Lais Souza estava esperando pela confirmação da vaga nos Jogos de Inverno de Sochi (Foto: Reprodução/Facebook)
O primeiro contato com a ginástica artística foi aos 4 anos, em sua cidade, Ribeirão Preto, no interior paulista. Não demorou muito para a menina, que tem um irmão mais velho e uma irmã mais nova, começar a se destacar. Aos 13 anos, já fazia parte da seleção brasileira e virou uma das pupilas do técnico ucraniano Oleg Ostapenko. Foi neste período que precisou trocar o aconchego da família no interior paulista por Curitiba, no Paraná.
A estreia olímpica foi em Atenas 2004, com apenas 15 anos. Ao lado de suas colegas de seleção, Lais terminou em nono lugar na classificação geral por equipes, melhor resultado do Brasil até então. No ano seguinte, brilhou na etapa da Copa do Mundo, em Stuttgart, na Alemanha, ao conquistar o lugar mais alto do pódio no salto. Em 2006, seguiu embalada e chegou bem perto da medalha no Mundial de Aarhus, na Dinamarca, com o quarto lugar no salto. Pela segunda vez consecutiva, foi uma das finalistas do Prêmio Brasil Olímpico.
Nos
Jogos Pan-Americanos Rio 2007, subiu três vezes ao pódio (prata por equipes e
dois bronzes nas barras assimétricas e no salto). No ano seguinte, em Pequim 2008, participou
pela segunda vez dos Jogos Olímpicos de Verão. E também pela segunda vez garantiu a
melhor posição por equipes, um oitavo lugar, ao lado de outros destaques da
ginástica artística, como Daiane dos Santos, Daniele Hypolito e Jade
Barbosa.
Lais
poderia seguir dando saltos cada vez mais altos, mas as constantes lesões
atrapalhavam suas metas. Desde 2004, a ginasta
enfrentava verdadeira guerra contra as intensas e consecutivas lesões. Depois das
Olimpíadas da China, porém, não deu mais para driblar as fortes dores, e ela
precisou se afastar dos ginásios para cuidar da saúde. Nesse período,
chegou a pensar na aposentadoria.
De
2008 a 2012, passou por várias cirurgias. Em uma delas, sofreu
infecção, que enfraqueceu a estrutura óssea e a obrigou a passar por nova
operação para pôr sete pinos e uma placa na coxa direita. Mas o momento
mais delicado, no entanto, ainda estava por vir. Lais precisou tomar a difícil
decisão de realizar uma osteotomia (incisão do fêmur para corrigir a anomalia
óssea), operação delicada, que poderia ter encerrado de vez sua carreira na ginástica.
Precisou andar com ajuda de muletas em vários momentos de sua recuperação
(quase dois anos no total), engordou 6kg, mas conseguiu se recuperar.
A
volta por cima tinha tudo para ser perfeita. Em 2012, voltou a competir e
garantiu vaga nos Jogos Olímpicos de Londres, no lugar de Jade Barbosa,
não convocada por problemas contratuais com a Confederação Brasileira de
Ginástica. Mas, apenas duas semanas antes do início das competições na
Inglaterra,
a ginasta sofreu uma lesão na mão direita após queda em um treinamento
na cidade de
Ipswich. O corte foi inevitável, e Ethiene Franco foi chamada em seu
lugar.
De volta ao Brasil, Lais passou por uma cirurgia na mão direita. No início de
2013, voltou para o centro cirúrgico para tirar a placa e os sete parafusos que
tinha colocado na coxa direita, em 2011, por conta do enfraquecimento de sua
estrutura óssea. A 13ª cirurgia em dez anos fez a
ginasta repensar sua carreira mais uma vez.
Um convite
inesperado, no entanto, surgiu quando estava afastada das competições e
sem
saber se voltaria a se dedicar à ginástica. De olho em aumentar o número
de participantes nos Jogos Olímpicos de Inverno, a Confederação
Brasileira de
Desportos na Neve (CBDN) chamou as ginastas Lais Souza e Josi Santos
para a seletiva de esqui aéreo. Experiente em acrobacias, a dupla
atendeu às
expectativas nos testes feitos em São Roque, em maio, e, desde então,
passou a
se dedicar ao esporte na neve.
Nesses oito meses
de treino, Lais foi se acostumando com o novo cenário e aprendendo a conviver
com o medo de fazer acrobacias no ar com esquis nos pés. A campeã olímpica
Maurren Maggi revelou na última terça-feira a apreensão da amiga, principalmente
depois do acidente com o ex-piloto Michael Schumacher. Ainda assim, no fim do ano passado, ela começou a competir na neve e
logo garantiu sua primeira medalha, um bronze no Campeonato Nacional dos Estados Unidos, em Park City,
em Utah.
Ginasta foi bem na seletiva e, em junho, passou a se dedicar ao esqui (Foto: Mauro Horita)
A vaga em Sochi e, com ela, o possível retorno aos
Jogos Olímpicos estavam cada vez mais perto. Com as desistências já confirmadas de Estados Unidos e
Canadá, que abriram três vagas no evento feminino de Aéreos do Esqui Estilo
Livre, Lais e Josi se aproximaram da classificação.
Mas o sonho olímpico de Lais foi
interrompido por um acidente quando se chocou contra uma árvore quando esquiava na última segunda-feira em Salt
Lake City, nos EUA. Na terça-feira, Lais foi submetida a uma cirurgia para
realinhamento da 3ª vértebra da coluna cervical e cinco dias depois segue internada na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) Neurológica do Hospital Universitário de Utah.Com um "trauma severo na coluna cervical", a ex-ginasta ainda corre risco de morte, apesar de estar estável e consciente. Na quarta, a atleta apresentou uma melhora no quadro neurológico e já conseguiu mexer os ombros. Na quinta, passou por mais duas cirurgias, uma traqueostomia, onde sua traqueia ganhou uma abertura para facilitar a respiração, com ajuda de aparelhos, e uma gastrostomia, que consiste na colocação de uma sonda alimentar. Os médicos informaram que ela está se comunicando através do movimento dos olhos, por meio de um aparelho (Communicator Device Screen) instalado para facilitar a comunicação, mas admitem que ela pode não voltar a respirar sozinha.
Ainda na quinta, a mãe de Lais, Odete Souza, chegou a Utah para ver a filha pela primeira vez após o acidente. Na sexta, em mais uma visita de dona Odete, a atleta foi colocada sentada pelos médicos e conseguiu se manter nessa posição. Ela teve uma pequena melhora cardiovascular, mas não há previsão de um novo boletim médico.
Nos próximos dias, Lais receberá um marcapasso no diafragma para ajudar na respiração. O aparelho será colocado entre o peito e o abdômen. Os fios instalados provocarão pequenos choques que vão estimular a região, ajudando a contrair os músculos.
Em meio às notícias do acidente, a CBDN confirmou a classificação de Lais e Josi para os Jogos de Sochi. A confederação conversou com Josi para consultar sobre as condições emocionais da atleta e só depois bateu o martelo sobre a participação dela na Rússia. Em mensagem em uma rede social, Josi prometeu competir em Sochi pela amiga.
Brasileira agora tenta se recuperar de grave acidente nos Estados Unidos (Foto: Mauro Horita)
Globoesporte.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será publicado em breve após ser analisado pelo administrador