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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Goleiro paraibano natural de Rio Tinto vence até a fome para chegar à base do Santos

Filipe Costa, goleiro paraibano do time Sub-20 do Santos (Foto: Reprodução / TV Cabo Branco)
Filipe Costa sonha em chegar ao profissional do Santos e à Seleção Brasileira (Foto: Reprodução / TV Cabo Branco)
Campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior deste ano pelo Santos. E só. O currículo ainda é bem pequeno, mas a vontade de ir longe é enorme. E as barreiras que tem superado também. O goleiro paraibano Filipe Costa, de apenas 18 anos, sonha em projetar o nome da Paraíba vestindo a camisa do time no qual Pelé se consagrou. Na segunda reportagem da série "Expresso Paraíba", exibida pelo Globo Esporte das TVs Cabo Branco e Paraíba, o garoto de Rio Tinto lembra dos primeiros passos no futebol, quando tinha que pedir dinheiro emprestado para ir aos primeiros treinos em João Pessoa e chegou a passar fome.
Filipe Costa é conterrâneo do também jogador de futebol Carlinhos Paraíba. E a cidade do Litoral Norte paraibano ganhou mais este filho ilustre. O goleiro é um dos Meninos da Vila. Mas "menino" é forma de falar. Filipe, na verdade, é um gigante de 1,99m. Tamanho que lhe rendeu um apelido bem incômodo na infância: Girafa.
- Quando eu tinha uns 13, 14 anos, eu me achava muito estranho. Eu era muito alto, muito acima da média. Tinha 1,85m com 13, 14 anos. Pensamos até que eu tinha gigantismo, mas a gente foi ao médico e deu tudo normal, graças a Deus. Não era nada de mais - relembra Filipe.
Ele não gostava de ser chamado de Girafa, que era o apelido que tinha quando foi descoberto em um campinho de terra, jogando como lateral-esquerdo. Da ala, ele foi para debaixo do travessão.
- Na lateral-esquerda, eu era uma tristeza. Aí teve um peneirão e me incentivaram a ir para o gol. Eu fui, passei, e até hoje estou aí.
Às vezes, eu nem tinha dinheiro para lanche, nem nada, e ficava com fome"
Filipe Costa.
sobre os início difícil
A seletiva a que Filipe se refere era do CSP, clube da capital paraibana. Foi o primeiro time no qual o goleiro fez suas primeiras defesas. Neto Dinamite, que foi o seu primeiro técnico na carreira, lembra os motivos que o fizeram atentar para o garoto esguio e ágil.
- Eu percebi que ele tinha uma estatura boa, era alto, quebrava bem a bola, saía bem do gol. Então eu o trouxe para o CSP - comentou o treinador.
Aprovado na peneira do CSP, Filipe começava ali a sua batalha. Ele tinha que sair de Rio Tinto para João Pessoa quatro vezes por semana, sozinho e de ônibus. Eram 52km de estrada, ida e volta. E foi aí que a precária situação da família começou a mostrar ao garoto as dificuldades.
- Eu não tinha como arrumar o dinheiro da passagem, então pegava emprestado. Eu pedia R$ 10 a um, R$ 10 a outro, juntava R$ 20, R$ 30, e ia treinar. Às vezes, eu nem tinha dinheiro para lanche, nem nada, e ficava com fome. Mas assim foi. Fiquei um ano nesse perrengue aí. Foi complicado no começo, sem muito apoio, com poucas condições, já que a família era carente. E todo mundo me falava que eu não ia chegar, que não ia dar certo. E só eu tentando, tentando, tentando e acreditando naquilo. Mas, graças a Deus, venci muitas dificuldades na minha vida e hoje estou aí.
Mãe de Filipe, Adriana da Costa lembra que, muitas vezes, teve que dividir o orçamento da família. Metade do dinheiro que tinha era reservado às despesas com a alimentação e o restando era destinado aos gastos com as passagens do garoto até a capital, para treinar.
Eu jamais pensaria em alguém da minha família chegar onde chegou"
Francisco de Assis,
pai de Filipe Costa
- Muitas vezes, eu fiz minha feira pela metade para poder dar dinheiro para ele ir treinar. Isso acontecia duas ou três vezes durante uma semana. Ele dizia: "Mãe, hoje tem treino. Tem o dinheiro da passagem?". Eu dizia: "Filho, eu tenho o dinheiro da feira. Mas vou dividir. Vou deixar R$ 50 para a feira e R$ 50 você usa para ir a João Pessoa. Você não vai deixar de treinar".
Com as dificuldades financeiras e os obstáculos no começo, quase que ele ficava pelo caminho.
- Ele chegou uma vez a desistir. Mas eu disse: "Não, você não vai desistir. Você começou agora e vai ter que terminar. Esse é o seu objetivo" - contou Francisco de Assis, pai do garoto.
Mas Filipe batalhou, ergueu a cabeça e foi à luta. O desempenho chamou a atenção do Santos e ele viajou para São Paulo para fazer testes.
- Eu disse: "Filipe, é o seguinte: eu quero que sexta-feira você me ligue e diga que passou nesse teste. Dê esse presente para a sua mãe. É a única coisa que eu quero". Chegando lá, quando ele terminou o teste, ele ligou para a mãe dele e confirmou: "Mãe, eu passei". E fiquei muito contente. E tive mais força para ajudá-lo. Eu jamais pensaria em alguém da minha família chegar onde chegou - lembrou Francisco de Assis, emocionado.
Mas Filipe chegou lá. Defende o time Sub-20 do Santos, mas quer ir além. Ele sonha em chegar ao profissional do Peixe e vestir a camisa 1 do mesmo time que, ao longo da história, já abrigou vários craques reconhecidos mundialmente.
- É um orgulho jogar onde Neymar jogou, Robinho, Pelé, Pepe e outros. É uma satisfação. Quando cheguei lá pela primeira vez, eu olhei ao redor e falei: "Cara, eu não estou aqui, não. É mentira". Meu maior sonho hoje é vestir a camisa número 1 do Santos profissional. Estrear no profissional e, se Deus quiser e jogar na Seleção Brasileira também, que é o meu maior sonho.
E, logo no início da carreira, Filipe fez uma promessa para o pai, que, ao lado da mãe, são os dois maiores fãs e incentivadores da carreira do garoto.
- Desde que ele começou que ele me diz isto: "Pai, eu vou ser o melhor goleiro do mundo" - revelou Francisco de Assis.
- Eu fico emocionada pela batalha. Pelas dificuldades pelas quais ele passou e que eu passei junto. Então, hoje, para mim, é uma vitória, porque só eu, ele e o pai sabemos pelo que ele passou para meu filho chegar onde ele chego - finalizou Adriana da Costa.

Por Globo Esporte PB

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