Paraibano Souzinha(uniforme branco) já está de volta a Campina Grande | Foto: Reprodução/ Acervo pessoal |
Manaus - Diversos torneios mundo afora tiveram as atividades suspensas devido ao coronavírus. No Amazonas, o Barezão 2020 seguiu a mesma linha e, com isso, diversos jogadores enfrentam a situação de desemprego.
Com a realidade de baixos investimentos e arrecadações, somados ao calendário esportivo “esburacado”, a maioria dos times interioranos fecha contratos curtos | Foto: Divulgação/ FAF |
Com a realidade de baixos investimentos e arrecadações, somados ao calendário esportivo “esburacado”, a maioria dos times interioranos - como é o caso dos amazonenses - fecha contratos curtos com os jogadores, com duração adequada tanto ao teto de gastos, quanto aos torneios que terá no ano.
Além destes jogadores - que participam de elencos em torneios sazonais - há também aqueles com vínculos mais longos, que duram para mais de uma temporada ou competição. Este é o caso do Manaus FC, Amazonas FC, Nacional FC e Fast Clube, que (até então) disputam torneios nacionais em 2020.
Souzinha e time do Princesa do Solimões | Foto: Reprodução/ Acervo pessoal
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O desemprego
Lucas Sousa da Silva, conhecido como “Souzinha”, é paraibano natural de Campina Grande e disputou o Campeonato Amazonense pelo Princesa do Solimões, de Manacapuru (município a 89 km da capital). Após breve passagem, que se encerra em abril, quando terminaria o torneio, Lucas está de volta a Campina Grande cercado de incertezas.
“Até então não há previsão de nada, aqui no Nordeste não tem dia certo para retornar o futebol. Continuo treinando firme, não sei o dia que os campeonatos voltam, mas quero estar pronto para trabalhar. Essa pandemia deixou muita gente desempregada, inclusive eu”, diz o ex-jogador do Tubarão.
Apesar da interrupção repentina, “Souzinha” revela que o Princesa do Solimões ajudou na volta dos atletas para as respectivas cidades. Ele descreve a dura realidade dos jogadores, bem longe da vida badalada dos famosos jogadores, mas transparece a esperança.
Arena da Amazônia | Foto: Divulgação |
Sousinha também afirmou: “Nossos salários não são tão altos e o campeonato é curto, então não dá para juntar quase nada. Muitas vezes trabalhamos durante três meses e ficamos desempregados nos outros nove do ano. Praticamente o período que estamos trabalhando é só pra arcar com as dívidas, mas minha ideia sempre foi a mesma: sempre estar treinando, focado, divulgar meu trabalho e confiar, que assim que passar essa pandemia meu celular irá tocar e irei voltar a trabalhar novamente”.
O meia Rafael Simi, ex-jogador do EC Iranduba, é outro que anuncia o desemprego temporariamente. Natural de Sorocaba, no interior paulista, Simi revela que estava com negociações em curso com outro clube mesmo antes da paralisação do Campeonato Amazonense, mas as coisas esfriaram devido à suspensão das atividades esportivas e, agora, o ano de 2020 "é uma incógnita".
Rafael Simi, EC Iranduba | Foto: Reprodução/ Instagram |
"Pouco antes de paralisar o campeonato, acertei a minha situação em particular com o presidente para deixar o clube. A decisão partiu de mim, até porque estava com uma outra situação que, no momento, seria mais vantajosa. Tenho trabalhado em casa, adaptado alguns treinos, para que essa parada seja o menos prejudicial possível e que não resulte em lesões quando tudo voltar ao normal. Essa pandemia é algo que foge do nosso controle, sendo assim temos que nos adaptar à ela e preparar pra quando tudo se normalizar", conta o atleta.
De volta a São Paulo, o meia revela as preocupações decorrentes da duração do período de isolamento social, instituído em função do alto índice de contágio do novo coronavírus. Até que o calendário esportivo volte ao normal, Simi recorre aos negócios da família para manter-se, mas indica otimismo na luta do futebol com a pandemia.
"De certa forma me preocupa financeiramente, porque não sabemos quanto tempo vai levar essa paralisação no futebol e as mudanças do calendário, mas ao mesmo tempo, busco outras formas pra ter uma renda nesse período. Minha família tem comércio, apesar de estar paralisado também, deve voltar daqui não muito tempo e seria uma opção, pelo menos até surgir alguma proposta para voltar aos campos", diz ele.
Incertezas na meta da Colina
No São Raimundo, de volta à Manaus, a situação segue o padrão. Após a lesão do goleiro Nelsinho, que o tirou da temporada, Guanair Júnior assumiu a meta, mas a má fase do Tufão aliada à pouca experiência do arqueiro fez a diretoria procurar Lucas Carvalhães, de 26 anos.
Lucas Carvalhães (à direita) e São Raimundo | Foto: Reprodução/ Instagram |
Até o momento da publicação, ambos os goleiros seguem com a situação contratual indefinida. Com carreira no futebol carioca, somando passagens por Madureira, Artsul, Olaria, Mageense e América, Carvalhães tenta negociar a rescisão com o clube, mas aguarda pendências financeiras para normalizar as burocracias.
“No momento não tenho negociações com nenhum clube, mas como gosto de treinar, estou exercitando a parte física, me preparando caso apareça alguma coisa. Queria que o campeonato continuasse para deixar o time na 1ª divisão e para que outros times pudessem conhecer melhor o meu trabalho. Agora me preocupo com a parte financeira, mas se o São Raimundo cumprir suas obrigações, ficarei mais tranquilo”, afirma ‘Lucão’.
Lucas Carvalhães | Foto: Reprodução/ Instagram |
Já Guanair, revela que ainda não foi procurado pela diretoria do Tufão. Sem o futebol, ele concilia a faculdade de Educação Física com as incertezas sobre o avanço do vírus. Filho do ex-goleiro com o mesmo nome - famoso na década de 1990, com passagens por Nacional e Fast Clube -, o arqueiro da Colina sofreu 11 gols em seis jogos no Estadual.
“É até difícil falar sobre alguma possível renovação ou prever algo como uma Série-D, por exemplo, porque a gente precisa esperar para ver como as coisas vão acontecer não só aqui, como no mundo. Estou preocupado com minha faculdade, fazer meus trabalhos, não tem muito como ver nada contratual”, afirma.
Treinos em casa
Bernardo, pelo Nacional FC | Foto: Reprodução/ Instagram |
Para aqueles jogadores que não tiveram seus contratos suspensos, anulados ou rescindidos, os desafios do período de isolamento social giram em torno da forma física. Tanto tempo longe dos gramados certamente afeta no ritmo de jogo dos atletas, que provavelmente precisarão de uma nova pré-temporada para "pegar no tranco", mas o condicionamento é o grande aliado nesta batalha.
O volante Aírton, contratado pelo Amazonas FC para a disputa do Barezão, jogou apenas 28 minutos com a camisa auri-negra. Treinando em casa, durante o isolamento, o experiente jogador - com passagens por Flamengo, Botafogo, Fluminense, Internacional e Benfica (Portugal) - revela os direcionamentos para o futuro e a vontade de mostrar mais ao torcedor da Onça-Pintada.
Apresentação do volante Aírton | Foto: Leonardo Mota |
“Infelizmente não pude disputar mais partidas pelo Amazonas, foi um clube que me acolheu bem, as pessoas me trataram super bem desde quando cheguei. Antes de acertar, tinham até aparecido algumas propostas, mas acabei não dando prosseguimento. Espero acertar algo para o Campeonato Brasileiro, meu empresário está acertando algumas coisas”, disse o jogador.
Fora dos gramados desde o 1º turno do Campeonato Amazonense, Railson Queiroz, o dono da camisa 10 do Penarol AC , revela que voltou a ter contato com a bola a pouco tempo. Ainda com a indecisão contratual, ele diz que está em contato com a diretoria e espera continuar no Leão Azul Itacoatiarense na temporada seguinte - seja lá quando ela começar.
Railson, Penarol AC | Foto: Reprodução/ Instagram |
"O contrato ainda está vigente, estão acertando com os atletas aos poucos. Eu pretendo continuar, ainda quero conquistar voos bem altos com o Penarol. É um clube que me identifico muito. Voltei a treinar a pouco tempo, mesmo com essa crise, por conta de uma lesão no joelho que me deixou de fora dos jogos do segundo turno, agora estou mantendo o preparo físico", conta Railson.
Com contrato até o dia 30 de maio de 2020, Bernardo de Paulo, do Nacional FC, revela que voltou para Araxá, no interior de Minas Gerais. O Naça ainda disputa o Campeonato Brasileiro pela Série D, somando mais uma competição ao calendário. Railson diz que saiu às pressas de Manaus e, por isso, ainda não discutiu extensões ou rescisões contratuais.
Bernardo (uniforme branco) contra o Fast Clube | Foto: Reprodução/ Instagram |
"Ainda não sabemos como vão ficar as coisas, meu contrato está vigente e continua valendo. Não sei o que a diretoria pensa, mas assim que acabar essa pandemia, vamos conversar para definir as coisas. Saímos todos correndo, sem conversar nada, com medo dos aeroportos fecharem. Então agora é esperar a conversa [com a diretoria] para saber isso", relata o lateral/volante.
Railson, Penarol AC | Foto: Reprodução/ Instagram |
Aos 23 anos, ele revela que intensifica os treinamentos em casa mesmo com a paralisação e, curiosamente, diz que a iniciativa partiu do corpo técnico do clube. "O professor Adriano, que chegou no final do primeiro turno, ajudou muito a gente com a questão dos treinos. Ele mandou uma planilha no nosso grupo da preparação física e agora todos os dias treino em casa, com meu irmão", afirma.
Por Daniel Boechat
Emtempo
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