Mayssa estava perto dos 20 anos e já era uma boa
goleira de handebol, em João Pessoa, na Paraíba, quando foi descoberta
pelo empresário
Antônio Manoel, dono de um clube de handebol de Portugal. O lusitano
conheceu o pai da atleta, Marcelo Pessoa, e disse que a jovem era uma
“joia do esporte”, na idade certa para ser lapidada como uma
campeã. Antes de migrar para a quadra, Mayssa tinha feito sucesso no
handebol de praia, sendo,
inclusive, campeã mundial da modalidade. Foi justamente nesta época que
ela chamou a atenção do português, que queria levá-la para a quadra,
dessa vez na Europa. E como a versão praia do esporte era
amadora, a goleira viu a transição com bons olhos.
O
empresário, contudo, disse que infelizmente não poderia levá-la a
Portugal porque ele só contratava atletas universitárias. A goleira, então, que nunca tinha gostado muito de estudar e se
atrasara no colégio, mas convicta de que aquela era a sua grande
chance, se trancou num quarto, começou a estudar e em pouco tempo
tinha feito o supletivo e passado no vestibular. Uma vez
universitária, pôde finalmente ser contratada pelo clube europeu.
Contrato este que representou o fim de sua dependência financeira
(até então eram os pais que custeavam todos os gastos com o
esporte) e lhe abriu as portas para jogar entre as melhores do mundo,
no que foi decisivo no futuro para que ela integrasse a seleção
brasileira de handebol que, no último domingo, conquistou o
inédito título mundial da modalidade (ela é a primeira campeã
mundial tanto na praia quanto na quadra).
A delegação campeã mundial desembarcou nesta terça-feira no Brasil,
mas a goleira paraibana ficou na Europa. Ela teve que se juntar
imediatamente ao seu time, para participar de uma das competições que o
clube participa neste fim de ano. Ela tem jogos marcados para os dias 26
e 28 e só deve chegar ao país no início de janeiro.
Mayssa é a primeira mulher a conquistar o título mundial na quadra e na praia (Foto: Cinara Piccolo/Photo&Grafia)
A
história quem conta é o próprio pai, emocionado, ressaltando que
não tem um dia que ele lembre desta história sem se emocionar por tudo o
que passaram juntos - ele, a esposa Lívia e as filhas Marsella e
Mayssa. E o esforço não foi em vão: a filha e goleira hoje integra o
melhor time do mundo do handebol feminino.
Marcelo Pessoa: o 'paitrocinador' de Mayssa no começo da carreira da filha (Foto: Arquivo Pessoal)
- Para
mim, isso mostra como ela era focada e determinada neste sonho de ser
jogadora de handebol. Mayssa sempre se destacou nos times escolares
que jogava, mas até chegar à seleção brasileira precisou
enfrentar muitas dificuldades – destaca o pai.
No
início, no Colégio Lourdinas, de João Pessoa, Mayssa jogava todo
tipo de esporte: vôlei, basquete, futsal, futebol de campo e
handebol. Era boa em todos, e chegou a pensar em largar tudo para
tentar a sorte nos gramados. Foi a sua primeira treinadora, Rossana
Marques, que percebendo seu potencial impediu que ela fizesse a
migração.
Mayssa foi eleita a melhor goleira do mundo no Mundial de praia em 2005 (Arquivo Pessoal)
- Cheguei
nela e disse: "você não vai sair nunca do handebol". Sabia desde o
início que ela ficaria no esporte. E se fosse para ser atleta, que fosse no handebol. Na modalidade eu sabia que ela tinha
chances de realmente chegar longe – declara a treinadora, que, mais
de duas décadas atrás, levou Mayssa ao primeiro título de sua
carreira, o Campeonato Paraibano Mirim de Handebol.
Ao se tornar adulta, contudo, Mayssa sofreu com a falta de espaço nos grandes clubes e na seleção. Foi
quando Rossana levou a menina para jogar handebol de areia. Mayssa
rapidamente chegou à seleção e foi campeã mundial em 2005, sendo
eleita a melhor goleira daquela competição.
- É
engraçado, mas quando começou a arrebentar na quadra Mayssa não
era conhecida, porque ela jogava no Nordeste, um centro esportivo
pouco conhecido e sem nenhum apoio. Ela sofreu muito, sem dinheiro e
sem ajuda de ninguém a não ser da família. Mas foi na praia que
ela ficou conhecida e chamou a atenção de todos. Foi a praia que
abriu as portas para ela fazer sucesso de fato nas quadras –
declarou.
Marcelo
Pessoa, o pai, fala mais um pouco deste início sem apoio. E diz que
fez muitos sacrifícios para que ela seguisse os treinos:
- Todas
as viagens da minha filha eram pagas por mim e por minha esposa. Não
havia patrocínios. Ela tinha que viajar para competir em Fortaleza?
Lá íamos nós viabilizar a viagem. É por isso que tenho tanto
orgulho dela. Chegou longe por méritos próprios. Conquistou o que
buscou alcançar desde o início – declarou.
Uma vez
na Europa, Mayssa não desperdiçou a oportunidade. Passou primeiro por Portugal, depois por
times da Espanha e da França até chegar à Rússia, onde atualmente
defende o HK Dinamo Volgograd.
- Mayssa
só sabia treinar e domir. Eu ficava irado. Brigava para ela ir
estudar. Mas no fim das contas, ela já sabia bem o que queria. Não
é a toa que é campeã mundial – completa o pai, num misto de bom humor e orgulho.
Mayssa em ação no Mundial da Sérvia (Foto: Foto: Cinara Piccolo/Photo&Grafia)
Mundial da Sérvia
No
Campeonato Mundial da Sérvia, conquistado pelo Brasil no último
domingo, Mayssa era reserva. Mas entrou em momentos chaves de alguns
jogos e acabou sendo peça decisiva do título. Na final, inclusive, no
segundo tempo, fechou o gol. E em um dos lances, a paraibana salvou um
contra-ataque sérvio que empataria a partida nos minutos finais.
Ao
longo da campanha, o Brasil venceu todas as nove partidas que disputou e
conquistou o título mundial de forma invicta. Com direito a duas
vitórias em cima das tricampeã olímpica Dinamarca e outras duas em cima
da anfitriã Sérvia.
Brasil - Pódio Campeão Mundial Handebol Feminino (Foto: Cinara Piccolo / Photo&Grafia)
Globoesporte.com/PB
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