O "jogador" Denis Vieri, de 34 anos, sumiu do Força e Luz e do mapa. Após reportagem publicada pelo GloboEsporte.com que mostrava que ele não tinha registros em nenhuma das equipes que alegou ter jogado - como Santos, Vasco e Shakhtar Donetsk (Ucrânia) -, o Time Elétrico o dispensou. O problema é que ele desapareceu e deixou os quatro atletas que "agenciava" na equipe de Natal. VÃtimas da história criada pelo falsário, Melquisedeque Carlos, Hélio Ciro e Wesley Henrique, que são de Minas Gerais, e Jefferson Lima, de São Paulo, não têm dinheiro para retornar para suas cidades.
Depois de ser dispensado do Time Elétrico, Denis Vieri deixou o alojamento para sacar dinheiro que seria supostamente usado para comprar as passagens dele e dos outros quatro atletas de volta para Belo Horizonte. Um deles, o meia Jefferson Lima, o acompanhou para garantir que ele estaria por perto. Quando foi a uma padaria ao lado do caixa, Denis sumiu com a mala que estava e não apareceu mais.
Na sequência, pediu para que os atletas o encontrassem na Rodoviária de Natal, onde ele não estava. A partir deste momento, Denis passou a bloqueá-los no WhatsApp e não atender as ligações. A nova recomendação era de que fossem ao Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, mas os jogadores não seguiram.
- O cara fez uma "cachorrada" dessa. Fez a gente vir para a rodoviária e não está aqui. Sumiu, bloqueou a gente em tudo que é rede social. E sumiu. Nós estamos à deriva, só com o apoio do Força e Luz - disse Jefferson Lima ao GloboEsporte.com.
Denis Vieri (Foto: Leonardo Erys/GloboEsporte.com) |
Além de bloquear os jogadores nas suas redes sociais, Denis Vieri mudou pelo menos três vezes o nome do seu perfil no Instagram (de @dennisvieri7 mudou para @vierioficial, e depois para @dnis832). Além disso, apagou as fotos que tinha publicado na terça-feira na entrevista dada ao Globo Esporte RN e GloboEsporte.com e publicou uma na praia de Genipabu com os jogadores.
s quatro jogadores enganados garantiram que farão um Boletim de Ocorrência contra Denis Vieri e vão processá-lo na Justiça. Eles contaram que souberam da farsa do empresário na manhã desta quarta-feira e foram conversar com dirigentes do clube para explicar que não sabiam das intenções de Vieri e de que também eram vÃtimas na história.
- Nós falamos com todos os atletas que não sabÃamos disso. Fomos logo na sede do clube conversar com o próprio diretor e tirar satisfação de toda essa história, porque realmente a gente não tem nada a ver com isso. E por isso que a gente está aqui hoje afirmando que a gente não tem nada com isso. Ele fez essa sacanagem com a gente. Nós estamos aqui como vÃtimas - disse o atacante Wesley Henrique, o Riquinho, de 25 anos.
O Força e Luz não dispensou os atletas, apenas Denis Vieri. Enquanto os jogadores não conseguem retornar às suas cidades, o clube ofereceu moradia e alimentação para eles em Natal.
O golpe
Ao trazer os atletas para o Força e Luz, Denis Vieri prometeu um salário entre R$ 2 mil a R$ 3 mil a todos eles. Ao clube, no entanto, a história era outra: ele afirmava que ele e os outros quatro atletas chegavam sem custos. O Time Elétrico só daria moradia (no alojamento do clube) e alimentação.
Assim, o inÃcio da história se costurou. Após o acerto com o Força e Luz, Denis Vieri pediu para três dos quatro jogadores depositarem R$ 1.459 para a compra das passagens aéreas de cada um. O quarto integrante do grupo, Hélio Ciro, precisaria pagar R$ 2.459 pela passagem, mas fez a transferência de R$ 1.300. Após a chegada a Natal, foi cobrado por Denis, via WhatsApp, por sua "dÃvida" de R$ 1.200. O falsário teria comprado apenas as passagens de ida e embolsou o restante do dinheiro transferido pelos atletas.
Ao presidente do clube, Ranilson Cristino, Denis Vieri dizia que os jogadores ficariam no clube em fase de testes. Para os agenciados, no entanto, a história era outra e ele dizia que os atletas seriam remunerados e que o time poderia alavancar a carreira deles.
A ideia do golpe de Denis Vieri era bem clara. Em algum momento, os jogadores cobrariam os salários que o clube, na teoria, não teria a obrigação de pagar. Por isso, a intenção de Vieri era convencer os dirigentes do Força e Luz a dizerem aos seus agenciados que eles não passariam nos testes do clube e estavam dispensados. Ele chegou a fazer isso, mas os jogadores foram avisados da trama.
Ele conseguia convencer os atletas a se agenciarem com ele ao contar a história mentirosa de que era ex-jogador de grandes clubes, como Vasco, Santos, PSV (Holanda) e Shakhtar (Ucrânia), em um currÃculo fantasioso e falso.
PrejuÃzo
Melquisedeque Carlos Felix (20 anos), Hélio Ciro (18), Wesley Henrique (25) e Jefferson Lima (25) sonham em ser jogadores de futebol para mudar de vida. Eles fazem parte - alguns há quatro meses, outros há menos de um - de um time montado por Denis Vieri em Minas Gerais. A promessa era de que esse time disputaria a terceira divisão do Campeonato Mineiro deste ano pela primeira vez.
Ao fazer o acordo com o Força e Luz, os jogadores viram o primeiro passo dessa projeção finalmente acontecer, já que receberiam salários entre R$ 2 mil e R$ 3 mil e teriam a possibilidade de atuar num estadual. Eles foram avisados pelo "empresário" e precisaram dar a resposta do dia para a noite, inclusive com o investimento para a compra das passagens.
O zagueiro Hélio Ciro, de 18 anos, largou o emprego que tinha em Belo Horizonte para tentar o sonho de jogar futebol profissional pela primeira vez.
- Eu recebi uma notÃcia numa quinta-feira, um dia antes de sair do meu emprego, que teria uma chance de eu jogar na primeira divisão, no Força e Luz. E aà ele disse que teria um gasto. E esse gasto foi bem alto. Que a gente teria que pagar do nosso bolso. Que a gente teria que pagar essa taxa para ele. E aÃ, nessa conversa, ele falou que aqui nós terÃamos o nosso salário, que o clube disponibilizaria o nosso salário, e o alojamento - destacou.
Melquisedeque Carlos Felix, de 20 anos, também precisou fazer a escolha. Ele trabalhava numa fábrica de plásticos na cidade de Contagem (MG) e largou para poder atuar no Força e Luz.
- Eu tive que gastar praticamente meu dinheiro todo para vir para cá. Eu tive que deixar um pouco de dinheiro para minha mãe pagar as contas dela lá. E ainda tive que pegar um pouco emprestado com ela. Agora eu tenho que ver o que é que eu vou fazer, porque eu não tenho dinheiro nem para voltar para casa. Está complicada a situação, não sei o que pensar mais - disse.
Jefferson Lima da Silva, de 25 anos, era barbeiro e cabelereiro na cidade de Cruzeiro (SP) e, com a esperança de ser jogador de futebol, estava há pouco tempo sendo "agenciado" por Denis Vieri. Quando surgiu a proposta repentina do Força e Luz, que acreditou poder mudar a sua vida, Jefferson se desfez do ponto da barbearia e vendeu o material de trabalho por R$ 1.500.
- Eu trabalhava como barbeiro na minha cidade e precisava decidir de um dia para o outro. Como as coisas aconteceram muito rápido, acabei vendendo todo o meu material por um preço muito abaixo do que ele vale. Eu investi mais de R$ 10 mil, ao todo, nisso, mas achei que valeria a pena porque em três meses eu poderia tirar o que gastei - lamentou o jogador, que disse não saber como vai trabalhar quando retornar para casa.
Wesley Henrique, o Riquinho, de 25 anos, treina todos os dias para ser jogador de futebol em Belo Horizonte. Ele lembra que conheceu Denis por uma rede social na busca por uma oportunidade e começou a fazer parte do time dele, onde disputou alguns campeonatos amadores e teve destaque. Os valores das viagens, no entanto, sempre foram pagos pelos jogadores - nunca por Denis Vieri.
- A gente realmente está muito triste porque é um transtorno para a gente. Tem nossa famÃlia lá que sempre torce para a gente, nossos amigos. A gente batalhou, correu atrás. A gente está aqui correndo pelo certo. A gente é justo com todo mundo. E o que honra o homem é o caráter. E a gente está pondo a cara para bater, porque essa sacanagem não vai ficar em vão. Eu particularmente, vou processar ele - destacou.
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