Daniela Lameira / Site STJD |
O Diretor de Futebol do Brasiliense, Paulo Henrique Lorenzo, foi banido do futebol e multado em R$ 20 mil no STJD do Futebol. Denunciado por tentar subornar o árbitro e manipular o resultado da partida entre Manaus e CSA, pela Copa do Brasil 2018, o dirigente foi julgado e punido na noite desta quinta, dia 2 de agosto, pelos Auditores da Quinta Comissão Disciplinar. A decisão, proferida por unanimidade dos votos, cabe recurso e deve chegar ao Pleno, última instância nacional.
O processo teve origem após o árbitro escalado para a partida, Vanderlei Soares de Macedo revelar um dia antes do jogo ter sido abordado e recebido uma proposta para favorecer a equipe de Manaus. Vanderlei revelou que o auxiliar de fisioterapeuta do Brasiliense chamado Pedro Crema o abordou dois dias antes da partida durante uma clínica de treinamento para árbitros no DF e ofereceu o valor de R$ 20 mil para que o mesmo favorecesse a equipe do Manaus na partida.
Pedro Crema foi denunciado e em julgamento confirmou em depoimento pessoal que tentou subornar o árbitro a mando de Paulo Henrique, Diretor de Futebol do Brasiliense. Pedro juntou provas e acabou foi punido com suspensão de 365 dias e multa de R$ 10 mil.
Aberto inquérito para apurar a declaração do auxiliar de fisioterapia, Paulo Henrique foi ouvido em Brasília e negou conhecer Pedro ou ter conhecimento do suborno. Com as contradições, foi então agendada uma acareação entre Paulo Henrique e Pedro na sede do STJD no dia 26 de junho. Intimado, Paulo Henrique solicitou adiamento. Com a negativa, a defesa do dirigente pediu então que o mesmo fosse ouvido através de videoconferência, mas no dia e horário combinado Paulo Henrique não foi encontrado no hotel que disse estar e não atendeu as ligações do tribunal. Pedro Crema prestou novo depoimento.
A Procuradoria então ofereceu denúncia contra Paulo Henrique Lorenzo por dar ou prometer qualquer vantagem a árbitro ou auxiliar de arbitragem para que influa no resultado da partida (artigo 241 do CBJD).
Diante da Comissão, o Diretor de Futebol do Brasiliense compareceu e respondeu as perguntas dos Auditores. Com muitas divergências do que foi dito pelo auxiliar Pedro Crema, o dirigente afirmou acreditar que Crema queria prejudicá-lo por não estar chateado por não ter sido ajudado com pedido de aumento feito. O dirigente ter qualquer contato com o clube de Manaus.
“Fui para o Brasiliense como treinador de goleiros na época e de 2004 para cá passei a ser gerente de futebol. Não participava diariamente, como ele era estagiário. Tínhamos contato nos treinamentos. Quando mandaram email falando sobre esse caso e falaram com Pedro Crema. Um dia antes ele me ligou e falou me ajuda. Depois ele desligou e tentei ligar várias vezes. Ele era fisioterapeuta e eu sabia que tinha contatos com arbitragem total. Ele (Pedro) ganhava R$ 200 de ajuda de custo da fisioterapia. Outro dia pediu para eu ajudar. Como eu não conseguia ajudar, não tenho autonomia, ele ficou bastante chateado comigo. Não sei se é por isso ou algo maior”, disse Paulo Henrique.
O Procurador Marcus Campos lamentou o fato, mas pediu punição severa ao denunciado. Chato e triste ter que participar de um julgamento dessa magnitude. Fato grave e que envolve milhares de pessoas. O resultado pode envolver milhares de pessoas. Não sou inquisitor, sou Procurador de Justiça Desportiva e tento atuar de uma forma que esteja fazendo justiça. A primeira coisa que faço é me colocar do lado da pessoa que foi denunciada. Não vejo motivo para o Pedro Crema inventar essa história. Se eu tenho certeza absoluta da minha inocência eu faria de tudo para participar da acareação. Isso só chegou ao nosso conhecimento por causa do árbitro que denunciou. Parece que estamos diante de uma organização maior que envolve Manipulação de Resultados. Peço que encaminhem a peça para o Ministério Público do Distrito Federal. Pugno por uma pena pesada. Não podemos deixar esse caso passar em branco. O que requer é o banimento do denunciado”, sustentou o Procurador.
A advogada Tatiana Ramos da Cruz alegou ausência de provas para punição do dirigente. “O presente caso é de suposto oferecimento de propina em que o Pedro Crema fala que teria sido a mando do Sr. Paulo Henrique. Na acareação marcada em Brasília o Paulo compareceu e só não compareceu aqui devido um jogo. Nunca se mostrou não apto a colaborar com a elucidação dos fatos. Não existe nos autos nenhuma prova que comprove o que foi dito pelo Pedro Crema. O que mais me causa estranheza é que nem foi ouvido o árbitro que teria sido alvo. O Brasiliense não tinha nenhum interesse no resultado do jogo do Manaus. Com base em todo o alegado venho requerer a improcedência da denúncia devido a fragilidade das provas”, defendeu.
Relator do processo, o Auditor Eduardo Mello proferiu seu voto. “Saliento a tristeza em participar de um julgamento desses. O Código prevê a pena mais alta e séria para esse tipo de caso. O Sr. Pedro Crema não tinha dúvidas em momento algum no que ele falava. Fica claro que o Sr. Paulo sabia o que estava falando e que o Crema dependia dele para saber o que fazer. Pra mim fica claro e vejo ligação do Sr. Paulo nesse caso por tudo que foi ouvido e juntado. Com a ausência da acareação, estou tendente a atender o relatório final e o pedido da Procuradoria na íntegra do artigo 241 para a pena de eliminação e multa de R$ 20 mil”, justificou.
Em seguida o Auditor José Nascimento teve a palavra: “Caso que não tem batom na cueca, mas olha o contexto. Fato e notório que o Sr. Pedro Crema tem relação próxima com a arbitragem. Contradições concretas. As fotos juntadas pelo Sr. Paulo mostra a proximidade de amizade com o Pedro Crema, inclusive nas redes sociais. Do lado do Paulo existem contradições e do Pedro uma história coerente. Situações difíceis exigem coragem. Parabenizo e acompanho o voto do relator”.
O Auditor Maurício das Neves acrescentou. “Fato grave e incontroverso. O fio da meada começa com a denúncia de um árbitro que se disse subornado a alterar ou influir no resultado da partida de um campeonato importantíssimo. A cadeia de consequências disso é incalculável. Isso tem que ser combativo. Todas as oportunidades de defesa foram dadas ao Sr Paulo e me parece que se omitiram em todas. Também acompanho o relator”.
O mesmo entendimento foi acompanhado pelo Auditor Flávio Boson.“Não há prova contrária e que me faça ter dúvidas do que foi apresentado pelo Pedro Crema. Sigo na integra os votos”, concluiu.
Presidente da Comissão, o Auditor Rodrigo Raposo foi o último a votar. “A verdade sobre tudo que aconteceu só o Sr Paulo e Pedro sabem. Sem máquinas para saber da verdade a gente utiliza a produção de provas. Tanto era importante isso que a processo do Pedro está suspenso aguardando julgamento no Pleno. O que há no processo é uma prova e alguns indícios. Há como prova o depoimento do Pedro Crema e os indícios são as ligações e não foi colocado nada para desconstruir o que temos. Acompanho o relator”, encerrou.
Fonte: STJD
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será publicado em breve após ser analisado pelo administrador