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segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Nova geração de dirigentes alcança acesso à elite do futebol paraibano e mira voos mais altos

Dirigentes viram juntos os dois jogos da final da 2ª divisão do estadual — Foto: Divulgação
O perfil dos cartolas brasileiros aos poucos está mudando. Saem aquelas pessoas com anos de história dentro de um clube, e entram jovens mais antenados com os debates do futebol. Alguns até com graduações de gestão desse esporte e estudos diversos sobre como gerir um clube. Os passos ainda são tímidos nesse sentido no Brasil, mas o caminho já está sendo percorrido. No futebol paraibano, dois jovens dirigentes tiveram um 2019 promissor. À frente dos departamentos de futebol de Sport Lagoa Seca e São Paulo Crystal, Arthur Ferreira, de 27 anos, e Eduardo Araújo, de 32, conseguiram o acesso para a elite do futebol paraibano.
Amigos fora de campo - mas por causa dele -, Eduardo Araújo, do São Paulo Crystal, e Arthur Ferreira, do Sport-PB, levaram seus times à final da 2ª divisão do Campeonato Paraibano deste ano. Com pagamentos em dia e uma boa estrutura para uma competição de acesso, os dois times meio que "sobraram" no torneio.
Com perfis semelhantes, os dois jovens cartolas miram objetivos grandes. Mas comungam na ideia de que a curto prazo o principal objetivo é conseguir manter suas equipes na elite do futebol paraibano por mais de um ano.
- Meu objetivo no momento é conseguir manter o Sport-PB na primeira divisão do Campeonato Paraibano, mas não posso mentir que almejo voos maiores no futebol, em centros maiores. Inclusive já recebi propostas para dirigir clubes no exterior. Meu maior objetivo é poder mostrar que podemos fazer futebol de forma profissional, correta e honesta, mesmo que não tenhamos um clube com grande condição financeira, que podemos modernizar o futebol, valorizar a prata da casa, ter uma categoria de base forte, e essas são algumas das contribuições que pretendo deixar no futebol - disse Arthur.
Eduardo Araújo também pensa em sair do estado, no futuro, mas acredita que primeiro tem que ajudar o futebol paraibano a evoluir.
- Já recebi convites para trabalhar fora do estado, entretanto eu entendo que devo dar minha contribuição aqui primeiro, até porque meu padrasto, que já foi campeão paraibano da primeira divisão, lançou o desafiou de também realizar o feito. Vamos trabalhar com pés no chão, austeridade e práticas de governança corporativa para em breve conseguir esse objetivo. O São Paulo Crystal me deu a oportunidade de iniciar e executar um planejamento de cinco anos. A meta do ano um foi alcançada - explicou.
Amizade e alinhamento político
A melhor campanha da competição deste ano foi do São Paulo Crystal. Em 10 jogos, o Tricolor venceu oito e empatou dois. Justamente as duas finais. Mas o regulamento da 2ª divisão do Paraibano não premiou a melhor campanha. E, do outro lado, o Sport-PB, que também fez uma ótima campanha - seis vitórias, dois empates e uma derrota em nove jogos -, conseguiu empatar as duas decisões e levou o título para a disputa de pênaltis, onde conseguiu lograr êxito.
Erro de arbitragem não abalou amizade da dupla. Árbitro deveria ter repetido cobrança de pênalti de Biro Biro, do Tricolor, após assinalar invasão na área. Em vez disso, deu um tiro livro indireto para o
De acordo com Eduardo Araújo, o título foi merecido, mas um erro de arbitragem foi primordial para a taça ficar com o Carneiro. Parece até desculpa de cartola antigo. Mas, dessa vez, não dá para negar que a bronca tem sentido. Tanto que o erro do árbitro Tiago Ramos repercutiu em todo país, com direito até a análise de Paulo César de Oliveira, comentarista de arbitragem do Grupo Globo. Mesmo assim, nada foi suficiente para abalar a amizade dos dirigentes.
- As duas diretorias se respeitam, ambos os jogos foram acompanhados em conjunto, no mesmo camarote. O erro foi da arbitragem, e, por terem um grupo muito experiente, souberam aproveitar o momento para reverter um quadro que se desenhava de uma goleada histórica na partida de ida da final para um empate que acabou complicando o jogo da volta. Fica a tristeza por não ter conquistado o título mesmo com uma campanha irretocável de oito vitórias e dois empates, dezessete gols feitos e apenas três tomados. Entretanto, o único clube que tinha condições técnicas de fazer frente ao nosso era o Sport-PB. O título ficou em boas mãos para coroar ambos os clubes organizados da competição - avaliou Eduardo.
A relação dos dois dirigente se estreitou mais, inclusive, no último processo eleitoral da Federação de Paraibana de Futebol (FPF). Eduardo Araújo foi candidato a presidente da entidade e, se ganhasse, iria convidar Arthur para ser seu diretor executivo. De acordo com Arthur, a relação dos dois se aproximou por conta das ideias convergentes sobre futebol.
- Nossa amizade surgiu quando Eduardo assumiu o cargo de diretor executivo da FPF (na gestão de Amadeu Rodrigues). Sempre conversávamos e tínhamos muitos pensamentos e ideias em sintonia. A partir daí criamos um grande laço de amizade e irmandade que se estende até hoje. Ele é uma pessoa de boa índole, um cara extremamente correto e um excelente profissional. Sempre procura fazer o seu trabalho com excelência e tem tudo para ser um dos grandes nomes do futebol nordestino e brasileiro - prevê Arthur.
Confira a entrevista na íntegra com os dois dirigentes:
Como começou sua história no futebol profissional? De onde partiu a vontade de botar a mão na massa no futebol?
Arthur: Desde pequeno eu tive o sonho de ser jogador de futebol. Comecei aos cinco anos de idade nas categorias de base do Campinense, a raposinha, depois fui para as categorias de base do Treze e mais tarde retornei para as categorias de base do Campinense. Aos 16 anos me tornei jogador profissional no Grêmio Mauaense-SP, depois tive passagens por outros clubes como Grêmio Barueri-SP, União Suzano-SP, Iraty-PR, entre outros. Cheguei a jogar profissionalmente no Sport-PB, à época Sport Campina, mas aos 23 anos resolvi parar de jogar futebol profissionalmente. Como nunca quis me afastar do futebol, comecei a trabalhar nos “bastidores” e resolvi me especializar na área.
Eduardo: Meu padrasto, Vicente Lamenha, foi conselheiro do Sport no título brasileiro de 1987, além de diretor de futebol e posteriormente. Foi também presidente do Auto Esporte naquele triênio histórico de 1990 a 1992. Meu irmão já trabalhou na comissão técnica do Treze, no Sport, no Santa Cruz. Eu fui atleta de futsal durante toda minha infância, adolescência, com títulos paraibanos e competições regionais. Então minha família respira futebol e como eu já tinha essa atuação com gestão por conta da minha profissão, acabei decidindo unir as duas coisas.
Sempre pensou em ser dirigente? Quando surgiu esse entendimento de que poderia ser cartola?
A: Na verdade, nunca havia passado pela minha cabeça ser dirigente. O Sport-PB, por ser um projeto iniciado pelos meus pais e minha família, me fez entrar no caminho de ser cartola. Então passei um tempo estudando e me especializando para poder assumir o cargo que ocupo.
E: Em 2015 por conta dos problemas nas eleições do Auto Esporte o meu nome foi sugerido como consenso de ambas as alas do clube para solucioná-los e cuidar da parte administrativa como interventor nomeado pela Justiça. Fizemos um trabalho nas duas áreas que findou com a classificação antecipada do Auto Esporte para o quadrangular final, além de uma série de correções de ordem administrativa e jurídica que desaguaram na minha nomeação como diretor jurídico até novembro, quando renunciei. Depois disso comecei a atuar juridicamente para clubes do estado e de fora. Foi aí que surgiu a oportunidade do Internacional em 2016 com o título invicto da segunda divisão. Depois aconteceram trabalhos posteriores, inclusive na Federação Paraibana de Futebol.
Em que você você acha que você é diferente dos cartolas antigos?
A: Tivemos e temos grandes dirigentes no futebol paraibano, entretanto, vivemos em uma época de globalização onde temos que estar atualizados a todo o momento, e no futebol não é diferente. Acho que a principal diferença é estarmos sempre antenados ao futebol moderno e também procurarmos nos capacitar e especializar na área.
E: Eu, particularmente, acredito em compliance e um modelo de gestão empresarial, obviamente com elementos específicos de futebol e a paciência necessária para modificar a cultura empírica que nosso esporte vive. Escuto muito, “faço isso há tantos anos”. Entretanto o futebol atual é completamente diferente das décadas passadas e, não à toa, diversos clubes sociais estão se extinguindo e surgindo clubes empresas. A diferença basilar é esse entendimento da estrutura administrativa.
O que você acha que não cabe mais no futebol? Qual prática antiga que não cabe mais?
A: Algumas práticas antigas, como o tratamento com jogadores e funcionários, o “ganhar a todo custo”, o amadorismo no gerenciamento do clube, entre outras ações. Antigamente tínhamos torcedores que se tornaram dirigentes, mas o futebol moderno pede mais do que isso, exige profissionais do esporte.
E: Falta de austeridade financeira. Não há mais espaço para loucuras financeiras e de falta de estrutura básica para o desenvolvimento do futebol profissional. Isso gera problemas de curto, médio e longo prazo não só para o clube, mas para a competição e seus pares, pelo desprestígio no mercado, dificultando a pactuação de patrocínios e investimentos com empresas.
Você é dirigente de um clube que atualmente mostra organização, mas que por outro lado parece ter seu organograma mais centralizado, à margem de uma perspectiva popular, de participação de torcida, seja nas arquibancadas ou dentro do clube. Esse distanciamento do público não é um aspecto problemático do futebol moderno?
A: No caso do Sport-PB, temos uma diretoria que trabalha e ajuda no gerenciamento do clube. Também procuramos uma aproximação com os torcedores, inclusive através de grupos de aplicativos de mensagens. Entretanto, entendemos que na nossa função temos que centralizar algumas decisões, afinal somos profissionais contratados para obter resultados e somos cobrados constantemente.
E: A torcida é fator deveras importante. Futebol é esporte apenas internamente. Externamente é espetáculo, é lazer, é entretenimento. O São Paulo Crystal, apesar de ter menos de três anos de existência, foi abraçado pelo povo de Cruz de Espírito Santo e um dos pilares do nosso trabalho como executivo é ampliar o número de torcedores para todo o Brejo paraibano, assim como as cidades vizinhas, como Santa Rita e Bayeux, que são carentes de representantes na elite estadual.
Essa amizade entre vocês surgiu como?
A: Surgiu quando Eduardo assumiu o cargo de diretor executivo da FPF. Sempre conversávamos e tínhamos muitos pensamentos e ideias em sintonia. A partir daí criamos um grande laço de amizade e irmandade que se estende até hoje.
E: Difícil pontuar um momento particular, mas se deve, com certeza, aos constantes contatos nos arbitrais e reuniões da FPF, da similitude de ideias e idade e, principalmente, de um forte desejo de contribuir para uma atualização da cultura do futebol paraibano, estimulando inclusive outros jovens a adentrar nesse mercado e se capacitarem.
O que você acha de Eduardo / Arthur ?
A: É uma pessoa de boa índole, um cara extremamente correto e um excelente profissional. Sempre procura fazer o seu trabalho com excelência e tem tudo para ser um dos grandes nomes do futebol nordestino e brasileiro.
E: É de conhecimento público que eu considero Arthur um dos bons nomes para o futuro do futebol paraibano pela junção de conhecimentos técnicos com gestão. Foi atleta, auxiliar, supervisor, treinador, executivo, enfim, em pouco tempo acumula vasto conhecimento na área e é um concorrente de peso que eu tenho bastante respeito e admiração. Quem sabe um dia poderemos realizar um trabalho conjunto.
Houve alguma rusga por conta do problema da arbitragem no primeiro jogo?
A: Nenhuma. O Eduardo assistiu o primeiro jogo da final ao nosso lado, assim como assistimos o jogo da volta juntos. Houve o problema e conversamos a respeito, mas é algo que acontece no futebol.
E: Não, as duas diretorias se respeitam, ambos os jogos foram acompanhados em conjunto, no mesmo camarote. O erro foi da arbitragem e por ter um grupo muito experiente souberam aproveitar o momento para reverter um quadro que se desenhava de uma goleada histórica na final para um empate que acabou complicando o jogo da volta. Fica a tristeza por não ter conquistado o título mesmo com uma campanha irretocável de oito vitórias e dois empates, dezessete gols feitos e apenas três tomados. Entretanto, o único clube que tinha condições técnicas de fazer frente ao nosso era o Sport-PB. O título ficou em boas mãos para coroar ambos os clubes organizados na competição, que ficou marcada por vários W.Os, falta de estrutura e esse erro de arbitragem que virou chacota nacional.
O que você mira no futebol? Qual seu grande objetivo no futebol? Pelo que você quer ser conhecido por ter feito ou contribuído?
A: Meu objetivo no momento é conseguir manter o Sport-PB na primeira divisão do Campeonato Paraibano, mas não posso mentir que almejo voos maiores no futebol, em centros maiores. Inclusive já recebi propostas para dirigir clubes no exterior. Meu maior objetivo é poder mostrar que podemos fazer futebol de forma profissional, correta e honesta, mesmo que não tenhamos um clube com grande condição financeira, que podemos modernizar o futebol, valorizar a prata da casa e ter uma categoria de base forte. Essas são algumas das contribuições que pretendo deixar no futebol.
E: Já recebi convites para trabalhar fora do estado, entretanto eu entendo que devo dar minha contribuição aqui primeiro, até porque meu padrasto, que já foi campeão paraibano da primeira divisão, lançou o desafiou de também realizar o feito. Vamos trabalhar com pés no chão, austeridade e práticas de governança corporativa para em breve conseguir esse objetivo. O São Paulo Crystal me deu a oportunidade de iniciar e executar um planejamento de cinco anos, a meta do ano um foi alcançada. Quem sabe em breve estarei dando outra entrevista falando da alegria de ter conquistado o título paraibano e mostrando que com seriedade e integridade podemos alcançar grandes feitos nesse esporte tão maculado por corrupção e “espertezas” que espero, em breve, fiquem para trás por não acreditar que ainda exista espaço para tanto.

Por Pedro Alves 
Globoesporte.com/João Pessoa

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