Na metade da década de setenta do
século passado, logo após a inauguração dos Estádios, Almeidão e Amigão, houve uma febre de crescimento no nosso
futebol. Inclusive com a presença feminina, nos jogos, alegrando muito mais
aquelas saudosas tardes de domingo. As torcidas organizadas passaram a existir
com direito a diretoria, contribuição financeira, reunião e até mesmo uma sede,
sendo esta em um quarto ou garagem da casa de um respectivo membro.
Lembro com muita saudade das
sirenes, bandeiras e papel picados em nossas arquibancadas...Era uma festa
indescritível, sob o comando da TOB – Torcida Organizada do Botafogo e a sua
“rival” Força Jovem. E para completar ainda mais a nossa alegria, era permitido
soltar fogos de artifícios denominados de pistolas, na entrada do time em campo
e na hora dos gols.
As tradicionais torcidas do Treze
e do Campinense, invadiam a cidade de João Pessoa, logo cedo, na orla marítima,
de tarde no campo, com suas enormes bandeiras e gritos de guerra. A briosa
Polícia Militar estabelecia, com seus homens, uma divisão da arquibancada.
Ninguém se atrevia a desrespeitar aquela farda. E olhe que naquela época bebida
alcoólica era comercializada dentro do estádio.
Era muito bonito ver, do trevo da
cidade universitária até o Almeidão, aquela enorme fila de carros, um atrás do
outro, buzinando e tremulando as bandeiras do seu clube. Os rádios sintonizados
na Tabajara, na Arapuan e na Correio. Nomes como Geraldo Cavalcante, Marcos
Aurélio, Ivan Tomaz, Hermes Taurino, Eudes Moacir Toscano, Ivan Bezerra e
tantos outros, nos informavam os detalhes, as possibilidades e previsões de
cada jogo.
Com esses grandes radialistas
aprendi, dentre outros chavões do futebol que jogo só se ganha dentro de campo,
que futebol é uma caixinha de surpresas, que a melhor defesa é o ataque, que
camisa não ganha partida, que o jogo só encerra com o apito final do árbitro e
que futebol é jogado com onze contra onze.
Pois bem, era uma festa!
No bairro onde eu morava, a nossa
turma era toda uniformizada com a camisa do Belo, Tínhamos umas cinco
bandeiras, um tarol, dois surdos, dois repiques, duas maracás, cachaça e muita disposição.
Depois da nossa concentração em
um bar local, era só subir no mini caminhão do deposito de Seu Joaquim e partir
para mais uma vitória.
No nosso grupo, tinha um jovem
amigo de infância, hoje radicado em São Paulo, que não possuía habilidade com a
bola, nas nossas peladas, mas levava bastante jeito para locutor esportivo. Boa
dicção, domínio da nossa língua, conhecimento de futebol e acima de tudo
bastante crítico em suas objetivas colocações. Se ele tivesse se dedicado, hoje
seria um dos nossos destacados membros da imprensa. O seu estilo parecia muito
com o atual do competente Sérgio Taurino.
Seu nome é Max Antônio Tanouss de
Miranda, conhecido por Max Tanouss, que naquela época fez teste e foi aprovado
no Departamento de Esportes da Rádio Arapuan. Ele passou a andar com um enorme
gravador em baixo dos braços. Sua missão era entrevistar jogadores, dirigentes,
torcedores e juízes, para depois levar a fita e reproduzir nas famosas
resenhas.
A sua participação era na maioria
das vezes gravada para posterior reprodução. Ele tinha pouquíssima participação
ao vivo. E quando foi um dia, Max foi escalado para substituir um colega, como
repórter de pista, em um domingo de Almeidão, casa cheia. Prá nós foi uma
alegria, pois era o reconhecimento do trabalho de um amigo. Foi aí que aconteceu
um fato bastante engraçado na época.
Antes de iniciar aquele jogão,
fazendo as entrevistas na pista do campo, Max, que iria cobrir a equipe do
Botafogo, recebeu a mensagem da cabine para entrevistar o ex-jogador e então diretor
de futebol do clube, Kleber Bonates. Ocorre que, quando ele ia iniciar a entrevista, houve uma
chamada da central Arapuan para noticiar resultados de jogos do sul do país,
suspendendo a sua entrevista.
Depois de um certo tempo, quando
o som retornou para ele iniciar a entrevista com o diretor de futebol, por um
relapso momentâneo , Max trocou o nome de Kleber Bonates por Clóvis Bornay, um
carnavalesco carioca com fama de homossexual e bastante conhecido por suas
extravagantes fantasias de carnaval. Kleber Bonates, era grande e ex atleta do
Belo, olhou de cima para baixo para o nosso repórter e antes que falasse
qualquer palavrão, Max Tanouss emendou; por favor, desculpem, foi um equívoco,
um erro, nós estamos entrevistando o grande Kleber Bonates, paraibano macho que
detesta carnaval.
Francisco Di Lorenzo Serpa
Membro da API, UBE e APP
falserpa@oi.com.br
Francisco Di Lorenzo Serpa
Membro da API, UBE e APP
falserpa@oi.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será publicado em breve após ser analisado pelo administrador