – afirma Edna, que completará 29 anos no fim deste mês e tem uma filha de seis anos, Rayssa.
Ela passou por Portuguesa e Juventus, ambos de São Paulo, e reconhece que o Ceará é uma das raras exceções do futebol feminino no Brasil.
– Converso com atletas de outros clubes, elas dizem que a situação continua precária, difícil... Acho que a gente não pode ficar calada porque já aconteceu muita coisa errada no futebol feminino, é falta de respeito com as atletas. Mas eu entendo o medo que elas têm de falar, serem mandadas embora e não terem mais espaço no futebol depois.
No estado de São Paulo, dois bons exemplos são Corinthians e Ferroviária. Times que empilham títulos na modalidade e têm projetos estruturados há anos. A situação, mesmo assim, não é fácil. Com uma das folhas salariais mais altas da modalidade no país, o Timão profissionalizou a categoria em janeiro deste ano. Assim, as atletas recebem 40% do salário como direito de imagem. Este valor não foi pago em abril. O clube diz ter feito um acordo, depois de reduzir 25% dos 60% do salário pago em carteira. Nos próximos dias, o GloboEsporte.com vai publicar um levantamento detalhado sobre os times femininos da elite do futebol brasileiro.
Futuro incerto
Sem previsão do fim da pandemia e da retomada das atividades, alguns clubes cogitam pedir desligamento das competições em 2020. O problema é como recuperar o status que têm hoje, caso sofram as punições previstas em regulamentos gerais.
O Audax é um deles. O time feminino foi criado em 2015, em parceria com o Centro Olímpico, tradicional clube da capital paulista. Em 2016, conquistou Copa do Brasil e, no ano seguinte, com a junção do Corinthians, foi campeão da Libertadores. Mantém-se na primeira divisão do Brasileiro há quatro anos, mas teme perder essa vaga.
– Se eu pedir desligamento, quando e como vou conseguir voltar a disputar a primeira divisão? Talvez não consiga mais, entendeu? Mas ao mesmo tempo como vamos manter o elenco até o fim do ano se as coisas não se resolverem? Isso precisa ser discutido – diz o diretor do clube Gustavo Teixeira.
A CBF alega que nenhum clube pediu desligamento e que o assunto ainda não foi discutido.
Por Ana Canhedo e Maurício Oliveira
Globoesporte.com
São Paulo
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